Caro Marcos Macri
Sou um grande admirador do seu trabalho e da MS Jogos, porque vocês têm uma filosofia que representa muito bem a minha forma de pensar e aquilo que eu acredito. Todo mundo quer um mercado nacional de board games maior, mais forte e mais desenvolvido. Isso será bom para todos, para os jogadores, para as editoras, para os designers, para os artistas e para os lojistas. Só que para isso não tem outro jeito, a não ser que o mercado cresça e mais pessoas passem a jogar board games, e principalmente a comprar board games, por que são essas últimas que sustentam o mercado. Eu estou cada dia mais convicto de que isso só será possível com jogos mais baratos, porque é muito difícil convencer um recém chegado, de que vale a pena gastar R$ 500,00 em um jogo de tabuleiro, por melhor que ele seja.
Por tal motivo, os party games, compostos basicamente de cartas, são fundamentais porque eles são os jogos com maior possibilidade de serem produzidos bem baratos. Nessa questão a Papergames está fazendo um ótimo trabalho com a sua linha pocket, bem mais acessível. O problema é que o board game não pode, nem deve se restringir a jogos de cartas. Quando uma pessoa entra para o hobby normalmente ela inicia pelos party games mais simples, mas com o tempo, é natural que ela comece a buscar por jogos mais complexos. Só que aí é que mora o problema, porque no nosso mercado atual, existem um grande espaço, na faixa de preço, entre jogos mais simples e jogos mais complexos. Claro que existem exceções, mas a impressão que eu tenho é que se pula de jogos simples que custam R$ 100,00, diretamente para jogos mais complexos que custam R$ 350,00.
Nesse sentido um jogo como Chaparral representa uma excelente iniciativa, porque a editora encontrou um bom ponto de equilíbrio entre fazer um jogo com boa mecânica, uma arte bonita e componentes de boa qualidade, e ao mesmo tempo sem custar muito caro. Claro que eu defendo a necessidade de jogos mais baratos para que o mercado consiga se expandir, mas não adianta nada se o preço desse barateamento for o uso de componentes de qualidade muito inferior. Foi exatamente esse o problema do Herdeiros do Khan do Rodrigo Rego por exemplo. Eu sempre digo que se o Herdeiros do Khan tivesse componentes um pouco melhores (nem precisava melhorar tanto assim), mesmo que com isso ficasse um pouco mais caro. Ele seria uma boa opção viável aos Marco Polo I e II, que são bem mais caros. Essa é a diferença do Herdeiros do Khan para o Chaparral, porque o segundo tem componentes muito melhores que o primeiro, e ainda assim mantém um preço muito honesto. Por conta disso, considerando apenas o "modelo de fábrica" (dando um turbinada nos componentes, a história é outra), o Herdeiros do Khan não é um opção viável aos Marco Polo I e II, enquanto que o Chaparral é efetivamente um opção viável ao Great Western Trail 2ª Edição, que atualmente custa quase o dobro do preço (na média ele sai por R$ 470,00), que é cobrado pelo apoio simples do Chaparral, no Catarse (R$ 249,00). Pelo menos é assim que eu penso.
Além disso, tem outra questão que torna o seu trabalho fundamental, é a questão da produção nacional de board games. Quando se fala em baratear os jogos de tabuleiro, é muito comum que se diga que os jogos são produzidos na China, porque lá acaba ficando mais barato, afinal os preços chineses são imbatíveis. O problema é que isso se aplica apenas a jogos com tiragem na casa do milhão de cópias, e esse evidentemente não é o caso dos jogos nacionais, porque eles não têm o mesmo apelo mundial. Com isso, para rodar apenas 1.500 cópias, eu acredito que seja mais barato produzir nacionalmente, do que enfrentar o frete internacional, bem como a alta taxação e o desembarace aduaneiro, que fica bem mais caro no caso de produtos importados. Só que produzir nacionalmente também tem os seus problemas, porque a indústria de um modo geral não é muito voltada para esse tipo de produto, dada a baixa demanda. Por isso, com o lançamento cada vez maior de jogos de designers nacionais, que inclusive não precisam ser produzidos na China, por exigências contratuais, como é o caso dos jogos estrangeiros, muito provavelmente a nossa indústria pode começar a ver esse setor com novos olhos, e quem sabe investir mais nisso, otimizando o processo e barateando e o custo de produção. Com isso teremos a possibilidade de produzir jogos com qualidade de componentes e a preços ainda menores, tornando o jogo de tabuleiro nacional mais atraente e com isso ampliar e expandir o nosso mercado nacional de board games. Isso sem falar que com uma melhora nas condições de produção da indústria nacional, e na melhora da qualidade dos produtos nesse setor, cada vez haverá uma possibilidade maior de pelo menos parte dos componentes, inclusive dos jogos estrangeiros, sejam produzidos aqui, no caso de atraso das tiragens mundiais.
Por fim, essa é a minha esperança, mesmo que a tendência do mercado seja cada vez mais no sentido justamente o oposto, ou seja, "produzir menos e cobrar mais". Por isso é tão importante ver uma editora nacional como a MS Jogos nadando contra essa corrente, e oferecendo jogos de qualidade tanto quanto a mecânica, quanto aos componentes, sem que o sujeito precise vender um rim para comprar.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Eu acredito que a situação do mercado nacional de board games ficará mais fácil, quando um jogo seu vencer o Spiel des Jahres. O Cartógrafos já bateu na trave, quem sabe você não é o próximo....