Dentre os jogos modernos abstratos mais populares, temos, desde o seu lançamento, Sagrada. Com temática bastante peculiar, o jogo fala sobre arquitetura, mais especificamente, aborda a construção dos vitrais do Templo Sagrado da Sagrada Família, também conhecida como a "Catedral do Pobres" ou, mais sucintamente, Sagrada Família. A enorme catedral catalã, cuja construção iniciou-se no Século XIX e que ainda não fora concluída, localiza-se em Barcelona e foi projetada pelo arquiteto Antoni Gaudí, sendo famosa por suas influências modernistas e neogóticas. No jogo, representamos artesãos competindo para a criação do mais belo vitral da Sagrada Família.

Na estrutura de Sagrada, a sua mecânica principal é a construção a partir de modelos, que são os tabuleiros individuais. Nesses tabuleiros, temos diferentes dificuldades que podem ser selecionadas no início da partida e que impõem diferentes condições de construção e é aí que temos o twist do jogo: no lugar de peças, temos dados translúcidos coloridos, muitos deles. Os dados, então, devem ser sabiamente selecionados, não apenas conforme o número, mas também de acordo com a cor, para que possamos posicioná-los da melhor forma em nossos vitrais. Além disso, é importante acompanhar os vitrais dos adversários, para não entregar de bandeja um dado que possa definir o resultado da partida.
O fluxo do jogo para cada jogador, aspecto que eu tenho valorizado cada vez mais nos jogos de tabuleiro modernos, se dá de forma fluida em Sagrada. A cada turno, o jogador pode realizar nenhuma, uma ou as duas ações possíveis no jogo, que são: a) selecionar um dado do acervo de compra e o posicionar no seu tabuleiro individual, com o objetivo de completá-lo, maximizando a pontuação final, se possível, ou b) usar uma carta de ferramenta, que, geralmente, proporciona-lhe alguma vantagem, tais como, reposicionar ou girar a face de algum dado ou mesmo ignorar alguma regra de posicionamento, gastando, para tanto, os marcadores de benefício que ganhou no início da partida, conforme a dificuldade do vitral escolhido.

Sagrada propõe aos jogadores a experiência de, enquanto artesãos, produzir vidros para a Sagrada Família, porém, não devemos ter grandes expectativas nesse sentido, já que trata-se de um jogo abstrato e atemporal (que não se localiza numa época específica da construção centenária). Todavia, a beleza dos componentes, como dos dados e marcadores translúcidos, e da arte do jogo, como visto na caixa, cartas e tabuleiros individuais, ajudam bastante no sentimento de imersão que o jogo pode proporcionar, a partir da particular temática proposta. Enfim, Sagrada é um jogo de tabuleiro moderno divertido, leve, rápido, acessível e com uma curva de aprendizado baixa, além de funcionar muito bem como um puzzle solo.
Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.
Imagens: acervo pessoal.