Boardgame_Photograph::Por aqui pensamos exatamente como você.
Em várias áreas a crítica tem a função de curadoria, te mostrando o que e para que conteúdo olhar. A crítica no Brasil, em geral, costuma ser muito imediatista, se limitando a fazer listas ou dar notas, seja pra filmes, livros, jogos etc.
Fazer uma análise crítica dá trabalho e o pior, não rende frutos, já que textos longos são pouco consumidos.
Nos jogos de tabuleiro a critica deveria ser ainda mais importante: jogos são caros, são lançados aos montes e é de consumo demorado: diferente de um filme, para saber se gostou ou não de um jogo depende de ler regras, aprender, jogar algumas partidas, algo que demora horas.
Fora do Brasil há vários críticos que gostamos, pois sempre falam abertamente que a análise é patrocinada e, mesmo assim, não se importam de criticar os jogos, pois sabem que as editoras precisam mais da divulgação deles do que o contrário.
Por aqui, ainda estamos engatinhando. Como regra, criadores de conteúdo sobre boardgames buscam todos uma mesma coisa: receber os lançamentos de graça das editoras em troca de fazer divulgação gratuita. Salvo raras exceções, têm receio de criticar abertamente um lançamento, talvez com medo de desagradar as editoras.
Tentamos no nosso canal de Instagram produzir conteúdo de maneira diferente: só falar de jogos que nos interessam, fazer análises "longas" (no limite da rede) e criticar abertamente o que não gostamos nos jogos.
Claro que gostaríamos de receber jogos, pois ajudaria a produzir mais conteúdo. Mas desde que pudéssemos falar somente sobre aqueles que nos interessam e manter a liberdade de fazer as críticas (acho que nunca vamos receber rs).
O que vejo é que quem produz conteúdo dessa forma (de consumo mais lento, com menos posts, mas com olhar mais crítico) acaba crescendo muito devagar em seguidores e dificilmente recebe algum apoio de editoras, pois não gera hype.
Paciência. Prefiro continuar fazendo conteúdo da forma que gosto, no tempo que posso e com a qualidade que entendo que é a correta. Há sempre alguém que vai gostar, ainda que sejam poucos, e isso já nos dá algum grau de satisfação a ponto de querer continuar.
Caro
Boardgame_Photograph
Com todo o respeito à equipe do canal, mas não sei se vocês têm idade suficiente para conhecer Inezita Barroso, uma cantora, violonista, produtora e apresentadora do programa "Viola, Minha Viola", da TV Cultura de São Paulo. Ela era uma verdadeira referência (e das boas) da "música caipira" brasileira, que ela preferia ao termo "música sertaneja". O programa dela está no ar há 40 anos, dos quais ela esteve à frente de 1980 (estreia) até 2104, quando ela veio a falecer.
A Inezita Barroso só levava músicos no programa dela que ela considerava realmente genuínos, e que faziam, na opinião dela, a autêntica "música caipira de raiz". Isso porque ela achava e dizia, sem papas na língua, que "a maioria desses músicos sertanejos de hoje em dia, nunca viu um frango vivo e solto no quintal". Com isso, obviamente a audiência dela era totalmente desproporcional à sua importância, e muito menor do que seria, caso ela abrisse as concessões, que seria de se esperar em um programa de TV.
Eu estou falando na Inezita Barroso, porque ao ler o comentário de vocês, eu me recordei de uma frase dela que julgo uma verdadeira pérola. Durante uma entrevista, ela foi confrontada sobre essa firmeza de só levar ao programa as pessoas que eram autênticos representantes da música regional brasileira, e sobre os efeitos que isso tinha, não apenas sobre a audiência, como também sobre a própria viabilidade financeira do programa. A resposta dela foi simplesmente a seguinte:
"Eu prefiro falar aquilo que eu quero, para pouca gente, do que falar para muita gente, aquilo que eu não quero".
Sei que essa é uma postura idealista, e que idealismo não paga as contas, nem banca câmera, microfone, iluminação, roteiro, edição e etc. Porém, de uma forma geral, mesmos os canais mais comprometidos com as editoras também são um pouco idealistas, porque se fosse apenas para ganhar dinheiro, as pessoas estariam fazendo vídeos ensinando a molecada a passar de fase nos jogos do PS5.
É em virtude desse idealismo e amor ao hobby, em maior ou menor grau, que eu acho essa frase da Inezita Barroso tão importante, para os produtores de conteúdo mais independentes, principalmente nesses tempos sombrios, em que todos nós boardgamers eventualmente temos a nítida impressão de que, absolutamente todo o conteúdo de board games é patrocinado, e por isso questionável, em alguma medida.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio