Resumo
Sentinels of the Multiverse (SOTM) é um jogo cooperativo para 3 a 5 jogadores, no qual cada um assume o papel de um super-herói na luta contra um supervilão em cenários variáveis, pré-definidos e com efeitos especiais sobre heróis e vilões.
Este jogo pode ser jogado em modo solitário, com o único jogador controlando 3 a 5 heróis. A dificuldade é bem ajustável conforme o número deles, mas eu não recomendo que ninguém jogue com mais do que 3 heróis, pois o trabalho de coordenar os efeitos das cartas de um sobre os outros e os inúmeros tokens pode ser demasiado para um único jogador e tornar a experiência cansativa e enfadonha.
Gameplay
O jogo gira em torno de três elementos principais: super-heróis, vilões e cenários.
Cada super-herói possui uma carta especial, com sua figura principal, seus poderes fixos e pontos de vida. Esta carta tem dois lados, o principal, com as informações acima, e o lado do herói incapacitado, que é a situação na qual ele já está com seus pontos de vida zerados, quase fora de jogo, mas que ainda pode contribuir com o restante da equipe com alguns poderes. Adicionalmente, cada herói tem um deck próprio com 40 cartas, que variam entre poderes variáveis, equipamentos, aliados e outros tipos de cartas. Estas podem dar a ele e a seus companheiros benefícios no ataque, defesa, recuperação de pontos de vida e uma ampla gama de outros efeitos.
Os vilões também possuem cartas especiais, que listam o set up para cada um deles, os poderes fixos, a quantidade de pontos de vida e as condições de vitória para serem derrotados. Também possuem um deck de vilões com 25 cartas variadas de natureza muito semelhante ao que foi descrito para os heróis.
Os cenários são diferentes locações onde os combates entre heróis e vilões ocorrem. Cada um deles tem efeitos bastante distintos, provocados por uma das 15 cartas que constitui este deck, benéficos ou não, sobre os personagens e podem modificar drasticamente o grau de dificuldade de uma partida.
O objetivo é derrotar o vilão, seja por acabar com seus pontos de vida, seja por cumprir alguma condição de vitória definida pela carta dele.
A mecânica do jogo é bastante simples. No início do jogo, cada jogador saca 4 cartas de seu deck pessoal. Esta constituirá sua mão inicial. O jogo acontece em 3 turnos.
O primeiro é o turno do vilão, que constitui-se das ações desencadeadas pelo vilão e suas cartas (divididas no início e final do turno) e em sacar uma nova carta do deck do vilão.
O segundo turno é o turno dos heróis, no qual eles podem jogar uma carta, utilizar um poder e comprar uma nova carta. Quando o jogador não joga cartas ou utiliza poderes, está autorizado a comprar 2 cartas ao invés de apenas uma. É importante dizer que não há limite para o número de cartas disponíveis na mão do jogador.
O terceiro turno é o turno do cenário, no qual saca-se uma carta do deck do cenário e esta poderá ter algum tipo de efeito sobre todos, heróis e vilões.
Os turnos seguem-se até que o vilão tenha sido derrotado ou todos os heróis incapacitados.
Componentes
A caixa base tem 10 heróis, 4 vilões e 4 cenários, porém sua edição revisada acrescentou as duas primeiras expansões (
Sentinels of the Multiverse: Rook City e
Sentinels of the Multiverse: Infernal Relics), cada uma, 2 heróis, 4 vilões e 2 cenários. Há um grande número de outras expansões:
Sentinels of the Multiverse: Shattered Timelines,
Sentinels of the Multiverse: Vengeance,
Sentinels of the Multiverse: Wrath of the Cosmos, Villains e, agora mais recentemente, a derradeira OblivAeon, que decretará o fim do Multiverso. Todas acrescentam variabilidade ao jogo por oferecerem novos heróis e vilões e algumas novas mecânicas. Além das expansões grandes, há várias mini-expansões, que consistem de novos heróis, vilões e cenários. Muitas promos foram liberadas nesses 5 anos também, a maioria consistindo de variantes das cartas principais dos heróis. A versão americana do jogo também tem a opção de cartas principais oversized para os vilões, que são uma ótima adição ao jogo, pois facilitam visualização e leitura. Outros opcionais eram um conjunto de tokens extra e o playmat oficial, que já está fora de linha há algum tempo.
Eu não sei como virá a edição da Gigante Jogos, mas pelo que está na página 2 do manual, que descreve o conteúdo da caixa, ela será a versão básica do jogo, sem as duas primeiras expansões. O manual você pode conferir nesse
link.
As cartas tem boa gramatura, mas acredito que sleeves sejam bons não apenas para proteção, mas para melhorarem a experiência do manuseio.
A arte é legal, mas eu confesso que, para alguém que foi criado sob a égide do traço de grandes nomes dos quadrinhos, como John Byrne, John Romita Jr., Frank Miller, Jim Lee, Todd McFarlane, Andy Kubert, Mike Mignola e outros tantos, acho-a meio bobinha. O que me incomoda um pouco nela é o aspecto meio de cartoon que o jogo tem. Não é o que eu mais gosto num quadrinho, prefiro as coisas mais sombrias, mas de modo algum a arte chega a ser um problema para que a experiência do jogo seja boa. Um outro ponto a respeito da arte e do mundo do jogo é que parece que a gente já viu aquelas histórias todas antes, não tem muita originalidade. Pelo menos eles beberam das fontes certas!
Além das cartas, há também tokens de papelão que nos ajudam a manter a contabilidade de pontos de vida e efeitos das cartas (por exemplo: bônus e prejuízos dos ataques e defesa). Os tokens são bons também, nenhuma queixa quanto a eles.
Pode ser que minha avaliação dos componentes não seja positiva, que eu tenha criticado demasiadamente a arte, mas de modo algum entendam dessa forma, pois a jogabilidade e a qualidade do jogo não são afetadas por nada disso. Pessoalmente, a arte não me apetece muito, pois prefiro outro tipo de traço.
Discussão
1) Decisões interessantes: Sentinels of the Multiverse é um jogo cooperativo muitíssimo interessante, de mecânica simples, mas que possui, a cada jogada, decisões estratégicas muito importantes. No âmbito dos jogos multiplayer, os sentinelas do Multiverso conseguiram acabar com um dos principais vilões dos jogos cooperativos: o alpha player! É virtualmente impossível que haja um jogador que comande e determine as ações dos demais, pois a interação entre as habilidades individuais é incrível! Adicionalmente, como o jogo envolve a combinação de efeitos dos diferentes personagens, o downtime é praticamente nulo, pois você precisa estar ligado o tempo todo no que está acontecendo com o outro herói, com o vilão e com o cenário. No modo solo, alpha player e downtime não existem, evidentemente, mas um problema que o jogo pode ter, como eu falei acima, é a dificuldade de se concatenar tudo que está acontecendo em uma só cabeça.
2) Rejogabilidade: É praticamente infinita mesmo utilizando-se somente a caixa básica – fazendo-se uma conta rápida, somente com a caixa básica e utilizando-se 3 heróis por partida, temos 11520 combinações possíveis de heróis, vilões e cenários. Se você agregar alguma das expansões, esse número aumenta ainda mais.
3) Dificuldade: A dificuldade é variável conforme a combinação de heróis, vilão e cenário escolhida. O jogo tem uma tabela no seu manual que elenca a dificuldade de se utilizar cada um deles no jogo e isso ajuda um pouco. Uma boa alternativa é você utilizar randomizadores eletrônicos sob a forma de aplicativos e planilhas de Excel que permitem a você escolher um grau de dificuldade específico. As expansões agregam muito neste sentido, pois lhes permitem, principalmente, vilões e cenários mais duros. Os heróis trazidos por elas agregam em poderes e variabilidade.
4) Tema e senso de aventura: Estes elementos estão intrinsecamente inseridos neste jogo. Definitivamente a gente se sente como super-heróis numa batalha difícil contra um supervilão nos cenários mais hostis imagináveis! É como se fosse uma verdadeira história em quadrinhos. As cartas são muito evocativas da temática! Um ponto bastante interessante é a cooperação necessária entre os heróis, isto dá aquela sensação de time de super-heróis, meio Liga da Justiça, meio X-Men, no qual o poder de um se complementa ao dos demais para um resultado do interesse de todos.
Veredito final
Eu falei bastante do jogo como um bom cooperativo, mas admito que nunca joguei SOTM como tal. Tenho bastante experiência com ele no modo solo e acho-o uma ótima pedida, sempre vendo bastante mesa por aqui.
Um aspecto que acho muito interessante, e este é o grande ponto forte do SOTM, é a cooperação entre os personagens (ou jogadores) e a simbiose que há entre os poderes deles. Para ser bem sucedido neste jogo é preciso, sobretudo, tentar extrair de cada um dos personagens o que melhor ele pode oferecer para o time. Às vezes um herói nem é lá tão bom, mas combinando suas habilidades com a de outro, o time fica imbatível. Por isso eu disse que tanto alpha player quanto downtime não existem, você tem muito para pensar, combinar e não há como você se desligar do jogo.
Entre os pontos que julgo negativos de SOTM, temos alguns.
O primeiro, que já mencionei, é a arte, mas isso é muito mais meu gosto pessoal do que qualquer coisa.
O segundo é que o jogo tem muitos tokens a serem contabilizados e, por vezes, a interação entre os personagens e suas habilidades é tão grande que a gente se esquece de computar algum benefício ou prejuízo. No modo multiplayer isto pode não ser um problema maior, pois a gente tem ajuda para isso, mas para o jogador solitário isso pode tornar a experiência muito desgastante, pois paramos de pensar no jogo para cuidar de tokens. Para minimizar este problema, há um aplicativo da própria Greater Than Games, chamado Sidekick, que ajuda a fazer justamente esta contabilidade de pontos de vida e efeitos.
O terceiro ponto é a dificuldade. Jogadores solo precisam de desafios consideráveis, pois a nossa exposição ao jogo e seus elementos acaba sendo maior do que no caso dos jogos multiplayer. Eu gosto de jogos muito difíceis, que fazem seu cérebro derreter, seus olhos sangrarem e você, ainda assim, continua jogando até conseguir uma magra vitória após incontáveis derrotas. SOTM tem alguns cenários/vilões mais difíceis, mas no geral eles não o são para os meus padrões. As expansões tem o grande benefício de trazerem mais desafios neste sentido e, a meu ver, agregam bastante ao jogo base. Não penso no SOTM sem as expansões mais, principalmente sem as duas primeiras. Esta critica, em particular, talvez não seja merecida, pois tenho a clara percepção de que o SOTM tem a proposta de ser justamente uma coisa leve e descontraída, o que, volto a dizer, não permite esconder a estratégia que há em fazer as combinações certas para o objetivo final.
No frigir dos ovos, entre pontos positivos e negativos, a sobra para SOTM é muito, muito positiva. É um ótimo jogo, com mecânica muito simples e um fator diversão enorme. Mesmo dando algum trabalhinho para jogar sozinho, ainda é um dos que eu gosto bastante quando não estou a fim de encarar coisas mais pesadas ou quando quero variar do
Legendary: A Marvel Deck Building Game. Eu não tenho dúvida nenhuma de que este será um enorme sucesso no mercado nacional, principalmente por ser um jogo muito gostoso de se jogar e fácil de aprender.