viniciusjf::Pode ser um ótimo jogo, e concordo com o argumento de que uma produção caprichada não necessariamente tem que estar associada a um jogo pesado e complexo.
Mas não tem como relativizar esse preço.
Rimor::
Tem como sim, e tão fazendo isso com gosto de gás, já que mídia especializada sempre vai ser importante para financiamentos. 
(Nada aqui tô falando em relação ao mister Emerson, nem o vídeo acima especificamente, ok?)
Eu pelo menos vejo rolar muito essa justificativa do jogo ser caro mas fazer uma entrega substancial (normalmente em relação a complexidade) e isso justificar. Aí quando falta polpa ou calibre, justificam anyways... Fazer o quê né?
Nossa comunidade é "engraçada" (contraditória se preferir) , falam que componente não é tudo (e concordo q não seja) mas quem não vê um unbox antes de comprar um jogo? Falam que complexidade não é tudo, mas uma expressão (quase gíria) amplamente usada é dizer que o título X é "mais jogo" que o título Y 99% das vezes pq o q é "menos jogo" é mais simples.
Então tá né...
metelo::
So faltou falar do Khans, que aqui nos foruns teve exatamente o problema oposto - preco honesto, jogo bom, mas os componentes bem fraquinhos.
Infelizmente, parece que o jogador quer comprar jogo com componentes como esse a preco de war.
So para relembrar um comentario que ja fiz em outra thread, nesse caso especifico, o problema nao e o preco BR pois o preco do jogo la fora e muito salgado tambem. O preco dele no KS la fora ficou bem emparelhado com o preco do finaciamento aqui no Brasil (entre 10% a 15% de diferenca, ao contrario do que acontece com muitos jogos). Nao estou dizendo que esta barato, pq nao esta, mas pelo menos dessa vez nao e o problema do custo Brasil que deixa o jogo ficar caro demais com ocorreu com tantos outros (TI, Gloomhaven, Kemet por exemplo) que chegaram por aqui com mais que o dobro do MSRP la de fora, e quase 3X o preco de mercado.
Caros viniciusjf, Rimor e metelo
Guardadas as devidas proporções, o Foundations of Rome, me lembra um pouco um lançamento de alguns anos atrás da Deagostini, que foi o xadrez com miniaturas do Harry Potter, no lugar das peças. A primeira peça foi lançada custando apenas R$19,00, mas as peças seguintes custavam algo em torno de R$ 40,00. Esse valor médio, multiplicado por 36 beirava absurdos R$ 1.500,00, por um jogo de xadrez. É óbvio que não era um jogo de xadrez, mas sim uma coleção de miniaturas do universo Harry Potter, para usar de enfeite, disfarçada de jogo de xadrez. Essa é a mesma impressão que eu tenho em relação a esse Foudantions of Rome. As miniaturas são tão lindas, tão fantásticas, tão detalhadas que parece que você não está comprando um jogo, mas sim uma coleção de miniaturas, e aí o céu é o limite em relação ao preço.
Por isso talvez o erro não esteja no preço, mas sim na forma como esse produto é encarado. Talvez nós estejamos nos espantando com o preço, tomando como parâmetro um jogo de tabuleiro quando na verdade o Foudations of Rome é um produto que vai além de apenas um board game. Quando eu vi o valor pedido no financiamento, imediatamente me veio à lembraça o Warhammer, que custava (e ainda custa) uma verdadeira fortuna para ter um exército minimamente competitivo, mas que na verdade representa muito mais do que um mero wargame. Ele é uma coleção de miniaturas e cenários que tem um jogo atrelado. A própria editora do Warhhamer reconhece que criou o jogo com esse intuito principal, de vender miniaturas colecionáveis, e que o jogo em si era uma questão secundária. Com isso criou-se em torno do Warhammer um hobby próprio, com os aficionados pintando e customizando o seu jogo. Eu fico com a impressão de que é mais ou menos isso, que se pretende fazer com o Foudations of Rome, e daqui a pouco serão lançadas novas expansões com novos prédios e novos monumentos com miniaturas de cair o queixo, bem como o nível de consumo semanal de carne da família de quem comprar.
Vejam que eu não sou contra que sejam lançados esses jogos supercaros, em edições luxuosíssimas, com preço tão alto que deve até dar medo de tirar da caixa para jogar e estragar alguma coisa. Existe uma parcela da comunidade board gamer de classe média altíssima, com rendimentos mensais acima dos R$ 30.000,00, para quem dar R$ 1.600, em um jogo é troco de pinga. Tanto assim é que o jogo já está financiando. Então é preciso lembrar que existe público para jogos nesse patamar.
Minha restrição em relação a esse jogos caríssimos é apenas em três aspectos.
O primeiro é em relação à mídia especializada que faz cobertura desse tipo de lançamento. Não estou dizendo que os canais de board game só vão falar bem do jogo, só para tentar ver se arrumam uma cópia. Mas uma coisa que nem sempre fica clara, pelo menos para mim, e muito mais ainda para os recém chegados ao hobby, é que é muito fácil falar que o jogo é caro, mas vale a pena, se você ganhou o jogo, e não precisou desembolsar R$ 1.600,00, do seu próprio bolso. Só para deixar claro não estou dizendo que esse é o caso do Mr. Emerson, mas todo mundo sabe que mandar uma cópia para o canal de board game, em troca de um review elogioso é o que mais acontece no cenário nacional.
O segundo aspecto dessa questão é que existem pessoas que não são ricas, e que mesmo assim gostariam de ter um cópia do "Foundations of Rome", pelos próprios méritos do jogo, mas que serão privadas disso, pelo seu altíssimo preço. Quando uma editora monta o financiamento de um jogo custando de início R$ 1.600,00, está bem claro que ela está focada em um nicho muito específico, e restrito, de pessoas. E isso não é exclusividade da editora nacional, porque como muito bem pontuou o metelo, esse jogo já era bem caro, mesmo no mercado internacional, muito embora, proporcionalmente os jogos saiam muito mais caros para nós que ganhamos em real do que para quem ganha em dólar ou euro. Em 2022, US 100 representa 5,5 horas trabalhadas da remuneração média de um trabalhador norte-americano (US 18,78/hora), segundo pesquisa do National Low Income Housing. Por outro lado, esses mesmo US 100 dólares representam, pela cotação de hoje (R$, 5,17), R$570,00, que equivale a 67 horas trabalhadas, calculadas sobre a média do salário-hora do trabalhador brasileiro (R$ 8,62/hora em maio 2022). Portanto, não sei se isso seria possível, mas uma possibilidade seria lançar duas linhas de produtos, ou seja, uma linha ultra-super-hiper-premium, com miniaturas banhadas a ouro, para quem estivesse disposto a pagar o valor de uma moto usada por um jogo, e uma outra linha com o mesmo jogo, mas com componentes mais adequados a meros mortais, e que não ganhem salários de um senador da República. Como eu disse, não sei se isso seria possível junto à editora gringa, e sinceramente acho que isso nem passa pela cabeça da editora nacional.
O terceiro aspecto que mais me preocupa, é que com esse Foundations of Rome nós ultrapassamos a marca de R$ 1.500,00 para o lançamento de um board game, e isso certamente repercutirá em todos as outras faixas de preço, com um efeito cascata. Quando o Gloomhaven foi lançado em maio/2020 custando R$ 899,00, as pessoas acharam um absurdo de caro, mas mesmo assim o jogo esgotou em questão de horas. Com isso o mercado consumidor sinalizou para as editoras que elas poderiam cobrar mais caros pelos jogos e foi isso que elas fizeram. No ano seguinte, 2021, tivemos o "Descent: Lendas da Escuridão", custando R$ 1.000,00, e agora, 2022, temos o Foundations of Rome custando R$ 1.600,00, e esse é o preço, digamos assim, "promocional" do financiamento, o que nos leva a crer que quando for lançado ele será mais caro ainda. Muito provavelmente, as editoras estão nesse exato momento, pensando se não seria possível começar a cobrar R$ 400,00 por um jogo de cartas, pelos party games ou pelos jogos família. E para quem dúvida disso, basta lembrar qual foi o preço de lançamento do Arkham Horror Card Game.
Então o que me preocupa sinceramente não é nem o preço do Foundations do Rome, porque R$ 1.600,00 para um jogo de tabuleiro é um preço tão absurdo para mim, que certamente não é apenas um board game que se está comprando, mas sim um produto que vai muito além de um mero jogo, e que sou eu que não consigo enxergar o que seria esse produto, que vale tanto. Na verdade, o que me preocupa é o efeito, de curtíssimo prazo, que esse novo patamar de preços vai exercer sobre os jogos que eu, e uma parte cada vez menor da comunidade boardgamer nacional, ainda tem condições de comprar.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio
P.S. Seguindo esse ritmo atual de aumento dos preços dos jogos, não duvido nada se, daqui a pouco, os bancos não vão começar a oferecer seguro para board game.