JV Roque::
Só um único ponto que acredito ter uma sutil diferença:
O movimento punk causou uma real e total ruptura em tudo que estava sendo feito no maisntream. Seja na música, nas vestimentas, nos hábitos (que de certa forma caminham juntos).
Aquele virtuosismo venerado por obras como as já citadas (e magníficas) "Supper's Ready" (do Genesis "de verdade") e "Close to the Edge" do Yes, além de exageros técnicos e estéticos (porém geniais) como o disco "Tales from Topographic Oceans" (também do Yes, sendo um disco duplo com uma música por lado de cada vinil), "Karn Evil 9" do Emerson, Lake & Palmer (e seus 30 minutos de duração), "Echoes" do Pink Floyd, o Jethro Tull e seu "Thick as a Brick" (disco com uma única música de 40 minutos, começando de um lado e terminando do outro), as apoteose que eram os discos e apresentações do Rick Wakeman, os experimentalismos do King Crimson, entre tantos outros (principalmente na Inglaterra e Itália) já não era mais a "bola da vez" da indústria fonográfica.
O punk, quando surgiu na segunda metade dos anos 70, foi um tiro no peito da música "mais trabalhada" e cheia de "não-me-toques" que estava em voga. Juntando com toda a fúria do proletariado da época e os constantes contrastes sociais, foi algo que mudou todo o status quo. E o punk originou vários outros estilos com essa nova vertente de pensamento. E apesar de nomes que viriam a despontar na então dilacerada onda progressiva, como é o caso do Rush (cuja fase mais progressiva foi justamente na época do declínio do estilo - metade final dos anos 70) e o Marillion no início dos anos 80, o progressivo, outrora extremamente popular, virou música de "nicho".
Caro
evieira e
JV Roque
Meu camarada Eduardo, parabéns por mais essa pérola de texto. Achei excelente o que você escreveu, e muito pertinente sua analogia entre o Fel Barros e o Malcolm McLaren, guardadas as devidas proporções evidentemente. Também pudera, com o Arthur Dapieve como professor, não se poderia esperar menos.
O único adendo que eu faço é que, minha opinião sobre o Rock Progressivo é mais na linha do que disse o JV Roque. Apesar disso ser um baita lugar comum, eu acho que reflete bem a verdade do que aconteceu no cenário da música jovem dos anos 70. Havia o Rock Progressivo com músicos talentosíssimos, verdadeiros virtuoses, que produziam uma música muito complexa, canções de mais de 10 minutos no mínimo, harmonias elaboradíssimas e obras superlativas. Não se produzia "uma música", mas sim um álbum inteiro em torno de um mesmo tema. Ouvir música era uma verdadeira experiência.
Mas o custo em talento era altíssimo porque evidentemente não é qualquer um que aprendeu a tocar guitarra no "mês passado" que consegue produzir algo desse nível. Então o Rock Progressivo era algo que a garotada curtia muito, mas que era um "produto dos deuses", restrito a uns poucos "afortunados devidamente bafejados pelas musas". Só que a garotada não queria vivenciar a música apenas passivamente, ela também queria participar ativamente, e aí ficava ruim, porque o Rock Progressivo na sua essência demandava muito estudo, dedicação e principalmente talento. E isso era ainda mais verdade entre as camadas mais pobres da sociedade norte-americana e do Reino Unido, onde os garotos não podiam nem sonhar em passar horas se dedicando a algo prosaico e não lucrativo como aprender música. Muitos garotos já precisavam se virar fazendo "bicos", para arrumar alguns trocados. A resposta a isso foi o Punk, com seus míseros, mas poderosos três acordes, e suas canções "porrada", de menos de três minutos, rápidas objetivas e contundentes, tal qual um soco na cara. Isso a garotada conseguia fazer, e mandar o recado que queria dar, sem precisar estudar 10 anos em um conservatório de música. Eu acho I Don't Care do Ramones (solenemente plagiada por Renato Russo em Que País é Esse), um exemplo claro disso, no melhor estilo "não estou nem aí, só quero tocar".
Esse formato caiu como uma luva, no momento certo. Primeiro por atender uma enorme demanda reprimida por parte dos jovens que queriam fazer música na garagem dos pais, com isolamento acústico de caixa de ovo. E segundo porque uma música de dois minutos e meio que faz sucesso e todo mundo quer ouvir é tudo aquilo que as rádios queriam e precisavam para colocar na programação. Em contrapartida, a muito bem lembrada "Thick as a Brick" do Jethro Tull, levaria um programa inteiro tocando uma única música e sem espaço para comerciais. É preciso lembrar também que no finalzinho dos anos 70 e durante boa parte dos anos 80 o rádio era o principal canal para divulgar e consumir música, especialmente a música jovem. A MTV acrescentou o elemento videoclip, mas por muitos anos o rádio ainda reinou absoluto, porque os vídeos eram muito mais caros de produzir e precisavam de uma televisão para serem consumidos, e rádio havia em tudo que era carro e nos famosos walkman da Sony. Tanto assim é, que somente as chamadas "músicas de trabalho" e que eram destinadas a se tornarem hits, ganhavam videoclipes. Isso foi o que aconteceu com diversos canções de Michael Jackson, Prince, Madonna, Culture Club, The Police, Whitney Houston, Queen, Dire Straits, Men at Work, A-Ha, Eurythmics, Duran Duran, Simply Red, entre outros dos principais expoentes da música pop dos anos 80.
Em virtude disso, era natural que as bandas de Rock Progressivo, e o próprio estilo, tivessem de se adaptar aos novos tempos. Era inviável, para as rádios tocarem músicas de 10, 15 ou 20 minutos, e tão complexas que só estivessem ao alcance de poucos. Isso para não falar que quando se tira uma canção de Rock Progressivo "raiz" de dentro do contexto do álbum, ela certamente perde um pouco da sua força e sentido. Com isso, algumas bandas principais, começaram a enveredar pelo caminho do "comercial", sendo muito criticadas por isso, pelos fãs mais puristas. Basta pensar em "That's All" do Genesis ou "Owner of a Lonely Heart" do YES, coincidentemente as duas de 1983.
Certamente ninguém vai negar que tanto Genesis quanto YES foram duas das maiores bandas de Rock Progressivo de todos os tempos, e que certamente continuaram a fazer muito sucesso e produzir muita coisa boa ao longo dos anos 80. Mas tão certo quanto isso, é que essa fase "oitentista" desses dois colossos do Rock, já não tinha muita relação com Rock Progressivo do início dos anos 70, quando Peter Gabriel ainda estava no Genesis, e Rick Wakeman no YES.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Também senti falta de uma menção aos fenomenais The Clash no texto.