Sim, eu não estava nada satisfeito em usar o inglês para chamar aves com nomes tão conhecidos no Brasil. Mesmo sendo uma nulidade em artes, peguei o arquivo com a tradução do nome das aves, dei uma melhorada, formatei e imprimi em etiquetas autoadesivas. Depois, recortei e colei nas cartas, devidamente sleevedas. Vejam como ficou:

Por que fazer isso?
Eu compreendo a decisão da editora de não traduzir o nome das aves. Interfere em algumas cartas (falarei disso mais abaixo) e, por consequência, no jogo. Eles deixaram essa opção clara no manual, sendo bem transparentes – o que é sempre bom.
Mas para mim, e para o grupo de jogadores que costumo jogar, é muito melhor ter o nome das aves em português. Essas cartas não representam orcs da Terra-Média ou seres de Tatooine, são animais que existem na realidade, e muitos deles podem estar bem próximos de você nesse exato momento. Usar o nome popular das aves aproxima bastante os jogadores dessa realidade. Um wood stork é, para muitos, um nome qualquer, mas cabeça-seca é fácil de lembrar e talvez alguns já tenham até visto algum. Além disso tem a pronúncia, “ruby-throated hummingbird” não é, para a maioria, algo exatamente tranquilo de se dizer. Poderia continuar com outros argumentos, mas o principal é que uma das maiores qualidades de Wingspan como jogo de tabuleiro é ampliar o conhecimento dos jogadores sobre o mundo das aves. Lá tem número de ovos, habitat, desenho e curiosidades extraídas desse mundo, e muito se perde quando não se usa o nome da ave em nosso idioma.
Como eu fiz?
1) Primeiro, tradução dos nomes. Eu peguei o “Apêndice com a Nomenclatura das Aves em português”, que está aqui na Ludopedia. Esse foi um bom trabalho, mas que necessitava de uma revisão, porque muitos nomes não estavam de acordo com o nome constante na última lista de aves do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), lançada em 2021. Além disso, havia uma ou outra inconsistência que precisava ser melhorada. Assim, todas as 170 cartas de aves foram traduzidas. Tenho uma planilha de Excel com a tradução revisada que fiz.
2) Depois, providenciei as etiquetas. Peguei 3 cartelas de etiquetas Pimaco 6087, de 12,7 mm x 44,45 mm (cada cartela vem com 80 etiquetas e um pacote com 10 cartelas não custa nem R$ 15), formato carta. No site da Pimaco é possível fazer o download dos parâmetros de impressão para formatos carta e A4. Com isso, criei um arquivo no Word usando os parâmetros para minha impressora e versão do Word.
3) Feito isso, coloquei no arquivo o nome das aves, em português e científico, como está na carta. Seria lindo se eu tivesse a fonte original, mas não tenho, então usei similares. Tive ainda que centralizar e dar um recuo na direita de 0,7 mm, pois o espaço na carta é menor que o tamanho da etiqueta. Posso depois colocar esse arquivo aqui, caso haja interesse.
4) Dados inseridos e revisados, formatação feita (alguns nomes de aves foram diminuídos, para caber), revisão de novo e impressão das etiquetas, com muito cuidado para a folha não ficar torta.
5) Eu podia simplesmente colar as etiquetas, mas, para não ficar horrível, optei por cortá-las em 11mm embaixo e 38mm na direita. Fiz as marcações ao lado da etiqueta (ver abaixo) e cortei com estilete, primeiro fazendo os 20 cortes horizontais e depois os 4 cortes verticais.

6) Depois, foi só colar na carta sleevada. Fica mais fácil acertar o adesivo se começar a colar pela lateral inferior da etiqueta.
Quais as consequências na dinâmica de jogo?
Como já devem saber, algumas cartas de objetivos estão vinculadas ao nome da ave constante na carta. Se o nome muda, a força da carta muda.
Isso acontece com 4 cartas de objetivo, do fotógrafo (cores no nome), anatomista (partes do corpo no nome), cartógrafo (termos geográficos no nome) e historiador (nomes baseados em pessoas). Por exemplo: o Clark’s greble, que valeria para o historiador, virou mergulhão de cara branca, valendo para fotógrafo e anatomista.
No fim das contas, todas essas 4 cartas perdem força, porque em português haverá menos cartas cujos nomes contem cores, partes de nome, termos geográficos e patronímicos. Vejam:
Fotógrafo: reduz de 34% (57 cartas) para 26% (45 cartas)
Anatomista: reduz de 22% (37 cartas) para 18% (31 cartas)
Cartógrafo: reduz de 21% (36 cartas) para 19% (33 cartas)
Historiador: reduz de 11% (19 cartas) para 6% (11 cartas).
Solução: tirar essas 4 cartas de objetivos. Ainda sobram 22 cartas de objetivos, dá para jogar tranquilamente.
Ah, e para quem tem a expansão Europa, as novas cartas de objetivos não são afetadas pela tradução.
Conclusão
Eu achei que valeu a pena. O jogo flui melhor, a atenção aumenta, sobretudo de jogadores ocasionais. Se eu tivesse mais talento, uma etiqueta no tamanho correto e a fonte do jogo ficaria melhor, mas paciência.