rodrego::Oi Iuri, em termos de tiragem e volume de vendas, vamos precisar acompanhar como os novos jogos dessa nova leva de 2023 se saem, isso nem as editoras sabem ainda.
Até onde eu sei, tradicionalmente as tiragens de jogos brasileiros estão entre 1000 e 2000 unidades, com alguns party e card games que conseguem transcender a barreira dos 10.000. Alguns exemplos são Quartz, Telma, Encantados, Piratas, e mais recentemente, Dobro e É Top. Deve haver vários outros.
Sei de jogos mais pesados brasileiros que quebraram essa barreira também, como Sheriff of Nottingham e Brazil (chutaria que Cartógrafos tb). Em comum, o fato de que todos foram publicados e aclamados internacionalmente, e acho que isso até ano passado era fator determinante para uma tiragem maior.
A julgar pela receptividade no Doff, eu imagino que de 2023 em diante teremos mais exceções nacionais. Mas isso o tempo vai dizer.
Em tempo: jogos internacionais lançados aqui também não costumam ter tiragens tão altas não, a maioria fica nessa mesma faixa até 2000. Mas há muito mais exceções: Terraforming Mars, Wingspan, clássicos como Catan, TtR, Dixit, e muitos outros.
O x da questão, no entanto, não é esse. Mesmo que um autor consiga fazer todo ano um jogo que venda 10 mil unidades, não é suficiente para viver de fazer jogo. O Brasil sozinho não tem público suficiente para sustentar um autor de jogos profissional, e não acho que isso vai acontecer nos próximos anos.
É preciso que esses jogos sejam sublicenciados para os mercados europeu e americano, e começar a ter tiragens de 50 mil pra cima. Nosso ponto fraco a meu ver está aí: as editoras brasileiras ainda não conseguem encaixar com regularidade seus jogos no mercado externo. Há exceções, claro, mas a imensa maioria fica resumida ao mercado brasileiro.
Caro
rodrego
Meu camarada antes de qualquer coisa, te agradeço pelos esclarecimentos, principalmente em se tratando de tiragens, que se trata de uma informação estratégica das editoras de jogos.
Eu acho muito positivo que alguns jogos de carta já consigam tiragens tão altas. Isso é muito natural, porque são jogos mais baratos e muito mais fáceis de produzir. O natural é que esses party games sejam a principal porta de entrada para o hobby. Obviamente um "não-iniciado" não vai pagar R$ 400,00 em um Ticket to Ride, logo de cara, por melhor que o jogo seja, mas R$ 70,00 em um Dobble ou no Coup, já é outra história.
Por outro lado, me preocupa bastante sua informação sobre a tiragem de outros jogos com mais conteúdo. Apesar de alguns poucos jogos já terem sido lançados em 2013, sem dúvida alguma, foi 2014 o ano em que os board games estrangeiros mais badalados começaram a ser lançados nacionalmente. Com isso, nós temos praticamente uma década de mercado nacional de jogos, mas continuamos presos a uma tiragem de 1.000/2.000 unidades, que é o nosso padrão há anos. Claro que existem algumas exceções, mas em termos gerais esse é o nível de produção em que as editoras operam. E esse nível não está aumentando, pelo menos aparentemente, e conforme a sua própria informação.
Basta pensar no caso do Masmorra dos Dados e do Jogo da Fronteira, que atingiram tiragens enormes, mas só depois que eles foram comprados por editoras girngas e se transformaram em Masmorra: Dungeons fo Arcadia e Sheriff of Nothingham. Essas grandes tiragens obviamente foram muito boas e lucrativas para seus designers brasileiros, com todo o merecimento, mas impactou muito pouco para o hobby no nosso país, porque aqui eles ficaram naquele padrão de 1.000/2.000 unidades. Claro que devemos ficar empolgados porque ao menos alguma coisa parece estar melhorando, só que me parece que estamos pregando para convertidos, e isso não leva a absolutamente nada. Tivemos 20.000 pessoas no DOFF e esse é um público excelente. Só que esse número empalidece bastante quando lembramos que apenas São Paulo trata-se de uma metrópole com mais de 12 milhões de habitantes.
A coisa fica ainda mais grave quando pensamos que o Brasil é um país de mais de 200 milhões de habitantes, e com todo esse potencial, produzir apenas 2.000 unidades de um produto, beira a insignificância, não em termos de qualidade mas em termos de business e crescimento e desenvolvimento de um setor econômico. Se quisermos chegar a algum lugar, é preciso que além de jogarmos mais, também produzamos mais e tragamos mais pessoas para ingressar no hobby, e que comprem mais jogos. E isso passa obrigatoriamente por encontramos formas de baratear o preço dos jogos, em alguma medida. Se isso não ocorrer, e a cada dia parece acontecer justamente o contrário, não tem saída. Continuaremos sendo um mercado de 1.000/2.000 unidades, por jogo, e um mercado desse tamanho continua sendo insignificante em termos internacionais. Uma prova disso é a quantidade de lançamentos internacionais que sequer cogitam enviar jogos para o Brasil, o que faz com que as pessoas tenham de fazer verdadeiros malabarismo para o jogo ser entregue aqui. Claro que o trabalho dos Correios de uma ineficiência absoluta, que os parâmetros e práticas lamentáveis da Receita Federal e que uma legislação de importação totalmente absurda tem grande parcela de culpa nisso. Mas se fôssemos um mercado ao menos um pouco maior, como temos potencial para ser, certamente as editoras internacionais teriam mais interesse em mandar seus jogos para cá.
Isso demonstra, pelo menos para mim, que apesar do DOFF já ter uma relativa exposição internacional, que apesar de termos recebido a visita de Tom Vazel e do Reiner Kiniza, que apesar do aumento do nível dos jogos nacionais, e que apesar dos designers nacionais já terem algum reconhecimento, ainda estamos muito longe de alcançar um patamar mais alto e definitivamente estamos muito, mas muito longe mesmo, do primeiro escalão dos board games.
Por fim, concordo que devemos comemorar aquilo que aconteceu no DOFF, mas temos de tomar muito cuidado para não nos iludirmos a respeito de nossa real condição enquanto mercado de board games, porque definitivamente isso não leva a nada, como qualquer outra ilusão. Pelo menos essa é a minha opinião
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio