Mais um excelente texto, @evieira. Muito bem colocados os argumentos e Carcassonne foi uma excelente escolha de jogo para trazer essa discussão. Esse nível de competição, pra mim, que afasta muitos do hobby. As pessoas muitas vezes citam as brigas com amigos e familiares quando jogaram tal jogo e que foi a causa de se afastarem de jogar e de ter isso como lazer. É bem triste alguns relatos que já ouvi de pessoas que até tentaram, mas foram afastadas por causa do nível de competitividade de algumas pessoas da mesa.
A célebre frase do Reiner Knizia se aplica muito bem aqui:
"Não é sobre vencer. Quer dizer, eu quero vencer, mas vencer não é o mais importante."
O que o mestre queria dizer, nessa entrevista antiga dele, é que vencer tem que ser o objetivo sempre, mas não é o mais importante do jogo. O jogo é sobre a experiência, sobre o desafio, sobre o momento e a interação (com outros ou mesmo sozinho, você com o jogo). Você não pode jogar não querendo vencer, jogar de qualquer maneira, fazendo escolhas ruins de propósito, pois isso é mais uma ofensa ao seu adversário do que qualquer coisa. Mas também não pode querer vencer a qualquer custo; principalmente ao custo da diversão sua e dos demais.
Eu passei muito por esse aprendizado. Às vezes eu vencia e comemorava e tornava a experiência desagradável. Às vezes eu perdia e reclamava e a consequência era a mesma. Agora, isso não quer dizer que não possa ficar feliz com a vitória ou chateado com a derrota, mas o modo como você encara elas ou se manifesta sobre elas é importante também. Você pode perder por 100 pontos de diferença e ainda assim respeitar o jogo do seu adversário e parabenizá-lo pela partida. O famoso "GG" que se usa muito na comunidade online. Há muito tempo que não faço mais questão de vencer, mas de jogar e ter boas experiências. Me frusto quando perco e vejo que foi por culpa minha, que fiz escolhas ruins, mas nunca culpo o adversário por ter jogado bem e vencido.
Você não chegou a falar no texto, mas a "analysis paralysis" pra mim tem muito a ver com isso. Um jogador que precisa tanto otimizar suas jogadas para a vitória que ele simplesmente ignora o fato de que existem outras pessoas na mesa jogando. O jogador "apezudo" quase sempre está estragando a diversão por pensar somente nele. Nesse caso não é nem sobre ganhar ou perder, mas sobre o nível de competição na cabeça dele ser tão elevado que ele acha que está em uma final de um torneio mundial de Xadrez e só enxerga a vitória como objetivo possível. Eu cansei de jogar com esse tipo de jogador, faço o possível para evitar.