A era dos solos
Sou do tempo que jogo de tabuleiro era, por definição, uma atividade em grupo. Pelo menos 2 pessoas. Se estivesse sozinho e quisesse muito jogar, a pessoa teria que, como Fernando Pessoa, criar seus heterônimos e jogar contra si mesmo.
Boa parte da graça do jogo de tabuleiro está, pelo menos para mim, em agir e reagir em relação ao que o adversário faz. Eu adoro jogos onde para fazer algo, você precisa abrir mão de alguma outra coisa e com isso dá chance para o seu adversário se aproveitar disso. A graça do jogo sempre está na avaliação desses dilemas de prioridade. Em um jogo bom, a maior parte da ação ocorre no tabuleiro central e não no tabuleiro individual de cada jogador.
Para a felicidade geral dos solistas, a minha opinião pouco importa para a indústria dos jogos. Atraídas pela demanda, as editoras desenvolvem modos solo cada vez mais elaborados para seus produtos. E mais do que isso, o design dos jogos vem sofrendo alterações para que a experiência dos modos solo esteja mais próxima da experiência com muitos jogadores. E tome
multiplayer solitaire sendo lançado no mercado!
Isso para mim não é algo legal, mas a defesa desse ponto de vista vai ficar para outro dia. Estamos vivendo a era dos solos e como nada é 100% bom ou ruim, vamos aproveitar as vantagens dessa tendência examinando um dos melhores jogos nessa categoria, que é o Cascadia.
Cascadia – Conceitos Básicos
Nós já temos um artigo do Jean no blog do Covil ensinando as regras do Cascadia (
http://covildosjogos.com.br/2022/04/14/cascadia/), então vou apenas resumir muito rapidamente o conceito do jogo.
Cascadia é um jogo de colocação de peças onde estamos montando uma reserva ou parque nacional com a fauna e os habitats típicos da região de Cascadia, que vai do norte da Califórnia até o Alaska, cruzando o Canadá e os Estados Unidos.
Deve ficar assim umas duas semanas por ano, mas o lugar é bonito
São cinco tipos de habitat (rios, pântanos, florestas, pradarias e montanhas) e cinco animais (ursos, alces, salmões, falcões e raposas). Basicamente a cada turno você terá 4 pares de tokens de animais e habitats a disposição e deverá escolher um deles.
A colocação é bem livre, você só precisa encostar o tile de habitat com uma aresta de outro tile já colocado (não precisa combinar os habitats, embora normalmente você queira isso) e o animal deve ser colocado em algum tile que o aceite (cada tile tem de um a três simbolos de animais que podem “viver” ali. Caso não esteja disponível, ou você não queira fazer isso, você o descarta. O jogo vai assim até que cada jogador tenha 20 turnos jogados e a partida acaba.
A pontuação tem três componentes: os animais, que pontuarão de acordo com as cartas de pontuação, sorteadas ou escolhidas antes da partida; os habitats que são verificados de acordo com a maior área que cada jogador possui em cada tipo, além de um bônus de dominância para quem tiver o maior habitat de cada tipo; e os “tokens de natureza”, que servem durante a partida para quebrar os pares a serem comprados, ou para trocar os animais que estão oferecidos, mas que ao fim do jogo valem um ponto cada caso sobrem no estoque individual.
A pontuação dos animais é um primor de design. Cada animal possui quatro opções de pontuação, mas que sempre variam dentro da mesma ideia: os ursos formam grupos isolados, os alces montam manadas com formatos específicos, os salmões formam cardumes como se estivessem subindo um rio, os falcões vivem isolados e as raposas dependem sempre dos animais ao seu redor. Isso dá ao jogo uma característica temática forte, independente das cartas que saem na sua partida.
No modo solo, o jogo é armado como se fosse uma partida de 2 jogadores, com a exceção de que o jogador começa sem tokens de natureza. O jogador joga normalmente e quando termina a jogada, retira as peças de habitat e animal mais à direita da fila e adicionam-se dois novos pares, completando os 4 regulamentares. E é só isso. A pontuação é a mesma, com a diferença que o bônus de dominância (2 pontos) é obtido para cada habitar que seja igual ou maior que 7 tiles.
O que dá brilho ao jogo solo é a campanha de 15 cenários sugerida no manual. São nesses desafios, de dificuldade crescente, que é onde o jogo realmente se destaca, pois você tem um objetivo a cumprir e normalmente é necessário estudar a sinergia entre os animais e os habitats para gerar a pontuação necessária, dentro das limitações impostas pelo cenário.
Seguem algumas observações importantes:
- Não estou preocupado em bater recordes, basta completar os cenários. Tenho certeza que qualquer um pode conseguir placares bem melhores que esses.
- A quantidade de partidas e as pontuações são o relato fiel do acontecido. Na medida do possível, estou tirando fotos das partidas bem sucedidas.
- Me dei o direito de, uma vez ou outra girar os tokens que havia colocado sem atenção e que depois percebi que tinha tornado a continuação daquele terreno impossível. Estou “pikachuzando”? Sim, estou, mas olha só: o jogo é meu, são partidas solo, meu tempo é limitado e eu só fiz isso em casos onde eu não tinha feito uma escolha deliberada quando botei o token inicialmente. Nos casos que eu conscientemente tomei uma decisão, eu não voltei atrás. Assim como também não troquei tiles de habitat ou de animais de lugar após finalizar um turno.
- A maior parte das partidas foi jogada na cópia física, mas para facilitar a minha vida eu joguei algumas partidas no ótimo site que oferece o cenário 1 do modo solo (https://cascadiagame.github.io/). Eu uso as cartas do jogo como referência, jogo no computador, ignoro a pontuação do app e pontuo manualmente.
- Se você acha que os detonados estragam a experiência de jogar, pule a descrição dos cenários e vá direto para as minhas observações finais. De qualquer forma, eu não entrego nada totalmente de bandeja, não há fórmulas para ganhar nenhum dos cenários, apenas conto o que eu fiz e quais as dificuldades que eu senti.
Dito isso, vamos aos cenários. As cartas são mostradas sempre pelas suas letras, na ordem em que aparecem no jogo: Ursos, Alces, Salmões, Falcões e Raposas.
Cenários 1 a 3 – Fazer pelo menos 80 pontos com os conjuntos de cartas AAAAA, BBBBB e CCCCC.
Esses 3 cenários são praticamente introdutórios, é possível vencê-los jogando apenas buscando as oportunidades que aparecem, sem necessariamente montar uma estratégia. Os três foram vencidos na primeira tentativa, sem grandes problemas. Eu gosto muito de ter os salmões como base e buscar os outros animais de acordo com as oportunidades que ajudem a dar dominância nos habitats.
Tentativas: 3
Placares: 103, 93, 88
Cenário 4 – Fazer pelo menos 85 pontos com o conjunto de cartas DDDDD.
Esse já é mais interessante, pois as pontuações precisam de sinergia (os salmões pontuam os bichos ao redor, as águias precisam ter bichos diferentes separando-as, as raposas precisam estar em pares). É necessário um certo planejamento do que será feito, pois você precisará da contribuição de todos os bichos e também ter uma pontuação razoável dos habitats. Eu me baseei nas águias, alces e ursos e busquei duas dominâncias para completar o cenário depois de 3 tentativas frustradas.
Tentativas: 4
Placares: 78, 74, 74 e 88
Cenário 5 – Fazer pelo menos 85 pontos usando as cartas CDBBB com pelo menos 3 raposas pontuando o máximo possível.
Eis o primeiro cenário com dois objetivos. O jogo é muito curto, são apenas 20 turnos, então é preciso priorizar as raposas e colocar os demais bichos ao seu redor, garantindo que cada um tenha contato com 3 pares de bichos diferentes. Em compensação, só isso já garantirá 21 pontos. Conseguindo resolver as raposas, a pontuação vem quase que naturalmente. Coloque as raposas próximas sem estarem juntas, para tentar aproveitar peças que pontuem para mais de uma delas.
Tentativas: 3 (placar das raposas em parênteses)
Placares: 88(17), 87(19), 87(21)
Cenário 6 – Fazer pelo menos 85 pontos usando as cartas DBCCB usando ao menos 4 bichos de cada tipo.
A questão desse cenário é que como você precisa 4 exemplares de cada animal e você só pega 20 animais durante a partida, você sempre estará precisando de um animal específico na última rodada. Isso quer dizer que você precisa buscar peças de natureza para evitar perder por não conseguir os animais que precisa no final (mesmo assim, não é garantido, eu troquei os animais 2 vezes na última rodada e não veio o derradeiro salmão). A pontuação também não é tão simples de conseguir. Eu agrupei ursos, alces e salmões e coloquei as águias e as raposas do jeito que deu. Deu certo, por pouco.
Tentativas: 2
Placares: 84, 89
Cenário 7 – Fazer pelo menos 90 pontos usando as cartas BCCDC fazendo pelo menos 20 pontos com os falcões.
(ATENÇÃO!! EU DESCOBRI QUE O CENÁRIO 7 ESTAVA ERRADO. Joguei de novo e refiz o texto).
Você precisa de pelo menos seis falcões, organizados em 3 pares, para fazer os vinte pontos exigidos. Planeje desde o início como criará os territórios entre os falcões, lembrando que você precisa de 3 pares com dois animais entre eles ou 2 pares com três animais e o restante com um só. Acho que os Alces são uma boa pedida para gerar muitos pontos, pois eles podem ser colocados livremente e ainda ajudarem uma raposa a pontuar bem.
Como eu tive que refazer esse cenário depois de passar por todo a campanha, acabou sendo fácil dessa segunda vez. Resolvi de primeira com 99 pontos.
Tentativas: 3 (regra errada) e 1 (regra certa)
Placares: 99 (os placares feitos com a regra errada deixaram de fazer sentido)
Cenário 8 – Fazer pelo menos 90 pontos usando as cartas CBBAD fazendo pelo menos 5 pontos de tokens de natureza e sem colocar ursos ao lado de alces.
Esse me deu trabalho, pois ou eu fazia os pontos, ou segurava os 5 tokens. Tentei 4 vezes e abortei uma logo no início, porque o jogo estava todo errado. A foto é de uma tentativa onde fiz os mesmos 93 pontos do jogo vencedor, mas onde não fiz os 5 tokens (a partida vencedora foi no app e eu esqueci de salvar a imagem).
A questão é basicamente prestar atenção para separar os alces dos ursos, pontuar naturalmente e cuidar para que a pontuação dos territórios não te derrube. Priorize pelo menos um bônus de maioria.
Tentativas: 4 (e uma abortada)
Placares: 88(6), 93(2), -, 87(6), 93(5)
Cenário 9 – Fazer pelo menos 90 pontos usando as cartas CADCB fazendo pelo menos 10 pontos com cada animal e 5 pontos com cada habitat.
Depois de duas tentativas bem ruins, onde fiquei longe de cumprir os objetivos e os pontos, parei pra “projetar” o desenho que eu teria que fazer para chegar nos pontos. O objetivo é muito apertado, porque nada pode ficar de fora, e é preciso pelo menos 4 tokens para atender os objetivos de ursos, alces, e gaviões. então é fundamental economizar onde é possível, nos salmões e raposas, onde o objetivo pode ser cumprido com 3 e 2 tokens respectivamente. Para isso, eles tem que ficar no centro do terreno, reforçando um a pontuação do outro e dando alguma flexibilidade para buscar os demais. Passei raspando.
Tentativas: 4
Placares: 78, 88, 89, 91
Cenário 10 – Fazer pelo menos 95 pontos usando as cartas CBDBB tendo pelo menos 60 pontos de animais e pelo menos 3 habitats com 7 pontos ou mais.
Depois de vários cenários difíceis, esse é uma espécie de respiro, A pontuação exigida é alta, mas as cartas possuem muita sinergia e, com as técnicas já aprendidas, é não é difícil matar a charada. Eu consegui resolver esse de primeira!
Usei uma ideia parecida com a do 9 (pois eles compartilham algumas cartas) e abusei dos falcões para aumentar a pontuação. A questão principal foi garantir a maioria em 3 terrenos, começar com tiles que ajudavam em dois terrenos ao mesmo tempo facilitou.
Tentativas: 1
Placar: 104
Cenário 11 – Fazer pelo menos 95 pontos usando as cartas BAACA fazendo pelo menos 30 pontos com ursos e sem que florestas e rios sejam colocadas lado a lado.
Esse foi, até agora, o mais difícil, disparado. Já tinha desistido, voltei atrás e, apesar de inúmeras tentativas abortadas, na quinta partida contada eu consegui cumprir os objetivos e passar raspando com 95 pontos.
O problema é que 9 dos 20 tiles precisam ser de urso e você precisa ter os lugares para colocá-los (lembrando que você não pode usar tiles que tenham rio e floresta).
É melhor criar a semente dos 3 grupos de urso necessários logo ao invés de trabalhar um grupo por vez. Eu percebi que sempre que tentava fazer um grupo por vez eu ficava caía várias vezes em becos sem saída. Invista fortemente nos tokens de natureza, para ter algum controle no final do jogo e para ter alguma gordurinha para te salvar no final do jogo (no meu caso, foi a conta: eu venci apenas porque tinha os tokens e na segunda melhor tentativa eu perdi porque não sobrou um token de natureza ao final da partida).
Tentativas: 5 (e várias abortadas)
Placares: 93, 94, 88, 81, 95
Cenário 12 – Fazer pelo menos 95 pontos usando as cartas ABAAC com um grupo de salmões pontuando ao máximo, sem alces nas florestas e com pelo menos um habitat fazendo 12 pontos.
Fazer o cardume de salmões não é o maior problema. Coloque uma raposa (de preferência, uma que dê token) ao redor deles, o máximo que puder, uma vez que ela pontua por repetição. De resto, evite os alces, uma vez que há uma restrição para eles e abuse dos ursos e falcões. A maior preocupação será garantir o habitat de 12 pontos (o jogo não deixa claro, mas eu considerei que o bônus está incluído nisso,
in dubio pro reu). Eu tentei trabalhar com pelo menos dois habitats, visando ter maiores chances no final. Perto do anterior, esse aqui é bem tranquilo.
Tentativas: 3
Placares: 92, 86, 98
Cenário 13 – Fazer pelo menos 100 pontos usando as cartas DCCBC com um grupo de alces pontuando ao máximo, com pelo menos 5 falcões e com falcões e alces estando sempre adjacentes.
Nesse cenário, você precisa de pelo menos 8 alces e 5 falcões. Sobram 7 tiles, que eu sugiro que você gaste numa combinação de ursos e salmões à sua escolha. Esqueça as raposas nesse cenário, pois você já tem restrições demais e elas só valem a pena se forem perfeitamente colocadas, fazendo 5 ou 6 pontos.
O problema é fazer isso tudo sem atrapalhar a sequência de alces com os falcões estando ao mesmo tempo adjacentes e tocando em pelo menos um alce cada.
Recomendo fortemente usar uma formação de falcões em “W” como a que eu fiz. Pode ter outro jeito de cumprir o objetivo, só que essa é a mais fácil planejar com antecedência, e isso é importante, porque esse cenário não dá espaço para muito ajuste.
Ainda assim, você precisará de muitos pontos de território. Mesmo completando 3 maiorias, eu só consegui fechar porque fiz mais dois pontinhos com o último tile do jogo (a floresta com pradaria que está mais à esquerda).
Tentativas: 4 (e várias abortadas)
Placares, 81, 94, 88, 100
Cenário 14 – Fazer pelo menos 100 pontos usando as cartas ACBAD sem que as montanhas estejam adjacentes a desertos e os pântanos adjacentes a rios e fazer pelo menos 35 pontos de habitat.
Esse aqui eu perdi a conta de quantas vezes eu tentei. Primeiro porque é muito fácil se enganar e colocar um tile inválido (existem 11 tiles que possuem montanha com deserto ou pântano com rio). Os tiles inválidos, dependendo de quantos entrarem no jogo, atrapalham bastante, pois você não pode pegá-los (cheguei a ter rodadas onde entraram 2 ou 3 deles no mesmo turno – não sei o que acontece se vierem 4 ao mesmo tempo, acho que você perde imediatamente).
Estava tão difícil sequer chegar perto do resultado que cheguei separá-los no jogo físico para jogar sem eles. Melhorou um pouco, comecei a ser consistente na pontuação dos habitats, mas não conseguia fazer os 100 pontos.
Cansei de jogar o físico e passei pro app no computador. Não teria como filtrar os tiles ruins, mas pelo menos era mais fácil resetar uma partida ruim e começar de novo.
Comecei a entender melhor como organizar os animais e estava chegando perto. Além de pontuar bem nos terrenos (você tem que buscar pelo menos 3 maiorias) e pegar todos os tokens de natureza que puder, a chave para mim foi botar o par de raposas logo no início e trabalhar para maximizar seus pontos, fazendo 4 pares distintos ao redor. Bati na trave com mais de 97. No que foi a partida derradeira, antes de botar o último tile eu parei pra fazer as contas e vi que, botando um salmão ao redor da raposa e aumentando um pontinho do pântano, eu completava os 100 pontos regulamentares. UFA!
Tentativas: 9 (essas foram as que eu anotei, perdi a contas de quantas eu tentei)
Placares: 86, 86 ,92, 90, 94, 91, 97, 93, 100
Cenário 15 – Fazer pelo menos 100 pontos usando as cartas ADADA com pelo menos 5 pontos de tokens de natureza, 3 habitats com pelo menos 7 pontos e dois animais pontuando 20 pontos ou mais.
Fazendo jus ao fato de ser o último cenário, este é quase um exercício de masoquismo. Quando começa, nada parece combinar com nada, é como se os bichos estivessem competindo pelos habitats. Ter que pegar tokens de natureza e não usá-los é um inferno.
Eu não diria que esse é mais difícil que o 14, sinceramente acho que não é. A questão é você rala pra fazer, parece que vai dar… e ele te deixa no quase. Você faz o requisito de animais e habitats, falta um token, consegue os tokens, falta uma maioria ou o objetivo de animal (normalmente, por uma peça).
Para vencer, eu acabei focando nos salmões e nos falcões, três pares de falcões com dois bichos entre eles para garantir os 21 pontos e uma trilha grande de salmão. O resto foi priorizar os habitats e os tokens. Acabei conseguindo 9 pontos com as raposas, o que ajudou bastante. Fiz 106 pontos e ainda deixei um urso perdido (eles pontuam em pares).
Tentativas: 4 (e várias tentativas abortadas)
Placares: 97, 99, 98, 106
A experiência de completar a campanha
Esse foi, sem dúvida, meu maior “projeto” como gerador de conteúdo até hoje.). Foram 49 partidas anotadas, tirando as inúmeras tentativas frustradas e o tempo estudando os cenários e compondo combinações para simular possibilidades. Além obviamente do tempo que levo para escrever. Ao todo, foram umas 40 horas de dedicação, o que tornou Cascadia o meu jogo mais jogado em 2022, por larga margem.
Valeu a pena? Com certeza! Além do prazer de resolver os desafios, que vão ficando gradualmente mais difíceis, mas sem ficarem impossíveis, eu pude com isso criar um conteúdo que, pelo menos no momento em que escrevo (julho de 2022), parece ser inédito. Não encontrei nada em português em inglês que chegue perto do que você encontra aqui. Se por acaso alguém tiver notícia de algo parecido, manda o link nos comentários.
A simplicidade da sua implementação e o comportamento conhecido do automa, coisas que poderiam ser um problema, na verdade se tornam qualidades. A manutenção do jogo não o incomoda, dificilmente você vai errar e além disso, resolver os cenários só é possível porque você consegue encadear jogadas em turnos seguidos. Um automa com comportamento aleatório tornaria os cenários mais complexos totalmente frustrantes.
A curva de dificuldade dos cenários foi muito bem pensada, com inclusão de dificuldades novas e alguns momentos de respiro. Lembra até um design de fases de videogame. Aliás, todo o conceito dos modos solo dos jogos da Flatout tem essa “gamificação”. Além dos cenários, o jogo sugere conquistas para serem registradas durante os jogos com vários jogadores. Há muita coisa para se aproveitar nesse jogo, sozinho ou em grupo.
A comparação com videogame não é à toa. Nas últimas “fases” eu usei uma prática que usava muito nos jogos de console: comecei mal?
Reset e começa de novo.
Conclusões
Não foi à toa que Cascadia venceu o Spiel des Jahres. É um jogo muito bem feito e projetado especificamente para atender a demanda de bons jogos para uma pessoa. Eu ouso dizer que ele é um jogo solo com modo multiplayer e não contrário (que é o que esperamos normalmente).
Seu único defeito é o lado negro da sua principal qualidade: ele é mais um quebra-cabeças do que um jogo competitivo. No modo para vários jogadores, a interação é praticamente nenhuma. Obviamente, para o modo solo isso não é problema nenhum, muito pelo contrário, é onde o jogo brilha.
Já havia gostado de Calico (talvez venha a fazer os seus cenários no futuro, caso esse texto renda uma boa repercussão), mas enquanto neste o final normalmente é anticlimático, pois dificilmente você consegue o que precisa nos no fim, em Cascadia o jogo lhe dá muito mais chance de ser feliz.
Mal posso esperar para testar o Verdant, novo jogo da mesma editora, que se encontra em late pledge. Pelo que já apresentaram com Calico e Cascadia, com certeza será outro sucesso!
Por fim, Cascadia é um bom jogo familiar e um ótimo puzzle, que demonstra sua verdadeira face não na frente dos convidados, mas naquele momento de intimidade em que você fica a sós com ele. Altamente recomendado.
Nota: 8/10
Eduardo Vieira é analista de sistemas, e participa do Hobby desde 2018, mas vem tentando descontar o tempo perdido! É casado, mora no Rio de Janeiro e vive reclamando que não tem parceiros para jogar tudo que compra!