""Não tenho resposta, mas proponho discutir a seguinte pergunta: Por que nós aceitamos determinadas situações e outras não, dentro da perspectiva ética/moral dos jogos de mesa? Pelo que pude pesquisar, a maioria dos jogadores de mesa modernos aceitam exterminar outros seres humanos com um tiro na cabeça em jogos de guerra ou colonizar outros povos, mas não aceitariam jogos onde se tortura ou mata-se crianças, por exemplo. Parece que há um limite onde se pode ir para conseguir diversão, assim como há um limite para abstração da violência e de crimes que podemos virtualmente causar estando “na pele” de personagens violentos e atrozes.""
Olá. Muito bacana o texto. Fiquei pensando nessa questão e gostaria muito de dar minha resposta.
Nós aceitamos determinadas situações nos jogos de tabuleiro e outras não porque, na minha opinião, elas não nos remetem a algo explícito dentro do jogo.
Por exemplo: Mombasa teve seu tema refeito pois devido a sua história sangrenta e triste, o deixava sensível para muitas pessoas. Seu sucessor, Skymines, fsz a mesma coisa porém, na lua.
Levando ao pé da letra, naquele houve um quase extermínio de toda um povo para gerar lucro a outro. Nesse, a ocupação de um pedaço do satélite da terra pode acabar com toda a vida do planeta. Afinal, alterar de alguma forma nosso satélite que influencia nas marés e algumas outras coisas no nosso planeta, pode levar a extinção não apenas da raça humana, como de quase tudo o que é vivo e não consiga se adaptar as mudanças.
Um infelizmente ocorreu e o outro é pura e simplesmente ficção. Mas não te leva a pensar sobre?
Terra Mystica, meu top 1 da vida... Você tem que transformar o terreno para um terreno habitável para sua raça. E toda a fauna e flora, todo o ecossitema ali existente?
Fury of Drácula: poxa, um jogador é o Drácula e tem quatro adultos querendo matar (é, matar) o Drácula. Ele quer apenas continuar vivendo pela eternidade. Pode-se matar o Drácula, para salvarmos nossa querida Mina Harker, dando tiros jogando água benta, instigando cachorros contra o Drácula? Será que em alguma página do manual está escrito que a morte do Drácula daria paz a sua alma e faria com que assim ele expiasse todos os seus pecados? Eu não lembro...
Albergue Sangrento: temos que matar os hóspedes para roubar seus pertences... É, nem vou falar nada desse.
Os exemplos são inúmeros, mas eu acredito que a aceitação se deve a generalidade da descrição da ação. Explico. Não está escrito matar, roubar, violentar, dizimar, assassinar. Ao invés disso, está escrito expandir, coletar, construir, mover, viajar.
Acredito muito que a aceitação se deva a esse tipo de genaralização das ações nos jogos.
E isso me leva a uma outra questão: jogar algum jogo desse tipo faz você se tornar automaticamente aquilo que você está representando?
Quando alguém joga The Resistance, as pessoas que são os traidores são realmente não confiáveis na vida real? Coup, onde você literalmente pode mentir (blefar é o nome bonito) para pegar três moedas. A pessoa faria isso também no dia-a-dia?
A pessoa que joga com o lado dos EUA no Twilight Struglle realmente odeia todos os orientais? No War, essa mesma pessoa jogaria uma bomba e mataria toda uma outra nação?
No Imperial 2030, onde você tem que pagar salário para os seus exércitos e ganha dinheiro pelos territórios conquistados. É muito mais vantajoso você enviar seus exércitos para conquistarem (matar, dizimar, violentar) um outro território e morrerem no processo para que se receba mais pelo controle e pague por menos exércitos vivos. Isso torna o jogador um crápula desgraçado sem coração?
Do fundo do meu coração eu acho que não. Se a pessoa já tem a tendencia para ser algo, ela será para o bem ou para o mal.
Eu respeito muito as pessoas que se incomodam com algo no jogo e se possível não coloco o jogo na mesa. Eu mesmo não jogo Coup e The Resistance por ver aflorar o pior de algumas pessoas e isso invadir a vida real.
Logo, já passei por experiências ruins e não quero repetí-las.
Não forço nada, mas também não me incomodo com essas coisas.
Para mim, é o jogo. E ele não me faz ser quem eu sou na vida real.