Em Robinson Crusoe: Adventure on the Cursed Island o jogador assume o papel de um náufrago tentando sobreviver em uma ilha deserta amaldiçoada. Além de prover o próprio sustento, o jogadore deve proteger-se dos perigos da ilha, das intempéries e, ainda, cumprir os objetivos definidos por cada um dos cenários dentro de um número de turnos pré-definido por eles. Isto pode ser feito com a procura por alimentos, caçada, construção de abrigos e equipamentos que podem ajudá-los ao longo desta aventura.
Gameplay
Através de uma mecânica de alocação de trabalhadores, cada jogador é capaz de realizar 2 ações por turno de jogo. No modo solo, o jogador conta com a ajuda do Friday, um nativo da ilha, e de um cão náufrago, cada um podendo realizar 1 ação, sendo que o cão é capaz apenas de realizar ações acompanhado por outro peão e apenas ações de caça e descoberta de novos terrenos.
Sobre o tabuleiro dispomos tiles hexagonais randomizados pelo embaralhamento. Os tiles são revelados conforme o jogador vai explorando o terreno com suas ações. Cada um dos tiles fornece diferentes recursos e pode resultar em outros elementos do jogo, como encontrar animais selvagens, mistérios da ilha ou tokens de descoberta. Os mistérios da ilha e os tokens de descoberta são imprevisíveis e podem tanto ajudar muito quanto atrapalhar na mesma medida.
O jogo se desenvolve em 6 fases:
1) Fase de eventos: na qual saca-se cartas do deck de eventos, as quais podem ter consequências imediatas e/ou irem para a área de ameaça, podendo ter repercussões futuras.
2) Fase de moral: conforme os eventos e o desenrolar das acões, o personagem pode ficar com seu moral elevado ou deprimido, o que pode resultar no ganho de tokens de determinação ou perda dos mesmos. Os tokens de determinação são utilizados para ativar habilidades especiais de cada um dos personagens e de algumas cartas.
3) Fase de produção: na qual o jogador obtém recursos (alimento ou madeira) oriundos do local na ilha onde seu acampamento se situa.
4) Fase de ação: é o momento no qual o jogador decide onde serão alocadas as suas ações para aquele turno, lembrando que no modo solo temos a ajuda do Friday e do cão. Nesta fase o jogador pode resolver uma ameaça imposta pelo deck de eventos, caçar, construir abrigo/muros/telhado/armas/ítens, obter recursos, explorar a ilha, organizar seu acampamento ou descansar. Quanto mais tempo, ou seja, quanto mais ações você consome para desempenhar as tarefas de construir, obter recursos e explorar, menos exposto à aleatoriedade você fica. Quando alocamos menos ações para desempenhar uma tarefa, corremos riscos e somos obrigados a rolar dados que podem ter quatro desfechos: falha, sucesso, obtenção de tokens de determinação e ferimentos para o personagem. As demais ações (caçar, organizar o acampamento e descansar) não são sujeitas à aleatoriedade dos dados. Ao final da fase de ação, o jogador obtém os benefícios do seu trabalho, por meio das construções, ítens e obtenção de recursos.
5) Fase do clima: nesta o jogador pode sofrer as consequências do clima hostil da ilha. Através da rolagem de dados, ele pode ser vítima de chuva, tempestades ou animais famintos em busca de comida. Para se proteger destes problemas é necessário que ele construa um abrigo adequado e muros para se proteger.
6) Fase da noite: é o momento em que o jogador se alimenta. Alimentos perecíveis que tenham sido obtidos também são descartados. Neste momento o jogador pode deslocar seu campo para outro tile caso ele assim deseje.
O jogador vence o jogo se conseguir cumprir o objetivo do cenário sem a morte do personagem. O jogo é perdido se o personagem morre ou se os objetivos do cenário não são atingidos até o último turno.
Componentes
A versão que tenho aqui em casa, da Z-Man Games, é de ótima qualidade! O tabuleiro é bastante robusto, com arte evocativa, e as cartas são de material muito bom também. Um ponto muito interessante do tabuleiro em si é o quanto ele nos auxilia com as diversas fases do jogo. Basta entender o jogo em suas linhas gerais e o tabuleiro auxilia na sua condução de forma muito boa.
Os tokens dos jogadores e recursos tem pouco charme, são peças de madeira em formato cilíndrico ou cúbico como se vê em muitos jogos euro tradicionais. O jogo vem com conjuntos de dados personalizados para as ações de construção, exploração, obtenção de recursos e para a fase do clima. A versão atualizada da Portal Games vem com tokens bem melhores, representativos do que são de verdade e, os peões dos jogadores, tem adesivos que permitem sua melhor identificação.
Um ponto muito ruim do jogo é o manual. Ele poderia contar com um bom player aid e ser mais explicativo, inclusive com exemplos do jogo. Robinson Crusoe não chega a ser um jogo difícil de se aprender, mas tem tantos elementos e detalhes que pode afastar o jogador que não quiser investir algum tempo em aprendê-los.
Discussão
1) Decisões interessantes: Um ponto muito interessante neste jogo é a construção narrativa a que ele se propõe. Em cada turno, sacamos uma carta do deck de eventos. Esta impõe uma situação que pode ou não ser resolvida pelo jogador conforme sua estratégia para aquela partida. Quando realizamos ações de construção, obtenção de recursos e exploração do terreno e, por não termos alocado o número adequado de ações e termos sido obrigados pelo rolamento de dados a sacar uma carta destes decks (construção, recursos e exploração), esta carta também resulta em um evento que pode ter efeitos imediatos e/ou ser incorporada ao deck de eventos, resultando em complicações futuras para o jogador. Em outras palavras, quando ignoramos um problema, pode ser que ele volte a nos assombrar no futuro e seja bem pior do que antes. O ponto crítico é que não temos um número suficiente de ações para fazer tudo aquilo que gostaríamos, o que resulta na necessidade de fazer escolhas sábias, isto é, priorizar o mal menor.
2) Rejogabilidade: É praticamente infinita, pois o deck de eventos utiliza um número de cartas que equivale à metade do número de turnos de cada cenário, enquanto o jogo vem com 73 cartas deste tipo. Além disso, os tiles de terreno são aleatórios também. Já joguei um número razoável de partidas e posso afirmar categoricamente que todas foram muito diferentes entre si.
3) Dificuldade: Robinson Crusoe não é um jogo para os fracos de coração. Se você procura um jogo relaxante, alegre, para jogar com os amigos, você veio ao lugar errado. Este é um jogo tenso, que fará seu cérebro derreter e seus olhos e nariz sangrarem o tempo todo. Tem um grau de dificuldade elevado, mas é extremamente satisfatório tanto nas vitórias, quanto nas derrotas. Pessoalmente, tenho uma relação meio síndrome de Estocolmo com o meu Robinson Crusoe: quanto mais apanho, mais adoro o jogo!
4) Tema e senso de aventura: Este é um jogo em que a temática encontra-se altamente integrada à mecânica. Imagine-se em uma ilha deserta, na qual você precisa fazer um monte de coisa para sobreviver, mas não apenas não sabe, como também não tem forças para fazer tudo que gostaria. Você paga um preço por suas escolhas e, não havendo todo o tempo do mundo, precisa fazê-las com sabedoria. O senso de aventura é dado pelo jogo em si, pelas descobertas e pelo perigo iminente a cada rolada de dados e carta sacada.
Veredito final
Eu comecei minha vida nos mundo dos jogos de tabuleiro modernos com Robinson Crusoe: Adventure on the Cursed Island. Aí acima eu mencionei a síndrome de Estocolmo e volto a falar: quanto mais jogo esse jogo, mais detalhes descubro e gosto mais do que vejo.
O jogo base tem rejogabilidade infinita e a expansão Voyage of the Beagle acrescenta algumas coisas bem interessantes. Há algumas outras mini-expansões disponíveis no BGG gratuitamente e no site da Portal Games para compra, mas não as testei para lhes dizer como são. Acho que as expansões são para os jogadores experimentados e que gostariam de outros desafios diferentes da caixa básica, mas de modo algum são absolutamente necessárias. O criador do jogo, em seu vlog, insinuou que uma nova expansão está no horizonte, agora com um ar cthulhiano ao jogo. Espero que venha coisa boa por aí!
Eu acredito que este, ao lado do Mage Knight, talvez seja o melhor jogo de tabuleiro já desenhado e uma das melhores experiências solo que já vivi. Recomendo a todo jogador que não tiver medo de um jogo temático com alto grau de dificuldade e que procure por uma ótima experiência narrativa. Recomendo o vídeo do igorknop para quem quiser ter uma boa idéia do gameplay.
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