Marllos Dias::
Concordo com os pontos apresentados, e achei o texto do Cacá muito bem fundamentado. Mas, gostaria de acrescentar um ponto que eu às vezes vejo sendo falado, especialmente por hobbystas mais antigos, que é o de que "Ah, mas por que as pessoas estão pagando um preço absurdo nesse jogo, sendo que em 2009 ele custava 1/10 desse valor?". Muitas vezes parece que os jogadores mais antigos não se tocam de que quem está comprando provavelmente é um novato que nunca tinha ouvido falar de jogo de tabuleiro ou hobby quando os preços eram menores. Muito bacana que em 1999 o Catan custava 50 reais e foi um negócião, amigo, mas nessa época eu mal sabia ler direito, quanto mais saber o que era Catan. E vejam, meu ponto nem é o de passar pano pros preços, que realmente estão caros, mas de apontar essa postura que de vez em quando eu vejo na comunidade, de querer culpar os jogadores, especialmente os novatos, pelos preços altos. Se eu quero o jogo e o preço é esse, vou ter que pagar, fazer o quê. Hoje mesmo, adoraria adquirir uma cópia em português do Concórdia, mas não tenho como, porque a última tiragem do jogo aconteceu muitos anos antes sequer de eu ouvir falar de jogo de tabuleiro moderno.
Caro Marllos Dias
Eu concordo com você, mas gostaria de acrescentar, que não existe um único culpado pelo fato dos preços de board games no Brasil terem atingido preços estratosféricos. Não é nem preciso dizer que eu não sou um "passador de pano", porque nós já nos esbarramos em outros tópicos e você sabe que eu sou um sujeito sério, e não tenho esse perfil "apaziguador sem razão". Na verdade, o responsável pelos preços estarem tão altos é um conjunto de fatores, que de per si, não seriam suficientes para tornar os board games tão caros.
A culpa da alta de preços, não é exclusivamente da pandemia; não é dos novos jogadores que querem comprar todos os lançamentos para recuperar o tempo perdido, por terem entrado tarde no hobby; não é dos jogadores mais abastados que compram esses lançamentos caríssimos, seja pelo preço que for, e sinalizam para a editora que ela pode cobrar ainda mais caro (sempre lembrando que cada um deve fazer o que quiser com seu dinheiro e ninguém tem nada com isso); não é dos jogadores mais antigos que reclamam, com razão, dos alto preços, mas que vendiam o Stone Age no mercado de usados por, totalmente inflacionados, R$ 600,00, o que fez com que a Devir relançasse o jogo custando R$ 500,00 (muito embora eu acredito no livre mercado, e que cada um tem o direito de vender o que quiser pelo preço que quiser, mas as consequências disso são outra história); a culpa não é das editoras que jogam o preço lá para cima, mas que às vezes são forçadas a isso, até para cobrir o rombo deixado por outro jogo que não vingou (gente, as editoras estão cobrando caríssimo pelos jogos, mas ninguém está enriquecendo com board games no Brasil, e boa parte dos editores, salvo o pessoal da Galápagos e talvez da Devir, têm outro emprego que é a sua principal fonte de renda), e por fim, a culpa também não é, exclusivamente dos nossos históricos problemas de infraestrutura (logística de pesadelo, impostos escorchantes, burocracia enlouquecedora, economia combalida e baixíssimo padrão de vida da população). Só que se cada um desses fatores não é o exclusivo culpado, por outro lado, cada um deles contribui, em maior ou menor grau, para esse cenário tão caótico de preços.
Nessa situação tão adversa, eu acho que o melhor que todos podemos fazer é escrever e discutir, não apenas sobre os próprios board games em si (se é bom, se não é, se tem dependência de idioma, se é quebrado, se rola bem em dois, etc), mas também sobre o futuro e a situação do mercado de board games, sobre o consumo consciente, e sobre alternativas para baratear os preços. A questão é que a própria comunidade boardgamer nem sempre quer discutir preço e essas outras qustões. Muitas vezes as pessoas preferem se limitar ao campo das resenhas e dúvidas nas regras. Eu inclusive acho que só não vieram até agora, reclamar que esse é "mais um tópico inútil falando de preço", e que "essa discussão é chata", "não quer comprar, não compra", como se um mercado complexo como o de board games fosse tão simples assim, por conta do imenso prestígio, que o nosso "Decano" Cacá tem junto à comunidade. E aí, se boa parte da nossa comunidade não aceita sequer discutir, a respeito do mercado de board games, o que inclui a questão dos preços, aí fica realmente muito difícil.
Para terminar, é cada vez mais urgente, que a própria comunidade boardgamer promova o seu próprio despertar de consciência, e comece a praticar o consumo consciente, e entenda que colecionar é uma parte pequena do hobby cuja parte maior, mais importante e muito mais legal é jogar board games. Com isso, talvez as pessoas comecem a focar mais em comprar jogos, que não custem necessariamente mil reais, e que elas vão efetivamente conseguir jogar com regularidade, ao invés de ficar acumulando uma cacetada de jogos, amontoando a casa, muitos dos quais bem caros, muitos dos quais nem sairão do plástico, até serem vendidos, e isso se forem vendidos.
Para que isso ocorra, é fundamental essa interação entre o pessoal da antiga e o pessoal mais novo, promovendo o debate, um novo olhar mais revigorante sobre os jogos, e principalmente a troca de ideias (objetivo precípuo desse fórum). É por isso que textos como esse do Cacá são tão importantes.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio