Fala Pessoal!
Aqui é Thiago Leite e com o lançamento do Me Enganei!, resolvi contar e mostrar um pouco da evolução do meu primeiro jogo.
Desde que entrei no hobby em 2009, mal tinha jogado 3 primeiros jogos modernos (Battlestar Galactica, Agricola e Puerto Rico) ideias de jogos surgiam! E antes de mesmo de ter jogado o quarto jogo, já estava criando um jogo, comprei uma cartolina, sulfite, peguei peças do meu WAR do Star Wars: Episódio 1, e criei meu primeiro jogo, um jogo que tinha tudo o que havia me fascinado nesses jogos modernos: controle, escolhas, reviravoltas! Animado, fui rapidamente testar... e que "jogo" medonho, pavoroso... certamente Me enganei! em achar que estava pronto para criar um jogo!
Quase dez anos depois, com uma coleção de jogos, canal, cuidando e/ou participação em diversos podcast, e as ideias que surgiam, mas nunca eram trabalhadas, sequer anotadas. Em uma viagem, tive uma ideia de um jogo que eu acreditava que tinha potencial, porém não achava que eu estava pronto, precisava aprender a testar, precisava aprender a receber feedbacks, precisa aprender a iterar o processo até melhorar o jogo.
Julguei que o melhor era fazer isso com um jogo menor, que fosse mais rápido na duração das partidas, e mais rápido de entender todas as suas nuances, foi aí que rabisquei umas cartas brancas, apliquei umas duas premissas que eu havia pensado tempos atrás e que ainda lembrava de ideias soltas: Um jogador ter 3 cartas e declarar, em teoria, sua maior podendo blefar e as regras iram ser ligeiramente mutáveis ao longo da partida, preparei o jogo coloquei em uma caixa vazia de expansão e levei ele na minha sacola para o Evento Além do Muro:

um jogo sem nome (hoje com os diversos rabiscos de regras que entraram e saíram dele)
Esse jogo sem nome tinha cerca de 100 cartas (todas "desenhadas" à mão) e eram bem confuso, mas consegui ver que havia algo ali, embaixo do caos e confusão de regras, a parte do blefe estava cativando os jogadores, porém a frustação das regras mudando não. E caramba eram muitas mudanças não havia leitura.
A premissa era a mesma, mas pequenas regras mudavam muito a experiência, como o jogo não ser simultâneo, por exemplo.
Por um motivo ou outro deixei as ideias de lado. Até que o mundo parou! Se isolou na verdade, trancado em casa e trabalhando de home-office, pensei: "Por que não?"
Fiz uma versão digital das cartas, pedi ajuda ao Sanderson Virgulino, levei o jogo na OPON - Oficina do Playtest Online, testava com o Moises @moita, Bianca e nosso grupo da Playgunda (que virou Playterça), devido a esses dois grupos o jogo que tinha um nome nada convidativo mas que faziam as pessoas genuinamente falar "POXA, ME ENGANEI", virando uma piada interna que depois de um tempo vi que esse era um nome muito melhor. O jogo estava pronto, então levei ele no ProtoBR!

Já com o nome Me Enganei! mas com regras ainda bem diferentes, a primeira versão digital era bem feiosa! Porém o Nanico ali (que virou o pequenino! na versão final) já estava ali, quase igual ao da versão final.
A premissa ainda era a de 3 cartas na mão, declara a maior, e regras que poderiam mudar, porém o jogo falta algo as regras poderiam mudar de uma hora para a outra o que deixava o jogo muito confuso, e havia um grande problema de "runaway leader" ou seja quem sai na frente geralmente ganhava sem muito esforço, na minha visão isso era parte do jogo, mas Me Enganei isso era realmente um problema, lembro que o Rodrigo Rego me deu um bom feedback nesse quesito, mas o problema da confusão ainda era maior, eu esperava que se arrumasse isso o segundo problema não estaria presente (spoilers: Me enganei!). Outro ponto do preciso Rodrigo havia sido o tema, Me enganei! achando que um tema diferente poderia atrair, na prática só tomava minutos da explicação e não tinha relação nenhuma com o andamento do jogo, pelo menos isso eu percebi rápido e joguei fora o tema, e nem procurei outro, meu jogo ia ser um jogo de blefe e ponto final.
Achei que o jogo estava pronto! Mas Me enganei! (é a última vez que uso esse bordão neste texto, prometo!) o jogo tinha muito o que melhorar, foi ai que passei a testar várias ideias, tentei colocar apostas mas não resolveu nada e só pirou, mas resolvi jogar fora mais da metade das cartas de 110 cartas, reduzi para pouco mais de 40, os eventos que mudavam as regras permanentemente no jogo depois que entravam na partida se tornaram fixos desde o início e não estavam mais embaralhados dentro do mesmo deck, e fiz a variação a cada rodada ser dos números e não dos poderes, refiz a arte digital e cheguei no que é 95% do Me Enganei que está chegando às lojas:

Versão refeita por mim, a foto foi feita do protótipo que usavámos na meepleBR depois que assinamos o contrato, mas o pessoal da OPON e Playterça jogou muito com essa arte no tabletopia.
Agora as regras sempre eram as mesmas, porém o valor que as regras se aplicam mudam a cada rodada, o que permitia um entendimento de qual regra estava valendo, porém ainda mantinha o elemento do jogador se confundir e genuinamente jogar a verdade, achando que estava blefando ou vice-versa. além disso testei várias outras formas de pontuação, na versão anterior e na rabiscada à mão, a pontuação era a pilha de cartas à sua frente, agora era uma trilha de pontos.
De quebra quase resolvi o problema do jogo não ter reviravoltas e o líder poder ligar o "piloto automático", que foi a introdução do valor do blefe, que nessa versão iniciava em 2 e que poderia aumentar aumentando a tentação e a recompensa ao blefar.
Agora, sim o jogo estava bem próximo de terminar (sem spoilers dessa vez) e criei coragem para mostrar para a MeepleBr, mas eu não tinha tempo hábil para imprimir uma versão bonitinha do protótipo (a foto acima foi tirada bem depois desse dia), eis que as cartas rabiscadas voltam para caixa da expansão vazia para uma última partida, adequei as cartas para as regras atuais e levei para mostrar para a MeeplebBR:

(retorno triunfal das cartas rabiscadas! No dia eu dizia: "Ignorem as linhas pretas! Imaginem isso só que bonito rsrs")
As regras eram as mesmas que no digital, já o visual... Mas um jogo de blefe online precisava de alguns truques na plataforma que tiravam dinamismo do jogo, além de tirar boa parte do legal do jogo, que é o olhar nos olhos dos adversários, o apontar o dedo para seu amigo e nisso essa versão "rabiscada" física mostrou todo aquele potencial que eu havia visto lá no Além do Muro, mas agora com regras coesas e divertidas.
O Diego da MeepleBR, que na época já tinha assinado o Quest INC (meu outro jogo), se interessou muito pelo Me Enganei!, chamou sua filha para jogar conosco e dias depois amigos não tão inseridos no hobby, e o jogo repercutiu bem! De repente, já estava assinando meu segundo jogo (que furou a fila e acabou saindo antes que o primeiro!)
Depois começamos os últimos testes, quando o jogo saiu do 95% para o 99,5% e depois para os 100%, posteriormente houve a criação do nosso pequeno mascote "MINGA NEY" pela talentosa Andreza Farias, mas isso podemos deixar para outro dia!
Para finalizar, pulamos agora para quarta passada, quando recebi minha cópia final do Me Enganei!
Abrir ele foi, e ainda está sendo indescritível, ver e lembrar de onde ele saiu, para chegar aqui é algo que eu ainda não compreendo direito!

Versão final, com o tabuleirinho de pontuação integrando o valor de blefe.
Cartas roxas tendo seus valores sendo mudados pelos poderes!

A rodada seguinte com as cartas "escorregando" para a direita e revelando uma nova no começo da fila, umas coisas que eu mais gostei de mudar no jogo! Juntamente com o valor crescente do blefe.

Só pra mostrar os outros dois poderes que não apareceram nas duas fotos anteriores.
Me enganei! foi um jogo bastante desafiador de se criar, mesmo sendo simples, variou, mudou, foi pra gaveta, voltou, uma jornada longa e gratificante. Espero que quem jogue ele compartilhe ao menos em parte um tanto do quanto que eu me diverti criando-o. As vendas do Me enganei! começam amanhã dia 17, mal posso esperar pelo que vocês irão achar dele!
Mas e aí? Gostaram do texto? Querem que eu fale sobre algum ponto diferente? Algo não ficou claro? Comenta aqui!
Obrigado e até a próxima!
Thiago Leite.