“A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes”.
Hegemony Tá na Mesa!
Hegemony é um jogo criado por Vangelis Bagiartakis e Varnavas Timotheou em 2023. Para dois a quatro jogadores, com duração média de 3 horas, em Hegemony cada jogador controla uma classe social e deve conduzi-la para ter a hegemonia na sociedade.
- Luta de classes? Ameaça vermelha no ar! Com certeza é um jogo para a doutrina comunista!

Pelo amor de Ronald Reagan. Para de ver fantasma vermelho em todo lugar! Em Hegemony os jogadores controlam uma dessas quatro classes: Trabalhadora, Capitalista, Classe Média e Governo, e, através de suas influências, buscam a dominância sob as outras. Cada classe é muito diferente das outras, tanto que tem regras próprias. Cada uma joga de uma maneira diferente.Enquanto os Trabalhadores buscam empregar o máximo possível de sua população para, com seu salário, comprar bens e aumentar sua prosperidade, os Capitalistas querem abrir produzir pagando pouco e vendendo por altos preços e lucrar o máximo que der. Já a Classe Média está literalmente no meio. Tem empresas que produzem bens, mas, ao mesmo tempo, precisa trabalhar nas fábricas das outras classes ter recursos e aumentar sua prosperidade, já que o que produz não é o suficiente. E o Governo deve se equilibrar entre os problemas do país e atender os subsídios das outras classes. E todas querem propor leis que as beneficie.

- Que complexo. Tô fora.Isso. Nem tente mesmo. Nunca se esqueça do seu lema: “Desistir é para os fracos. O ideal é nem tentar”. Hegemony parece um jogo complexo (Nota do Sr. Slovic: E é mesmo), mas tem uma regra bem simples. No seu turno o jogador deve jogar uma carta e, se possível, fazer uma ação livre. Bem fácil, não? Não! Ao jogar uma carta, o jogador pode usar o texto dela (Nota da Sra. Slovic: Cada classe tem cartas diferentes. E são muitas) ou usar uma Ação Básica (Nota do Sr. Slovic: Cada classe tem ações distintas. E são muitas). Abrir empresas, exportar, comprar serviços do governo com subsídios, aumentar sua legitimidade, enviar recursos para paraísos fiscais, conseguir dinheiro do Estado, fazer greve, fechar fábricas, automatizar a produção, importar sem pagar impostos… É tem muita coisa.

O jogo se passa em cinco rodadas. Em cada uma o jogador tem cinco ações para fazer. Depois as fábricas produzirão bens e servições, os empregados receberão seus salários, a população terá suas necessidades atendidas, todos pagaram impostos para o Governo, acontecerá votação caso alguma mudança de lei foi proposta e segue para a próxima rodada.
- Tem tudo isso? Só falta dizer que o FMI está no jogo!
Claro, pequeno rascunho de Black Bloc. Como um simulador politico econômico-social tão ajeitado poderia deixar de fora o temido Fundo Monetário Internacional? (Nota do Sr. Slovic: Toda classe tem um bicho-papão no jogo. E esse é o do Governo). Nenhuma classe pode deixar de pagar suas dívidas. Para que isso não aconteça, elas pegam empréstimos, que dão um pouco de dor de cabeça durante a partida (Nota da Sra. Slovic: E rendem pontos negativos no fim da parida, caso não sejam quitados), mas para o Governo, o buraco é bem mais embaixo (Nota do Sr. Slovic: Literalmente o fundo do poço). Todo fim de rodada é checado quantos empréstimos o Governo tem e, dependendo da lei fiscal em vigor, o FMI atua, mudando totalmente a partida. E deixando a vida do Governo bem complicada.

Falando em leis, há sete politicas no jogo, que regem as regras da tributação, imigração, comércio exterior, salário, fiscal, saúde e educação (Nota do Sr. Slovic: Ou seja, quase tudo em jogo). Para serem alteradas, algum, jogador deve propor uma mudança, que normalmente será votada no fim das rodadas. Mas há meios da votação ser imediata, o que pode mudar o planejamento de todos e criar inimizades entre as classes (Nota da Sra. Slovic: Como se já não houvesse esse clima de paz e amor entre irmãos).

Cada classe pontua de uma maneira diferente e em momentos distintos. Os Trabalhadores ganham pontos quando conseguem aumentar a Prosperidade de sua população (Nota da Sra. Slovic: Ou seja, quando gasta Saúde, Educação e/ou Supérfluos) e com a manutenção de Sindicatos. A Classe Média também precisa aumentar sua Prosperidade, mas além de gastar bens e serviços para isso, pode crescer no fim de cada rodada dependendo da quantidade de empresas aberta que tenha. Os Capitalistas só precisam de uma coisa (Nota do Sr. Slovic: Lucro. Compre na baixa, venda na alta). Quanto maior seu Capital acumulado no fim da rodada, mais pontos ganha. E, por fim, o Estado precisa de Legitimidade, que é uma medida de quanto ele ajudou os outros (Nota da Sra. Slovic: O Estado tem que ser bonzinho com todos, ao mesmo tempo que é sacaneado por todos) e não adianta focam o auxílio em uma classe. Só pontua os dois menores valores da trilha.

No geral, Hegemony é um grande jogo. E em vários sentidos. Em tempo de partida, complexidade, interação entre os jogadores, componentes… Não é um jogo para todos, principalmente para quem não curte jogos mais pesados como Dominant Species, Kanban e Terraforming Mars. São muitos detalhes, cada classe tem suas próprias regras (Nota do Sr. Slovic: Quem conhece Root abe do que estamos falando), tudo o que um jogador faz afeta os outros. Em suma, é um jogão. Mas não livre de defeitos. Infelizmente o jogo só roda direito com mesa cheia, ou seja, precisa de quatro jogadores dispostos a participar dessa longa jogatina (Nota da Sra. Slovic: A caixa diz 180 min, mas passa das 4 horas com facilidade. Mas o jogo é tão bom que você nem percebe). Sem, tem regras para dois e três jogadores, além dos automas, mas a experiência fica prejudicada. Hegemony é uma aula de economia, sociologia e politicas públicas em um só lugar. Dá para perceber como se movimentam as engrenagens da sociedade e como uma classe não vive sem as outras.
E é isso, Shishô!