Ziul::RaphaelGuri::
O problema (e vou tentar explicar de novo) é que a PESSOA FÍSICA que vende um jogo superfaturado NÃO É UM NEGÓCIO, Ziul. Por isso esse papo todo de "sistema capitalista, isso e aquilo" não se aplica da forma que muitos desenham. Se fosse um negócio precisaria estar atrelado à.práticas éticas (e também morais). Seria como dizer que ser cambista é ser um empresário correto. Vai me dizer que alguma loja, ao ver que o jogo está esgotando, aumenta o preço? Alguém aí já viu isso acontecer? Não. Isso só ocorre dessa forma no mercado informal por não haver respeito a políticas de precificação (onde acredito entrar o papo da moralidade do post) ou quando é um produto específico de tiragem propositalmente limitada (poderiam imprimir +1000 Black Lótus por dia se quisessem), pois é o MODELO do negócio. São coisas diferentes e, desculpa a sinceridade, não considerar isso é desconhecimento de causa ou tem algum tipo de ganho com isso.
Na postagem do Harmonies eu tentei (falhei acho) deixar clara essa diferença. Tanto que quando é editora que vende caro povo reclama, quando loja/editora vende com mofo povo reclama, quando a Ludopedia mexe em %, faz frete caro, limita mensagens e etc. o povo reclama. Então, se é assim, tão livre, (o que não é e ainda bem) deixem editoras venderem como quiserem, ao preço que quiserem e igualmente não reclamem das políticas da Ludopedia. Como o iuribuscacio bem aponta, é uma questão de onde vem o incômodo, ou seja, quando o autor é PESSOA JURÍDICA parece que tá tudo bem reclamar e é até incentivado, mas quando não é - tá errado reclamar, deixa o cara! E outra, a própria reclamação faz parte da autoregulação do mercado, assim como é o papel do discurso "não é essencial então não compre". Esse "não comprar" é também uma forma de impactar a relação oferta-demanda, então mesmo a afirmação "não compre" reforça a ideia de que "não é bacana vender mais caro", que é fundamentalmente a ideia que a postagem do autor inicialmente indaga. No fim, quem não compra e quem reclama fazem, cada um de sua maneira, a mesma função: sinalizar que algo está errado (no caso, o preço, mas poderia ser mofo, cagada de produção, etc.) - a diferença é apenas que alguns, como o autor do post, creditam a sua percepção de moral sendo o critério principal (e para uns pode ser só até "o jogo é ruim e por isso não vale x reais" - eu mesmo não compro um Monopoly nem se custar, lacrado e com nota fiscal, 20 mangos).
Por fim (cansei de bater na mesma tecla): capitalismo tem regra. Não é um oba-oba e é por isso que funciona (maomeno, mas é o melhor que temos), tanto que mercado paralelo, pirataria e afins são proibidos. É graças as regras desse mesmo capitalismo que nenhuma outra editora pode vender o mesmo jogo/produto só mudando o nome. Plágio é bem visto? É moral ou imoral? Essas questões também entram quando falamos de "liberdade" e "livre comércio" do jeito que alguns pintam. Esse é o ponto, pessoa física não está sob as mesmas regras de pessoas jurídicas. Essa é a injustiça, essa é a imoralidade e, finalmente, essa é uma exceção de regra ao tão defendido capitalismo, pois quem vende ao preço que quer, dribla o que realmente o capitalismo prega. Essa pessoa não é realmente capitalista, só mexe com dinheiro - o que são coisas bem diferentes.
Entendo seu ponto, e concordo em partes, mas não em tudo.
Veja que em momento algum do meu comentário eu disse "sistema capitalista isso e aquilo", não defendo sistema X ou Y, sinceramente só busco viver com o que ganho. Isso reflete na minha coleção, montei ela ao longo de 7 anos e tenho ao todo 45 jogos base, provavelmente no máximo uns 15 desses são de caixa grande. Não porque eu sou controlado, mas sou assalariado e pai de família, não sobra muito pra gastar com supérfluos.
Estou dizendo isso para reforçar que eu não defendo nem julgo sistema econômico, só tento sobreviver à eles. Por isso mesmo em meu comentário disse que só compro se achar que o jogo está barato. Vale salientar que isso é independente de quem está vendendo, seja PF ou LOJA ou a própria EDITORA, eu nunca compro jogo em lançamento, não pago preço cheio de jogo pois sei que daqui uns meses o preço vai abaixar, se o jogo não cair nas graças do público baixa mais ainda.
Jogo fez sucesso e esgotou? Paciência, não vou chorar por isso.
Isso é uma maneira sim de me posicionar contra aquele preço, é um preço que eu não posso ou não quero pagar, mas isso é válido tanto para "scalpers" quanto para lojistas/editoras. Ah, sobre lojista vender mais caro? Sim, tem lojista que fez/faz isso, inclusive Heat foi um exemplo claro de loja vendendo acima do preço de capa da Galápagos.
Não sei como isso funciona nesse meio, trabalho em farmácia e todo medicamento tem um preço tabelado, a CMED define um teto e nenhuma farmácia pode vender acima daquilo. Acredito que com os jogos é algo parecido, mas quem define o preço é a própria editora e não acredito que seja uma regra à ser seguida, é mais uma convenção comercial pois se a loja X anuncia mais caro que as outras, simplesmente não vai vender. Atenção que estou falando de PMC (Preço Máximo ao Consumidor), sem considerar descontos e afins.
Sobre os ditos "scalpers", será que isso existe no hobby a ponto de influenciar algo? Digo porque, todos sabemos que a grande maioria dos jogos lançados caem no esquecimento, nego desembolsar R$500,00 esperando revender por R$700,00, pagar 10% de taxa e ter R$130,00 de "lucro" depois é muito arriscado, não vejo alguém fazendo disso meio de vida. Acredito que quem pague mais caro do que o preço de capa em um jogo, ou é muito ansioso ou simplesmente tem dinheiro pra queimar.
Uma pergunta sincera, qual a diferença do jogo que esgotou ontem para o que está esgotado a mais de ano? Tudo que some do mercado e tem procura é valorizado, a partir de quantos dias/semanas/meses uma pessoa pode anunciar aquele determinado item acrescido do seu valor de raridade? Quem define essa métrica?
Vejo gente comparando essa prática com os cambistas, e não vejo ligação. Cambista compra ingresso para um evento único, que vai acontecer somente naquele momento, você provavelmente não terá outra oportunidade de participar daquele show especificamente. Isso sim eu acho ERRADO, inclusive não é só imoral ou amoral sei lá como também é crime.
Não acho que as coisas são assim por conta do capitalismo ou do que quer que seja, as coisas são assim desde os primórdios da humanidade. Se eu tenho algo que você quer, vamos negociar.
Obrigado pelas suas ponderações Raphael, é sempre bom discutir com gente bem argumentada e o principal, educada. Apesar de não concordar com você por favor veja que não desmereço seus argumentos, simplesmente tenho uma visão diferente, errada? Talvez, mas talvez nesse caso não exista certo ou errado (assim como muita coisa na vida).
Olá!
Você especificamente não trouxe mesmo a questão do "sistema X ou Y", peço desculpas se deu essa impressão. Minha resposta foi mais abrangente às falas gerais dos comentários, as quais acabam caindo no lance 'compra quem quer' e 'compra quem pode', além da explicação sobre 'ser um negócio' quando na verdade, oficialmente não é.
Justamente o fato de sermos assalariados, com responsabilidades e necessidades específicas e não sobrar grana para gastar com o que gostaríamos é parte importante da conversa. Você já teve jogos (produtos em geral) que gostaria de ter adquirido, mas o preço foi um impeditivo? Pois bem, o papo é justamente sobre quando esse preço impeditivo é derivado de uma inflação superficial criada por algumas pessoas, diminuindo a possibilidade de acesso, e não pelo fato de uma escassez real ou de um custo de produção e comercialização verdadeiramente cara. Tem jogo hoje em dia que ficou caro devido a uma normalização do quanto ele vale e editoras usam também isso como um dos termômetros na precificação, tanto que o mesmo vale para jogo 'flopado': tenta revender hoje um Blackout: Hong Kong, Alubari ou Red Rising pelo preço que foi lançado para ver se não vai ficar encalhado. O preço faz parte da percepção de valor subjetivo do produto. "Jogo flopou? Xii, deve ser ruim" passa pela mente de muita gente. Da mesma forma, encarecer um jogo pela escassez é uma forma de dizer "óoo, compra aqui comigo que ainda tenho e é tão bom que é o último e por isso você pode pagar o quanto eu estou cobrando" (inclusive é a mesma premissa do cambista que você trouxe e retomo mais à frente). Tanto que loja séria não faz isso de mudar preço pois o jogo está esgotando. É uma prática que pega mal para loja, então qual o motivo de alguns defenderem que não pega mal para o mercado informal?
Achar 'o jogo está barato' é um bom critério de compra, mas como todos os demais, é um critério individual. O FOMO é um problema, mas também acaba podendo ser um critério para alguém menos 'controlado' do que você e eu. Não estou dizendo que vamos resolver o problema dos outros, mas algumas vezes eles existem em decorrência da ganância, por exemplo, de alguns que querem burlar o sistema (ex.: alguém que não tem uma loja, compra para depois revender jogo para ter um lucro absurdo - e isso acontece com certa frequência, vide a quantidade de jogo sendo vendido como lacrado ou o famoso 'aberto para conferência' que é vendido mais caro depois de um tempo por pessoas físicas. Toda essa galera REALMENTE comprou e depois desencanou, se arrependeu? Se sim, qual o motivo de não vender pelo que pagou e empatar as contas?).
Sobre o lojista que vende mais caro, eu nunca vi. Não duvido de você que exista, mas deve ser loja pequena e não deve ser bem vista. Obviamente lojas praticam preços diferentes, umas mais baratas e outras um pouco mais caras, isso faz parte da precificação próprio que leva em conta um monte de coisas, mas nenhuma delas retém produto para, em momento de escassez, vender por quase o dobro do valor. Essa prática desleal é inclusive combatida pelo mercado. Nesse meio também existe preço sugerido, inclusive, não sei se sabe, mas existem grupos "SECRETOS" que vendem a preços quase de custo para driblar loja e quando editora (alegadamente) descobre gera punições, como não vender mais para determinado CNPJ ou CPF - e isso já aconteceu (e chuto que vai continuar acontecendo).
Também acho que em uma quantidade elevada não existem muitos 'scalpers' no hobby. O que existem são oportunistas (como no caso do Heat ou de Harmonies, que existiam anúncios de até quase R$500). Acho que justamente contra esse oportunismo que nasce a discussão de moral: não é proibido, mas será que pega bem? É só sobre isso no final das contas.
Uma resposta sincera: a diferença de um jogo que esgotou ontem para um esgotado a mais de um ano é só o marketing. Apesar disso, o valor de raridade e as métricas aplicadas são justamente frutos do meio. Justamente por ser fruto do meio que é preciso uma força contrária que diga, por A+B, "tá caro, não comprem, tão te sacaneando", ao invés de um discurso de "tá caro, mas tá tudo bem, quem quer que compre, o desavisado que se vire". Se cada um que comentou tivesse dito apenas 'é, não compro e acho que não pega bem', não teríamos chegado a tantos comentários, mas tem gente que acha que tá tudo certo e tá bom, faz parte. Será um eterno cabo-de-guerra sem fim que no final só quem ganha é editora que percebe que acrescentar alguns reais por mês é lucro garantido.
Voltando um pouco, eu, particularmente, acho que a comparação com cambistas está certa. Alguns jogos quando esgotam, realmente não temos previsão de quando voltarão a existir e a qual preço. O show é a mesma coisa. Paul McCartney ou Taylor Swift vão voltar ainda, só não sabemos quando. E veja, show não é nem um pouco essencial, tal qual um jogo. Ambos são uma mescla de entretenimento com arte. Se você, caro Ziul, acha que comprar um ingresso para um show mexe com uma pessoa diferentemente do que adquirir um jogo, peço que me explique exatamente quais os elementos psicológicos que diferem um do outro, pois para mim, são semelhantes (a criação de expectativa, a adesão ao movimento grupal, o senso de realização pessoal, a noção de participação, entre outras coisas, são semelhantes). Haaa e jogo mais antigo fora de mercado, o famoso OOP (out of print) faz jogo ficar mais caro tanto quanto lançamento hypado esgotado - se não mais.
Sua frase: "Se eu tenho algo que você quer, vamos negociar" acho perfeita. É isso. A questão é: será que ela se aplica mesmo se, a princípio, uma das partes já sai de uma premissa injusta? Se você, Ziul, tem um jogo anunciado a um preço justo, digamos que seja R$300 e eu chego para ti oferecendo R$150, você irá encarar minha oferta a princípio de bom grado realmente ou vai querer entender como cheguei naquele valor - ou até como fui tão cara de pau/"ousado"?
Finalizando, a questão aqui não é gerar punição para alguém. É muito diferente falar que 'Fulano é sacana por superfaturar jogo' e 'Sicrano é sacana por vender máscara em época de COVID por R$50", como outras pessoas trouxeram na conversa. O primeiro gera só um mal-estar e cria precedente para superfaturação, enquanto o outro está enquadrado em um crime à saúde pública.
Igualmente agradeço o papo. Também não desmereço seu argumento, inclusive acho de verdade que estamos do mesmo lado, apenas temos pequenas divergências no que tange a forma de construção do discurso. Só estou do lado inverso em relação aqueles que acham que está tudo bem alguém comprar um jogo e revender bem mais caro para se aproveitar da vontade alheia (como fazem os cambistas, aliás).
Abraços