Ficha do Jogo:
Freedom: The Undergroud Railroad é um jogo cooperativo com cara de euro (cubos, tokens, cartas...), que exige um forte controle de ações e recursos para a vitória. De um (solo) a quatro jogadores, representamos um grupo de abolicionistas que buscam levar famílias de escravos das plantações no sul dos EUA para o Canadá, precisando fugir dos caçadores que montam uma teia bem elaborada nas cidades do norte, onde a escravidão já não era tolerada.
Publicado em 2013 pela Academy Games, Freedom foi criado pelo designer Brian Mayer e possui partidas que duram de 1h a 2hs em média, de acordo com o total de jogadores. A dependência de idioma é mediana, por ser cooperativo e trabalhar com as cartas abertas durante a partida... basta um dos jogadores entender de inglês. O jogo possui um boa rejogabilidade, dado ao alto nível de dificuldade.
Visão Geral:
O tabuleiro é belíssimo, os tokens e cartas de excelente qualidade. Os cubos levemente envernizados. Freedom possui regras simples e poucos componentes, mas um nível de estratégia fascinante. Daqueles que ganhar na primeira partida, quase sempre implica em ter jogado com regras erradas. Ele foi planejado para ser estudado e ser difícil, o que dá tônus e rejogabilidade ao mesmo.
Em Freedom, existem cinco caçadores que se movimentam por trilhas definidas no tabuleiro, no início da rodada por ação de um par de dados, e ainda toda a vez que uma família de escravos se instala em uma cidade da sua rota. Literalmente eles formam uma muralha com movimentos constantes, difícil de transpor.
Cada cubo de madeira representa uma família de escravos que precisa ser levada ao norte, fugindo das fazendas escravagistas do Sul. Existe uma meta de famílias salvas para a vitória do jogo. Além disto, um limite de famílias perdidas, que pode abreviar seu trabalho como abolicionista.
Cada cartão de escravos perdidos é dupla-face, com uma versão fácil e outra mais difícil. A principio não parece nada tão desafiador no modo fácil... o range de família a perder é alto. O problema é que toda rodada o mercado de escravos entra com mais gente nas plantações, e se não tiver espaço disponível, eles vão para a nossa conta de famílias perdidas, o que fatalmente nos leva a derrota.
Isto cria um enorme problema para os jogadores. Para levar alguns poucos a salvo para o Canadá, gastamos muitas ações de movimento e alguns sacrifícios para distrair os caçadores. Mas os escravos caçados voltam ao mercado e no turno seguinte, às plantações.
Considerando que cada espaço comum no mapa só admite uma família por vez, com exceção de algumas grandes cidades ao norte, chega um ponto onde todos os espaços seguros ao sul ficam ocupados, gerando um congestionamento. Tipo, para sair com mais escravos da plantação você precisa literalmente entregar as famílias do front para os caçadores, que levarão elas de volta ao mercado e de novo a plantação.
Isto cria uma superlotação exponencial e um jogo que parecia simples encaminha para a derrota em duas ou três rodadas. O planejamento nas rodadas iniciais é fundamental aqui. É um jogo que demanda um certo estudo... o que é lindo para um jogo cooperativo.
Avaliação:
A dependência de idioma é algo curioso aqui. As cartas tem ações simples, e são abertas a todos na mesa. Então basta que alguém saiba inglês para indicar suas funções. Mas sem o inglês o jogo perde muito da sua imersão, pois existem muitos textos secundários nas cartas que contam a história abolicionista, fatos, leis e personalidades que explicam aquela realidade.
Freedom é um jogo sensacional e muito instrutivo. É um cooperativo de dificuldade alta, e que requer um alto grau de análise a médio prazo. A arte do jogo é fabulosa, toda contextualizada e com aquele formato elegante dos euros, que te passa sobriedade.
O tema do jogo é muito forte e trata de um assunto bastante polêmico, que tiveram repercussões históricas muito relevantes ao EUA e em muitos países do mundo, que foi a escravidão. Na minha visão, a escolha da arte e do material dos componentes traz uma atmosfera que ajuda a encararmos a temática do jogo com reflexão e seriedade. Freedom traz uma proposta madura e adulta como tema. Ele ajuda a entender os dilemas e dificuldades das ações abolicionistas na época.
É um jogo um tanto cruel e que traz decisões ao grupo de cunho moral e ético. Quando as suas ações estratégicas apresentam tematicamente a vida ou morte de pessoas aos seus cuidados, ter de sacrificar a vida ou liberdade de algumas famílias para o bem de um grupo maior, nem sempre nos deixam realizados ou plenamente satisfeitos. É recorrente terminarmos o jogo com a sensação de que se tivéssemos tomado outras decisões, mais famílias teriam sido salvas.
Muito recomendado. Um dos melhores cooperativos da minha coleção.