Interessante.
Não sei muito bem até que ponto tudo isso tem a ver com jogos de tabuleiro! XD
De cabeça lembro de pouquíssimos títulos que exploram esse conceito, entre ele Os Maus Companheiros.
No jogo, o "chefe" distribui o saque realizado entre os jogadores, que são os "capangas".
O chefe distribui a pilhagem à vontade, da forma que julgar mais interessante e não necessariamente justa.
Então é preciso pensar bem sobre a maneira como fará a proposta de divisão, pois é algo que obviamente soara mais injusto para alguém. É virtualmente impossível fazer uma partilha "igualitária". Até porque, caso isso ocorresse, não haveria jogo. rs
Há ainda dois outros complicadores nessa história.
No jogo há sempre uma votação para validar a partilha. Uma espécie de juri (im)popular. rs
Além disso é possível subornar tanto o chefe quanto os capangas. O que levanta questões morais e éticas sobre até que ponto algo ser "justo" realmente importa, dado que o objetivo é só ficar mais rico mesmo, não importando qualquer escrúpulo. Sem contar que muitas vezes, ser justo ou injusto não é suficiente e nem mesmo eficiente para conquistar seu objetivo final. Dependendo da mesa, é muito mais interessante simplesmente ser honesto.
Mas daí, talvez o jogo perca um pouco da sua graça... Ou não, vai que essa é a grande reviravolta!
Para completar toda a dinâmica precisa ocorrer rapidamente porque não sabemos em que momento a carta "pintou sujeira" vai aparecer ativando assim o fim de jogo.
Acho esse jogo ótimo para ilustrar o poder lúdico dos jogos, de nos levar a um outro lugar e de nos fazer assumir outros papéis sociais, muitas vezes condenáveis.
Acho interessante verificar que suspendendo, ainda que momentaneamente, nossos preconceitos morais, criam-se naturalmente novos parâmetros e regras de comportamento silenciosas em conjunto. Um código de ética frágil, quase sempre subvertido, implícito. No entanto, parece que sem isso, nossa existência perde sentido e ficamos à deriva, "boiando"... sem saber como reagir apropriadamente.
Somos seres sociais e dependemos do outro. Mesmo quando esse outro está mentindo ou sendo injusto conosco, parece que dar sentido às coisas sozinho é muito difícil... quando não impossível!
O jogo é bastante criticável em certo sentido, ao meu ver, pois ele converte em brincadeira algo que pretensamente é muitos sério: o julgamento de valor.
O problema em si é que ele explora o conflito entre as pessoas e subverte a lógica da realidade sem promover necessariamente um debate sobre isso. E transforma o que seria uma atividade criminosa em algo "bacana"... Há um longa lista de pontos que poderiam ser trabalhados de maneira diferente no jogo, mas os autores literalmente decidiram converter o poder em "apenas um jogo". Sem qualquer pretensão além.
Até que ponto isso é interessante de fato? Uma grande bobagem, perda de tempo ou um expereimento social com alguma validade?
É possível "organizar" o caos e extrair daí alguma lição, algo útil para nosso cotidiano? Ou isso não importa?
Dane-se , pois é "apenas" entretenimento descartável!...
O que seria um entretenimento "justo"?
Deveríamos aceitar e incentivar um jogo que é praticamente um treinamento para se tornar um corrupto melhor, um grande manipulador de interesses?
Talvez eu esteja exagerando...e talvez essa seja apenas uma forma de extravasar um sentimento reprimido.
Então porquê as pessoas se divertem tanto com um jogo no qual elas podem fazer algo que elas mesmas condenam em seu dia a dia?
Porquê nos vendem o direto de ser um criminoso, ainda que de mentirinha?
Não seria issso um tanto... suspeito? rs
Eu comprei o jogo e não consigo responder com clareza essas perguntas. Só sei que tem algo de divertido nessa história. O quê exatamente... vai saber.
Alguém por favor esclareça a questão.
Fugi um pouco da discussão principal, mas suspeição e suspeita tem tudo a ver com justiça, eu acho!
Também gosto de jogos que exploram a lógica dedutiva por trás do ocorrido, exercendo um pouco do que seria o papel de juiz e também de investigador, a única maneira de conseguir determinar o que é suspeito e também duvidar da imparcialidade de quem faz o julgamento. Mas no geral, os jogos de dedução costumam ser muito simples e sequer tentam propôr algo que fuja do lugar comum. O que é uma pena.
Eu não conheço muitos jogos de tribunal... inclusive nem sei se configuram-se como um gênero. Muito menos se conseguem provocar alguma discussão do tipo.