O tema é ótimo, mas creio que as motivações são bem mais diversas do que o texto original propõe, pois temos três papeis aí: autores, editoras e público. Vou tentar listar algumas que eu já vi, por experiência própria, de colegas autores e editores e também especulação. Vou aproveitar só para diferenciar umas coisas básicas:
⮚ Reimpressão: a tiragem do jogo acabou e a editora decide imprimir mais. Essa decisão é puramente da editora que quer atender a seu mercado ou algum mercado externo. Podem haver pequenas diferenças em função de localização.
⮚ Reedição/Nova edição compatível: o jogo tem mudanças marginais, mas bem evidentes. Alterações de design gráfico ou ilustração, alguns componentes ou módulos são removidos ou acrescentados. Reedições de localização também são comuns com uma mudança na produção (qualidade e forma dos componentes) ou mesmo ilustração. Essa é uma decisão da editora que licencia os direitos ou da sublicenciada.
⮚ Reedição/Nova edição incompatível: o jogo tem mudanças estruturais, super evidentes. Alterações fortes no design gráfico ou ilustração, vários componentes ou módulos são removidos ou acrescentados. A ideia é uma mudança de ruptura com a edição anterior para reacender o interesse no, praticamente, novo jogo. Essa é uma decisão da editora e é bem comum na FFG que tem uma equipe de criação dela.
⮚ Novo jogo da família/série: é um novo jogo, que usa um conjunto de mecanismos encontrados no original, mas acrescenta outros sistemas de pontuação e interação para criar uma experiência nova, mas familiar a quem jogou o original. Essa decisão pode partir tanto do autor já que não é incomum ter vários módulos cortados durante a criação/publicação de um jogo, que são promissores, mas sobrecarregam o projeto. Com o sucesso de uma versão, essas ideias podem ser novamente revisitadas e retrabalhadas pensando que a primeira barreira de aprender o jogo original já vai dar a sustentação para explorar esses caminhos alternativos. Mas depende da editora querer ter mais um jogo na série. Também pode partir da editora: ele quer a mesma experiência e pegar o nome do produto original, que vai ter apelo com quem já comprou o original. Daí ela encomenda ao autor, ou caso ele não queira fazer, contrata um outro coautor para desenvolver sob a supervisão do autor original.
Cabe aqui falar o óbvio: cada autor tem um perfil assim como cada jogador também tem. Tem os que gostam realmente de tirar leite de pedra, sabendo profundamente de um sistemas, normalmente o pessoal com background de TCGs; e tem os que gostam realmente de criar sistemas novos. O Matt Leacock do Pandemic mesmo, citado aí acima, é um autor que gosta de criar novos e as variações são quase todas em coautoria com outros autores (que são os lead designers em boa parte deles). Então não dá para colocar todos eles no mesmo saco, pois seria injusto com um lado ou com outro em supor as motivações. Aqui no Brasil tem o Teruya, que explora bem vários sistemas e o Rodrigo Rego que atua das duas formas: explorando novos sistemas e explorando o nicho de trivia. Mas aqui ainda há uma forte barreira para a edição, pelo baixo investimento em jogos nacionais. E para editoras também podemos falar quase a mesma coisa: temos as editoras que buscam novidades, as que alimentam bem os gansos dos ovos de ouro e as que investem tanto na inovação quanto na exploração de marcas estabelecidas (a Grok como melhor exemplo). E PJ muda o perfil de acordo com quem está dando as cartas no momento, a exemplo da Devir Brasil de hoje que é completamente diferente da Devir Brasil de décadas atrás.
⮚ Jogo reimplementado na forma de board/card/dados: é um novo jogo, que usa um pequeno conjunto de mecanismos ou tema do original. Novamente, do ponto de vista de editora, é pegar o vácuo de um produto existente, ou mesmo só o tema (pra que escolher outra região/cidade européia para fazer VP?). Vai ser criado para ter uma nova experiência com as características de manipulação dos novos componentes. Também pode partir por encomenda, do autor original ou de outro autor (se a editora conseguir costurar as partes).
⮚ Jogo edição de luxo: é um jogo existente que pega em um outro perfil de jogador: o que gosta da parte tátil/estética/exclusividade dos jogos e dá muito valor a isso (a ponto de virar um gasto). Pode ser o mesmo jogo, só com qualidade de produção maior ou ilustração diferente (tá claro que produção é diferente de ilustração né?) e, se quiserem pegar o público que se preocupa com o jogo em si, incluem módulos exclusivos.
⮚ Jogo edição popular/acessível. "demake" de um jogo existente que pega em um outro perfil de jogador: o que quer algo mais barato. A ideia é da editora de ampliar o alcance de um jogo, sua mobilidade e quem sabe, a pessoa compre o jogo grande depois. É uma decisão de produção e o designer no máximo só vai aceitar ou não uma abordagem assim.
Provavelmente eu esqueci alguma outra forma de um jogo receber uma variante de algum multiverso, mas essas aí foram as que consegui juntar aqui. É legal ver a visão da galera, especulações e tal. Mas o @fantafanta bate em um ponto importante que também mencionei ali em cima: perfil de jogador. Talvez o ponto mais importante e é o que motiva toda essa conversa. Os jogos são sim criados como uma forma de expressão dos autores e são arte e engenharia sim (outro ponto espinhento). Mas são transformados em produto por uma editora (quando não autopublicados) visando um perfil de consumo ou de jogador. Os autores mais bem sucedidos hoje (em matéria de contratos e vendas), conseguem criar já pensando nisso e agilizar o processo para a editora. Entretanto, nem todo jogo que sai é para todo mundo.
Repare que direta ou indiretamente (via internet):
- Você conhece alguém que gosta de jogar sempre a mesma coisa.
- Você conhece alguém que quer jogar a mesma coisa, mas gosta de se surpreender com uma pequena novidade.
- Você conhece alguém que não consegue jogar o mesmo jogo 3x, porque gosta é mesmo da novidade.
- Você conhece alguém que quase não joga, mas gosta de colecionar jogos com altíssima produção.
- Você conhece alguém que joga o jogo até desgastar.
- Você conhece alguém que tem mesa que pisca, usa sleeve duplo, e limpa as marcas de dedos do tabuleiro antes de guardar em um ambiente hermético em seu bunker antiatômico.
Cada produto que sai, miram em alguma pessoa assim, mas não em todas. Você pode só estar se preocupando demais com jogos que não são para o seu perfil do que os que são. Vai da energia que quer investir em procurar mais e melhor ou se está só se deixando levar por um canal (de vídeo, de texto ou de áudio) que você não gosta (e provavelmente nem consome), mas se incomoda de ler os títulos dos posts toda semana no fórum.