patrickbnu::iuribuscacio::
Mas o que me preocupa mais ainda é que não duvido nada que daqui a pouco, nossas próprias gráficas tupiniquins vão se dar conta que nesse nosso hobby, papelão e plástico valem muitas vezes o seu peso em ouro. Só para citar um jogo que eu adoro, e só para ficar em um que vende igual água no Saara, uma expansão do Dixit são apenas 84 cartas, mas custa quase R$ 200,00. E existem diversos jogos em situação análoga.
Eu já vi gráfica famosa daqui imprimindo lotes de PNP, e tenho conhecidos que participam dessas chamadas "impressões coletivas", onde há intermediador de venda, lotes de jogos, vários títulos - para mim, isso é pirataria com outro nome, como intitulam. No final cada um sabe o que é certo ou não hehe
Caro
patrickbnu
Só para não deixar qualquer dúvida a respeito, eu não defendo de forma alguma a pirataria, porque tenho total consciência do quanto ela pode ser nociva a longo prazo para qualquer setor econômico. Os piratas não produzem nada, mas apenas copiam aquilo que outras pessoas gastaram dinheiro produzindo. Quando não valer mais a pena continuar produzindo, aí o setor econômico afunda, levando o pirata junto, porque ele não tem mais de quem copiar. Porém isso não é problema para o pirata, porque ele simplesmente passa a piratear outra coisa. Por outro lado, eu acho essa discussão super relevante, porque afeta a todos nós, e esse já é um problema real. Por isso eu acho que é fundamental discutir a respeito, porque a pirataria pode ser "vantajosa" em um primeiro momento e para um único indivíduo, mas ela é muito prejudicial e perigosíssima para a coletividade.
Dito isso, meu camarada, eu não sei que gráfica é essa que você citou, mas não tenho a menor dúvida de que isso já está acontecendo conforme o seu relato. Porém, eu estava me referindo à pirataria pesada organizada, com jogo sendo vendido em lojas de produtos chineses, que existem aos montes nas grandes capitais. Isso ainda não acontece no nosso país, pelo menos por enquanto.
Além disso, a cópia pirata sendo produzida aqui, exclui o risco de taxação de uma cópia pirata importada. Claro que a comunidade boardgamer em geral repudia a pirataria porque as pessoas prezam pela qualidade, e valorizam os jogos. Diferentemente do grande público, os boardgamers não veem os jogos como brinquedos, e por isso entendemos que o custo não é o mesmo. Ninguém põe sleeves em cartas de versões atuais de Detetive (edições originais dos anos 70, como é o caso da minha versão, aí é outra conversa). Mas eu fico pensando na seguinte situação hipotética, um amigo que não conhece os jogos modernos vai na minha casa, joga o Ticket to Ride ou o Splendor, se encanta com o jogo, mas fica espantando desses jogos custarem entre 300/400 reais. O sujeito gostou muito dos jogos mas para ele, cujo parâmetro de jogo de tabuleiro é o Detetive da Estrela de R$ 90,00, esses preços estão fora de questão. Um belo dia o sujeito está andando na rua, e se depara com uma dessas lojas de artigos chineses vendendo cópias alternativas do Ticket to Ride e do Splendor por R$ 100,00. Eu não tenho dúvida de que o sujeito não vai pensar duas vezes, porque lá está o jogo que ele gostou, e a um preço que ele pode pagar.
Outro fator que pesa é que a qualidade das cópias piratas nem sempre é essa porcaria toda, que a gente pensa. Tem cópias muito ruins, mas tem cópias que podem não ser a mesma coisa, mas chegam bem perto, da qualidade do produto original. Tanto assim é que algumas pessoas, aqui mesmo no tópico, relataram que compraram cópias chinesas no seu início do hobby, e jogavam essas cópias tranquilamente.
E é aí que entra o meu receio de que a tentação seja muito grande para quem é boardgamer, que quer comprar o jogo original, mas não consegue bancar esses preços absurdos de hoje em dia. Imagina que o Heat, que todo mundo está tendo um faniquito para comprar, saia por R$ 600,00 (isso é só um hipótese), e aí o camarada fica só na vontade porque não dispõe de tanto dinheiro assim. Um belo dia o sujeito está andando na rua e se depara com uma dessas lojas de artigos chineses vendendo cópias alternativas do Heat por R$ 100,00. É por aí... Uma coisa leva a outra e quando formos ver, uma quantidade enorme de pessoas que poderiam continuar comprando jogos originais, talvez reflita que se as editoras estão cagando se boa parte da comunidade boardgamer não pode arcar com os preços elevadíssimos, então elas talvez devam cagar para as editoras e começarem a comprar cópias piratas.
Só para finalizar, eu gostaria de recordar a triste história da indústria fonográfica. No início, o sujeito que quisesse ouvir música só tinha duas opções: pagar caro pelos discos de vinil ou gravar fitas cassetes de baixíssima qualidade. Nessa época, a indústria fonográfica não estava nem aí para os consumidores e cobrava o quanto queria pelos discos. No momento em que surgiu a Internet, o Mp3, bem como as cópias piratas dos Cds, que mudaram totalmente as regras do jogo, e as pessoas deixaram de ficar exclusivamente na mão da indústria fonográfica. Foi só aí, que a indústria fonográfica resolveu se preocupar em falar de preço justo e como baratear o preço que cobrava pela música. Mas aí já era tarde demais, porque as pessoas pensaram, com certa razão que, quando a indústria fonográfica tinha todas as cartas na mão, ela não se preocupou comigo, agora que as cartas estão na minha mão, eu não vou me preocupar com a indústria fonográfica. E o resto é história. E olha que mesmo sem as grandes empresas da indústria fonográficas não tendo hoje, nem de longe, o poder que tinham antes, nem por isso as pessoas deixaram de produzir música e de viver disso. Hoje grandes artistas ganham muito mais dinheiro com shows do que propriamente com a venda direta da música.
Se eu fosse o diretor de uma editora nacional de jogos eu refletiria bastante sobre esse episódio.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio