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Senators, uma pérola do mesmo autor de Coup

Senators

marciusfabiani21/07/23 14:19

marciusfabiani

21/07/23 14:19

1125 mensagens MD

Senators é um jogo de cartas que o designer Rikki Tahta, autor do best seller de blefe Coup, publicou de forma independente em 2017 em parceria com o próprio pai, Haig Tahta. Em 2019, a editora Indie Boards & Cards relançou o jogo com arte renovada (essa foi a edição que eu joguei).

Senators é ambientado na Roma Antiga, e os jogadores são nobres que tentam acumular dinheiro de várias formas (leiloando mercadorias e extorquindo os outros jogadores, principalmente) para, por fim, comprar os senadores romanos (cada senador comprado representa um ponto de vitória). Vence a partida o jogador que acumulou mais senadores sob a sua influência, tornando-se, assim, o novo César. É um jogo para 3 a 5 jogadores, e as partidas duram entre 30 e 45 minutos.

COMPONENTES

Os componentes do jogo são um manual, 100 cartas de tamanho padrão (63,5 x 88 mm), cinco biombos, um pequeno tabuleiro, marcadores que representam o dinheiro do jogo, e tokens de madeira de cinco cores diferentes que marcam a pontuação e registram os lances dos jogadores nos leilões.

O manual do jogo tem apenas oito páginas. As regras são simples e bem explicadas. O manual é fartamente ilustrado, com exemplos, e todas as cartas são explicadas em detalhe ao final.

Os biombos que os jogadores usam para ocultar seu dinheiro são ilustrados com imagens não muito realistas em relação ao período, mas respeitam a representatividade que se espera hoje em dia. O resumo das regras que vem atrás de cada biombo é excelente, bem completo.

O tabuleiro é composto por duas peças de cartão, que são unidas para formar uma área unificada onde os jogadores fazem seus lances nos leilões, marcando suas ofertas com os tokens de madeira. Na base do tabuleiro, há uma trilha de pontuação, onde os jogadores registram quantos senadores (pontos de vitória) possuem.

Os tokens em madeira são cilindros simples, em cinco cores.

Os marcadores de dinheiro são simples, não exatamente bonitos, mas são funcionais.

O jogo vem ainda com 100 cartas, divididas em seis baralhos: 54 cartas de recursos (em três baralhos denominados I, II e III), 15 cartas de cargos (office cards), 22 cartas de evento e 9 cartas de suporte (usadas apenas no modo avançado).

REGRAS

Na preparação, cada jogador recebe um biombo e os tokens de uma cor. Uma vez sorteado o jogador inicial, ele recebe 10 talentos (o dinheiro do jogo), o segundo jogador recebe 3 talentos a mais, o terceiro recebe três talentos a mais que o segundo, e assim sucessivamente.

O tabuleiro é colocado no centro da mesa, e cada jogador coloca um dos seus cilindros na posição 5 da trilha de senadores. Os baralhos são divididos por tipo e embaralhados, e cada jogador recebe uma carta de cada tipo de recurso (I, II e III), que são mantidas atrás do biombo, ocultas dos demais jogadores.

Senators é jogado em turnos. O turno de um jogador sempre começa com a compra de uma carta do baralho de eventos. Há seis tipos de eventos: 1) Senate Majorities (6 cartas): cada jogador ganha dois talentos para cada jogador que tiver menos senadores que ele; 2) War (5 cartas): os jogadores fazem lances ocultos (dinheiro escondido na mão), e quem oferecer mais ganha um senador (todos devolvem pro estoque os lances ofertados, mesmo quem não venceu!); 3) New Senator (3 cartas): um leilão interessante: a começar pelo jogador da vez, o jogador pode comprar um senador por 15 talentos; se ele não quiser, o próximo jogador pode comprar por 14; e assim sucessivamente, com o preço caindo em 1 talento, até que um jogador decida comprar o senador; 4) State Deficit (3 cartas): outro leilão oculto, em que os jogadores em conjunto precisam alcançar um determinado valor em talentos: se o valor for alcançado, quem contribuiu mais ganha um senador; se o valor não foi atingido, quem contribuiu menos perde um senador; 5) Civil Conflict: todos pagam 5 talentos pro banco, exceto os jogadores que têm pelo menos uma carta de governador (uma das cartas de cargo do jogo); e 6) Trial of Governors (2 cartas): todos perdem suas cartas de governador, exceto quem tiver suporte dos tribunos (modo avançado).

Os eventos mais importantes são as guerras, pois elas disparam o fim do jogo: assim que a quarta carta de guerra é revelada, o jogo termina imediatamente. Num caso extremo e altamente improvável, portanto, o jogo pode durar apenas três turnos!

Após resolver o evento, o jogador da vez escolhe uma entre três ações possíveis: iniciar um leilão, extorquir os outros jogadores, ou coletar talentos/comprar senadores (cash-in).

LEILÃO

Se escolher a ação de leilão, o jogador revela uma carta de recurso de cada tipo, além de uma carta de cargo (tipo IV). Na pilha de tipo I, há recursos de seis tipos diferentes (madeira, ferro, tecido, azeitona, carne e grão), com valores de 1 a 3. Na pilha II, os valores vão de 4 a 6. Na pilha III, de 7 a 9. E, na pilha IV, estão os cargos, que dão habilidades especiais a serem usadas na ação de coleta (cash-in).

Começando pelo jogador à esquerda do jogador da vez, cada jogador dá lances nas cartas que deseja, posicionando seus cilindros nos círculos correspondentes no tabuleiro. As cartas I são menos valiosas e seus lances possíveis variam entre 1 e 8; já as cartas IV, mais valiosas, têm lances que podem chegar a 15. Um jogador faz os lances que desejar (no máximo quatro, um para cada carta), e em seguida o próximo jogador faz seus lances. Lances posteriores têm que superar lances anteriores. Caso o lance de alguém seja superado, seu cilindro é devolvido para seu dono: só o lance mais alto precisa ficar registrado.
Depois que todos os outros jogadores fizeram seus lances, o jogador da vez, na ordem que desejar, resolve cada carta. As cartas sem lance ele pode pegar de graça (embora seja difícil chegar alguma carta sem lance algum). Para cada carta com lance, ele decide se quer a carta ou não. Se quiser a carta, ele paga ao dono do cilindro o valor do lance. Se não quiser a carta, ele recebe do dono do cilindro o valor do lance. As cartas adquiridas no leilão, seja pelo jogador da vez, seja pelos demais jogadores, não vão para trás do biombo (onde estão as cartas distribuídas na preparação): elas ficam na frente do biombo, à mostra de todos.

EXTORSÃO

A segunda opção de ação é a extorsão. O jogador que escolher essa ação recebe 3 talentos do banco e, em seguida, pode extorquir uma carta de cada um dos demais jogadores, começando pelo jogador à sua esquerda e seguindo no sentido horário. Cada extorsão deve ser resolvida antes de a seguinte ser feita. A extorsão funciona como o leilão: o jogador da vez oferece uma quantia em talentos por uma das cartas públicas do alvo da extorsão, que tem a escolha de pagar o valor oferecido para manter a carta, ou ceder a carta e aceitar os talentos oferecidos.

As cartas de recursos que foram alvo de extorsão, não importa quem fique com elas, vão para trás do biombo e, portanto, ficam protegidas de futuras extorsões. As cartas de cargo (e as de suporte, no modo avançado), contudo, nunca vão para trás do biombo; permanecem públicas e, portanto, podem ser alvo de novas extorsões até serem finalmente usadas e descartadas.

COLETA (CASH-IN)

Finalmente, a terceira opção é a ação de coleta (cash-in, no original). O jogador que escolher essa ação deve, inicialmente, oferecer aos demais jogadores a oportunidade de fazerem a mesma ação, começando pelo jogador à sua esquerda. Cada jogador que quiser fazer a coleta deve pagar 5 talentos ao jogador da vez. Depois que todos os demais jogadores tiverem recusado ou aceitado a oferta de coletar e tiverem terminado suas coletas, o jogador da vez faz sua coleta por último.

A coleta consiste, inicialmente, em vender sets de três cartas para o banco. Existem três sets possíveis:

1. um conjunto de três cartas do mesmo recurso (por exemplo, cartas de carne nos valores 2, 5 e 6);
2. um conjunto de três cartas do mesmo valor (por exemplo, carta de ferro, tecido e grão, todas de valor 4);
3. um conjunto de três cartas do mesmo recurso, com valores em sequência (por exemplo, cartas de madeira nos valores 6, 7 e 8).

Nos dois primeiros casos, o jogador recebe a soma dos valores das cartas (no caso 1, 13 talentos; no caso 2, 12 talentos). No terceiro caso, além da soma dos valores, ele recebe um bônus de 15 talentos (no exemplo dado, 21 + 15 = 36 talentos). O jogador pode vender mais de um set, se quiser.

Em seguida, o jogador pode comprar quantos senadores quiser, ao preço de 10 talentos cada um, avançando seu token pelo número correspondente na trilha de pontuação.

Os jogadores também podem usar, na ação de coleta, quantas cartas de cargo ainda estiverem à sua disposição. Essa é o único momento em que essas cartas podem ser usadas. Existem quatro tipos de cartas de cargo: 1) Governador (6 cartas, uma para cada tipo de recurso): podem ser usadas como um coringa do recurso correspondente, assumindo valor de 1 a 9, a critério do jogador; 2) Censor (5 cartas): o jogador escolhe um oponente com mais senadores que ele: esse oponente perde um senador, e o dono do censor ganha um senador; 3) Cônsul (2 cartas): cada senador comprado pelo dono do cônsul custa 7 talentos, e não 10; e 4) Questor (2 cartas): o jogador pode vender sets com quaisquer três cartas. Todas as cartas de cargo são de uso único e são devolvidas para a caixa do jogo após serem ativadas.

Finalmente, a qualquer momento da partida, um jogador pode vender senadores (perder pontos) por 5 talentos cada, para fazer dinheiro emergencial. Contudo, se, por algum efeito do jogo, ele perder seu último senador (cair para o “zero” da trilha de pontuação), ele é eliminado da partida automaticamente.

O jogo termina quando a quarta carta de guerra é revelada (ela não é resolvida e o turno do jogador não acontece, o jogo acaba imediatamente). Vence o jogador que tiver mais senadores. Em caso de empate, vence o jogador que, entre os empatados, tiver mais talentos.

MODO AVANÇADO

O manual recomenda que a primeira partida não utilize o baralho de suporte. São 9 cartas com habilidades permanentes, de uso contínuo (não são descartadas, como as cartas de cargo). Durante a preparação, um número de cartas igual ao número de jogadores é revelado. Iniciando pelo jogador à esquerda do jogador inicial, cada um escolhe uma carta de suporte. Cartas de suporte podem ser extorquidas e são sempre públicas. Um jogador pode acumular mais de uma carta de suporte. São 9 cartas diferentes, com habilidades fortes, como, por exemplo, Vox Populi, que garante um senador de graça durante a ação de coleta, ou Prefects, que protege cartas da ação de extorsão.

ANÁLISE

Senators é um jogo rápido e simples, com altíssimo nível de interação. A variedade de efeitos causada pelos eventos, pelas cartas de cargo e pelas cartas de suporte pode tornar a primeira partida meio caótica para os jogadores que não examinaram as cartas antecipadamente. Outra coisa que pode assustar é a rapidez com que algumas partidas podem acabar: é um jogo em que cada oportunidade de pontuar deve ser agarrada com unhas e dentes.

Um ponto marcante do jogo é a variedade de leilões: aberto, fechado, lance único, holandês (o leilão do evento New Senator, em que o valor do lance cai, em vez de subir). Nisso o jogo se aproxima de jogos como Arte Moderna e Sylla. Assim como no pôquer, o valor ofertado em alguns leilões é perdido, o que acrescenta outra camada decisória. A mecânica dos leilões lembra o jogo Goa, em que o leiloeiro tem a opção de ficar com o item ou com o dinheiro.
A mecânica de set collection, presente no jogo, é apimentada pela extorsão, que pode fazer com que você pague caro por uma carta que deseja conservar (vai ter que pagar por ela no leilão e, depois, pra mantê-la a salvo de uma eventual extorsão). A presença de cartas ocultas na preparação dá um grau de informação imperfeita ao jogo que é benéfico, a meu ver.

A mecânica de extorsão é muito interessante e acrescenta um bom nível de tensão ao jogo: suas cartas públicas nunca estão completamente a salvo, lembrando jogos como Ponzi Scheme e Power Struggle.

A estratégia de largar na frente é boa por um lado (ganhar talentos nos eventos Senate Majorities e ficar bem-posicionado caso o jogo se aproxime do final muito rápido), mas deixa o jogador vulnerável à carta do censor (que rouba um senador de um jogador com pontuação mais alta).

É um jogo brutal: você está constantemente atacando e sendo atacado. O nível de interação é absurdamente alto, e o downtime é praticamente inexistente: os eventos sempre afetam a todos, e nas três ações possíveis do jogo, todos os jogadores estão sempre jogando, não importa de quem seja a vez. O final incerto do jogo acrescenta um ótimo nível de tensão, especialmente quando a terceira carta de guerra é revelada e o jogo pode terminar a qualquer momento, acrescentando um elemento de push-your-luck que lembra jogos como Tulip Bubble. Se você preferir um final menos imprevisível, sempre é possível acrescentar uma house rule para embaralhar a última carta de guerra entre as cartas finais (como em Tulip Bubble), ou espalhar as cartas de guerra em intervalos regulares no baralho (como em Pandemic).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Senators é um excelente jogo de leilão, uma pérola criminosamente desconhecida do público geral. A primeira partida pode pegar alguns jogadores de surpresa, mas tenha fé: o jogo cresce e brilha com mais partidas. Se você gosta de leilão, set collection e alta interação, não há muitas opções melhores do que Senators no mercado.

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Guy de Lombard
458 mensagens MD

Guy de Lombard 21/07/23 15:58

Guy de Lombard » 21/07/23 15:58

Bela descrição, deu muita vontade de conhecer esse jogo!

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giovanibarros
229 mensagens MD

giovanibarros21/07/23 17:38

giovanibarros » 21/07/23 17:38

adorei o ideia do jogo, odiei a arte (que desenhos horrorosos)...rs

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Raio
2000 mensagens MD

Raio22/07/23 10:59

Raio » 22/07/23 10:59

Gostei muito do jogo e da sua descriçào dele.

Achei a arte bem bacana!

Obrigado por compartilhar!

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piogovieira
1191 mensagens MD

piogovieira22/07/23 14:26

piogovieira » 22/07/23 14:26

giovanibarros::adorei o ideia do jogo, odiei a arte (que desenhos horrorosos)...rs

Eu achei ok, sei la, me passou uma vibe dos livros de historia que eu lia antigamente kkkkkkkkkkkk.

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rlarmond
71 mensagens MD

rlarmond25/07/23 10:41

rlarmond » 25/07/23 10:41

Cara da Paper Games

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lbleicher
225 mensagens MD

lbleicher25/07/23 14:11

lbleicher » 25/07/23 14:11

Excelente, sou muito fã desse jogo, bem que podia sair por aqui

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isR34L
1166 mensagens MD

isR34L25/07/23 16:32

isR34L » 25/07/23 16:32

Leilão as escuras é duro, meu poder de avaliação é nulo, não sei se eu botaria esse acima do Rá com seu "valor de leilão pré-definido" (que eu comprei recentemente diga-se de passagem). xD

Como tu compara ambos meu caro Marcius?

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marciusfabiani
1125 mensagens MD

marciusfabiani25/07/23 17:55

marciusfabiani » 25/07/23 17:55

isR34L::Leilão as escuras é duro, meu poder de avaliação é nulo, não sei se eu botaria esse acima do Rá com seu "valor de leilão pré-definido" (que eu comprei recentemente diga-se de passagem). xD

Como tu compara ambos meu caro Marcius?

Ra é bem mais estruturado -- você sabe que lances estão disponíveis pra você e pros adversários, sabe que tiles eles têm, sabe quantas eras ainda faltam pro jogo acabar. Senators tem mais "surpresas" -- os eventos no início de cada turno, os recursos ocultos que cada jogador recebe no set-up, o dinheiro de cada um (embora seja uma informação rastreável, quem tem a paciência? Eu não tenho). Ambos têm o elemento do push-your-luck, mas em Ra eu acho esse elemento mais bem resolvido e mais propenso a emoções (aquela rodada em que só resta um jogador, que precisa arriscar um bom lote sem puxar tiles de Ra, se quiser vencer a partida).
Ra sem dúvida é um jogo mais completo e mais satisfatório, mas Senators não deixa de ser um jogo divertido, mais rápido e menos "sério", digamos assim. Acho que cabem ambos em qualquer coleção de fã de leilão.

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viniciusjf
2707 mensagens MD

viniciusjf26/07/23 01:31

viniciusjf » 26/07/23 01:31

Por um instante confundi com o Senator(no singular), que é um jogo bem fraquinho.

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