viniciusjf::
Essa questão de quantidade de material é um paradoxo, e falo isso como jogador mesmo.
Todo jogador de card game reclama ou já reclamou da quantidade de material lançado pela editora do seu, ou seus jogos favoritos. Mas sabe de uma coisa, eu joguei um TCG que tinha a proposta de lançar menos expansões por ano (cerca três na época em que o Magic lançava cerca de quatro e não tinha nada desse material adicional), o jogo era ótimo, mas no final das contas, sabe o que aconteceu?
Era horrível! Porque o meta ficava repetitivo rapidamente e o power level não subia a ponto de empolgar os jogadores. Aí começaram a lançar mais coisas.
Moral da estória: TCG vive de novidade. O povo reclama, mas se não tiver spoiler toda semana, perde o interesse.
Caro
viniciusjf
Mau camarada, nisso eu concordo totalmente.
Um dos grandes problema da sociedade moderna, em especial da brasileira, é que ninguém assume a sua parcela de culpa, por um problema que é de todos. O Brasil é o país dos políticos corruptos, e todo mundo reclama e se revolta com isso. Mas nenhum vereador, deputado, prefeito, dão golpes de estado. Eles são legitimamente eleitos, e normalmente reeleitos, pelas mesmas pessoas que reclamam da corrupção da classe política. Portanto, a culpa pelo mal da corrupção não é de uma entidade etérea, abstrata e distante, mas sim do Iuri, do Vinícius, e de todos os demais brasileiros e brasileiras, inclusive aqueles que não votam, achando que pelo menos não participaram desse circo, que são as eleições brasileiras. Mesmo você votando em branco, ou não votando, você também participa, mesmo que por omissão e é tão responsável, quanto as pessoas que elegem políticos corruptos, anos após ano.
Traduzindo isso para os cards e board games, é preciso entender também que o Magic The Gathering não é um jogo baseado em compra desenfreada, porque a Wizards of the Coast é uma empresa "malvada", criada para limpar as carteiras dos fãs de seu jogo. Uma empresa dá e age com base naquilo que o seu público alvo sinaliza. Quando Magic foi lançado em 1993, se as pessoas não tivessem se comportado como se sua felicidade pessoal, dependesse da compra da próxima edição ou expansão, certamente a Wizards of the Coast não teria adotado essa política de "algo novo toda semana". É só acompanhar o gráfico da imagem, para ver que a quantidade de material novo lançado a cada ano aumenta significativamente todos os anos, com pequena variação para baixo em alguns momentos. Portanto, isso acabou se convertendo em um sistema que se retroalimenta, ou seja, os fãs querem sempre material novo, o que faz com que a Wizards of the Coast lance material novo, que aumenta o desejo dos fãs, por mais material novo e assim por diante.
Acontece a mesma coisa com os board games, uma editora lança um jogo caro e mofado, as pessoas compram mesmo assim, o que sinaliza para a editora que ela não precisa se preocupar em melhorar o controle de qualidade, e pode lançar jogo caro e mofado, porque as pessoas vão continuar comprando. Eu não tenho a menor dúvida de que se o Heat ou o Food Chain Magnate vierem mofados, algumas pessoas vão reclamar e escrever diversos tópicos dizendo que isso é um absurdo. Mas a grande maioria, inclusive alguns desses que reclamam, vai comprar os jogos assim mesmo, ou pelo esperar o preço cair, e comprar o jogo ainda mais mofado, e achar que fizeram um ótimo negócio.
Por isso a culpa da situação em que o Magic chegou, em termos de excesso de material novo lançado todos os anos, bem como o problema dos jogos lacrados e mofados, não é apenas da Wizards of the Coast e das editoras nacionais de board games, mas também é nossa, de quem compra Magic e board games. E é fundamental que a comunidade de duelistas e de boardgamers desenvolvam essa consciência, e tomem alguma atitude a respeito. No caso do Magic a coisa é mais complicada porque o jogo é um fenômeno global, que não seria afetado por qualquer atitude de um mercado local, com o brasileiro. Porém, em relação ao mercado nacional de board games, uma nova postura por parte do público consumidor de pelo menos não aceitar jogos mofados, faria toda a diferença.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio