Há vários tipos de jogos com modo solo com entre os jogos de tabuleiro moderno. Os principais são: o jogo solo verdadeiro, o jogo cooperativo com modo solo, o jogo competitivo com modo solo ou “beat your own score” e o modo “dupla personalidade”. Vamos agora a cada um deles!
O jogo solo verdadeiro
O jogo solo verdadeiro é aquele que foi desenhado para ser jogado por somente um jogador. Estes, infelizmente, são jogos raros no meio, sendo o melhor exemplo deles o
Friday, de Friedemann Friese. A arte infantil e a mecânica simples podem enganar o jogador desavisado, uma vez que escondem um jogo com alto teor de estratégia e decisões complexas. Friday alia duas das coisas que eu mais gosto: o modo solo bem desenhado e o deckbuilding. Acho-o um prato cheio para quem quer começar o jogo solo. Para quem quiser conhecer o jogo melhor, assista ao
vídeo do
igorknop, que foi o que me despertou a vontade de ir atrás do Friday.
Há ainda uma série de outros jogos, particularmente os wargames, mas eu prefiro não arriscar nenhuma opinião sobre eles, afinal nunca joguei nenhum wargame, por não ser um gênero que eu gosto o suficiente para comprar um deles. São um mundo à parte! Os mais frequentemente mencionados nas listas dos melhores com modo solo incluem
Navajo Wars,
D-Day at Omaha Beach,
Hornet Leader: Carrier Air Operations,
Labyrinth: The War on Terror, 2001-?, Phantom Leader,
Thunderbolt Apache Leader entre tantos outros.
O jogo cooperativo com modo solo
Os jogos cooperativos, de um modo geral, podem ser jogados solo assumindo-se o papel de um ou mais personagens, tentando vencer os desafios impostos pela mecânica e pela “inteligência artificial” do jogo. Este talvez seja o mais comum, visto que hoje em dia os jogos cooperativos são cada dia mais populares. Entre os jogos já lançados no país e que sem enquadram nesta categoria temos, por exemplo,
Pandemic,
Flash Point: Fire Rescue,
Eldritch Horror,
XCOM: The Board Game e
Zombicide. Este modo de jogo tem suas vantagens e desvantagens.
A principal vantagem é a de que, tratando-se de um jogo essencialmente cooperativo, ou seja, em que não há competição entre os jogadores para o objetivo final, é possível combinar as ações e habilidades do personagens para o melhor resultado. Isto, no modo solo, é simples de se conseguir, afinal é simples cooperarmos com nós mesmos! As divergências de opiniões são menores!
As principais desvantagens do modo solo dos jogos cooperativos são duas, a meu ver: a falta de diálogo e o gerenciamento dos elementos do jogo em si. Os cooperativos requerem debate e estratégia, de modo que é legal você ter alguém para discutir as mesmas, fato este que é inviável no modo solo. O segundo ponto, que é o gerenciamento dos componentes, pode ser bastante maçante a depender do jogo. Dou o exemplo do
Sentinels of the Multiverse, que é um dos melhores cooperativos que já joguei e deverá ser em breve ser lançado no país pela Gigante Jogos. É um jogo altamente estratégico, dinâmico, mas que no modo solo cansa um pouco pelo grande número de tokens a serem gerenciados por um único jogador. Isto pode ser um pouco mitigado pelo aplicativo Sidekick, disponível para compra, mas eu, purista, ainda não tive coragem de “corromper” minha mesa analógica com um dispositivo digital.
Uma das melhores experiências de jogo solo que já tive foi justamente com um jogo cooperativo que tem um modo solo brilhantemente desenhado, que é o
Robinson Crusoe: Adventure on the Cursed Island, do designer polonês Ignacy Trzewiczek. Neste jogo assumimos o papel de náufragos em uma ilha amaldiçoada e precisamos cumprir as metas propostas pelos cenários. A mecânica é a de alocação de trabalhadores, mas o que é mais brilhante neste jogo é sua estrutura narrativa e o impacto que cada decisão tem sobre o futuro do jogo. Este é um dos melhores jogos já desenhados e, a meu ver, seu modo solo é sua melhor representação. Este jogo em breve estará no Brasil também, lançado pela Editora Conclave.
O jogo competitivo com modo solo ou “beat your own score”
Jogos competitivos podem apresentar suas variantes solo nas quais você batalha contra a resistência inerente do próprio jogo, tentando atingir a maior pontuação possível dentro de condições pré-definidas pelo jogo ou, como no caso das ligas de desafios, por elas mesmas. Este tipo de contexto é bastante comum nos euros clássicos, como o
Agricola e
The Gallerist.
Alguns destes jogos, como é o caso do celebrado
Viticulture e sua expansão
Tuscany: Expand the World of Viticulture, apresentam um tipo de “inteligência artificial” chamada de auto-bot, que se constituem de moderadores artificiais do jogo que auxiliam a cadenciá-lo de acordo com a vontade do designer. Esperem só para ver a variante solo do
Scythe, criada por Morten Pedersen, o mesmo do Viticulture.
Estes jogos, via de regra, não apresentam variantes solos pré-concebidas, sendo muitas vezes as mesmas criadas e incorporadas por meio da comunidade de jogadores. Os aqui mencionados são felizes exceções e tem estas versões incluídas em seus próprios manuais.
O modo “dupla personalidade”
Em jogos essencialmente competitivos, player versus player, a forma mais simples de se criar uma variante solo é o modo “dupla personalidade”, no qual um único jogador assume o papel dos demais e joga um contra o outro. Por isso disse que trata-se do modo “dupla personalidade”, pois é algo como o Dr. Jack duelando com o Mr. Hyde. Quase todos os jogos competitivos podem ser adatados a este modelo de jogo, mas eu não curto nem um pouco esta modalidade, para lhes ser sincero. Acho-a muito boa para entender as mecânicas e o funcionamento do jogo antes de explicá-lo a um oponente real, mas não para jogar.
Esta proposta de classificação dos jogos solo é um apanhado que fiz de várias leituras de posts da 1 Player Guild no BGG e trata-se de um ponto de partida, mas, de forma alguma, de uma tabula rasa definitiva.
Tenho muita dificuldade de classificar alguns jogos, como o
Mage Knight Board Game e o
The Lord of the Rings: The Card Game. Tenho em minha cabeça que estes são jogos verdadeiramente solo com modos multiplayer cooperativos ou não, mas, se formos à definição dada por seus criadores e fabricantes, passam longe disso. Estes dois jogos, em particular, assim como o Robinson Crusoe, expressam-se em toda a plenitude no modo solo.
Bom, esperem que a próxima postagem vem para surpreender a todos.
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