Cada dia mais fico desanimado com o trabalho. Muita gente acha que ser o Overlord local é fácil, que é só ter um castelo ou caverna, espalhar o caos, cobrar tributos, traçar planos de destruição global, mas ninguém lembra como é difícil a manutenção do seu covil, colocar as armadilhas certas, contratar monstros, guardar seu tesouro de aventureiros… Ah! Como odeio essa corja de aproveitadores, que só entram em nossos lares para matar, pIlhar e destruir. Se eu só tivesse que me preocupar com eles, mas não, tem a CACA (Cooperativa de Avaliação de Covis e Afins) fazendo auditorias anuais ridículas, dizendo que só querem ajudar, que padronizar as masmorras aumenta a efetividade contra heróis, que a união dos Mestres do Mal ajuda a fortalecer nossa causa, mas na verdade esses parasitas (literalmente) só querem sua porcentagem de 6,66% da nossa sofrida malgueira. E se não tivermos o suficiente… Duque Xartkepasklalasfiuophodoofenshmirtz e Madame Felicidade Arco-íris do Amor tiveram que dar sua cota em Sangue, e olha que Duque Kart… Xepa… Lala Poh.. Fiofó… Blah Blah Blah… Não vou falar esse nome de novo. Sempre me engasgo. Por que não arranja um apelido igual a Madame Fada? Então, ele é um Lich e ela um Espectro da Morte. Eles nem sangue tem! Enfim, ser o principal antagonista está cada vez mais difícil. Pelo menos os lacaios já disseram que Dungeon Lords Tá na Mesa!

Dungeon Lords é um jogo de 2009, criado por Vlaada Chvátil. De dois a quatro jogadores, com duração média de 90 min, em Dungeon Lords os jogadores são Lordes do Mal tentando deixar seu covil o mais inexpugnável possível, para que os aventureiros não o destruam.
- Minhoçassenhora! Esse jogo é do Mau!
Não, individuo com dificuldades gramaticais, esse jogo é do Mestre Vlaada (Nota da Sra. Slovic: E o Mau está correndo pelos encanamentos do castelo), criador de clássicos como Through the Ages, Codenames e Dungeon Petz (Nota do Sr. Slovic: Que é um spin off do Lords). No jogo temos que construir uma masmorra e enchê-la de desafios mortais para impedir que detestáveis aventureiros avancem muito, destruindo nosso covil. A partida é dividido em dois anos e cada anos em quatro estações, onde enviamos nossos serviçais para realizarem tarefas, que podem ser desde cavar túneis, conseguir comida, construir armadilhas ou recrutar monstros.

No início do turno o jogador escolhe secretamente as três ações que quer fazer, sendo que há espaço para somente três Overlords e sempre há quatro participantes jogando, então pode ser que alguém seja bloqueado, não conseguindo fazer tudo o que planejou. Caso a partida não tenha quatro pessoas jogando, as vagas de Overlord são preenchidas por um Dummy Player (Nota do Sr. Slovic: Algo como “Jogador Burro”).
- Ei!
Se reconheceu, né? O Dummy é um jogador controlado pelo jogo, que não tem nenhuma estratégia. Em outros jogos existe algo parecido, o Autônoma, mas ele pode se apresentar como um adversário difícil de ser batido. As duas primeiras ações escolhidas não podem ser usadas na rodada seguinte, a menos que você tenha sido bloqueado. Cada ação traz benefícios diferentes dependendo se você for o primeiro, segundo ou terceiro a escolher. Normalmente o primeiro tem mais vantagens, porém certos benefícios secundários podem ser melhor que o prêmio principal. Por exemplo, quando você escolhe a ação de pegar comida, o primeiro paga uma moeda por duas comidas, já o segundo aumenta um de maldade para pegar três comidas e o último ganha aumenta a maldade em dois para ficar com três comidas e uma moeda.

O manual (Nota da Sra. Slovic: Que é extremamente hilário) explica que o primeiro Overlord mandou seus seguidores comprar comida na vila. O segundo ordenou que seus Minions roubassem a comida e o último fez o mesmo, mas seus capanga pegaram também a moeda que o primeiro usou. E todas as outras ações têm explicações neste estilo, fora todo o resto das mecânicas do jogo.
E um ponto importante do jogo é o Nível de Maldade. Dependendo das coisas que o Overlord faz sua fama de malvadão aumentar e isso pode não ser uma coisa tão sábia de se fazer, já que quanto mais maligno for o vilão, maior a probabilidade de um grande herói começar uma aventura para derrotá-lo. Sim, porque a cada fim de estação, um herói começa a caçar os jogadores (Nota do Sr. Slovic: Mas não os Dummy) e quem tem o maior nível de Maldade pega o herói mais poderoso. E se passar de um certo nível, em vez de enfrentar Ladino desastrado ou um Clérigo incrédulo ou um Mago burro ou um Guerreiro fracote, terá que se ver com o valoroso Paladino. Quem conhece D&D (Nota do Sr. Slovic: Dungeons & Dragon, o RPG mais famoso que existe), verá muitos elementos familiares.
- Eu não sei nada de RPG!
Você não sabe de nada, João das Neves. Mas realmente não precisa conhecer para jogar. É só um sabor extra. No fim das quatro estações (Nota do Sr. Slovic: Que é o melhor álbum da Legião Urbana), os aventureiros atacarão e é bom que o Overlord tenha preparado bem seu covil. Cada herói derrotado vale pontos no fim do jogo. As regras da batalha são simples. Para cada sala, o jogador seleciona se terá monstros ou armadilhas ou nada. Depois do ataque dos lacaios, o grupo reage lançando magias (mago), desarmando armadilhas (ladino), curando o grupo (clérigo), sempre na frente do grupo (guerreiro) ou fazendo tudo isso ao mesmo tempo (paladino). Sempre que um monstro é derrotado ou uma armadilha é ultrapassada, o túnel é considerado como conquistado, e isso tira pontos no fim do jogo. Ao passar para o próximo túnel os heróis recebem ferimentos por stress. A batalha termina com a morte do grupo, com a conquista de todos os túneis ou no fim do quarto round.
E não pense que acabou, pois temos o segundo ano.
Tudo é feito novamente. Novos túneis podem ser escavados, armadilhas mais mortais adquiridas (pois as usadas não existem mais), monstros mais poderosos podem ser convocados, novas salas podem ser construídas, mais diabretes podem ser dominados. E você sempre precisará de comida e ouro. E para que? Para os Monstros e para a Inspeção. Sempre que você pegar um monstro tem que pagar seu custo, que pode ser comida, ouro ou aumentar seu nível de Maldade. E no segundo ano, monstros mais poderosos podem até querer um diabrete para jantar. Em alguém momento do ano, haverá um novo pagamento para os monstros que você já tem (Nota do Sr. Slovic: E se não pagar, eles te abandonam) e o pagamento de Imposto (Nota da Sra. Slovic: Para os inspetores de masmorras. E agradeça que não há um sindicato para os diabretes). E como vilão vive de desgraça, todo o ano há um Evento sorteado, que nunca é bom. E sim, isso acontece nos dois anos (Nota do Casal Slovic: Não se esqueça que no novo ano os aventureiros já conseguiram XP suficiente para passar de nível! Se não entendeu a referente, pergunte para seu amigo RPGista mais próximo de você).

- Meu, tem muitas regras. Não consigo acompanhar. Puta jogo chato!
Primeiro, não use bordão alheio sem o consentimento do dono (Nota da Sra. Slovic: No caso, eu mesma. Você não está autorizado). Segundo, sim, tem muitas regras, mas elas são até intuitivas e bem detalhadas no manual, então é só acompanhar as explicações e tirar as dúvidas. E nada de fazer podcast dizendo que o jogo é idiota, que ninguém te explicou direito e que você perdeu só porque te perseguiram o tempo todo! Tenha coragem uma vez na vida e pare de chorar. Dungeon Lords é pesado, estilo Dominant Species, Vinhos ou Agra, mas não é injogável. Dificilmente você vai pontuar positivamente de primeira (Nota do Casal Slovic: Mas mesmo assim pode vencer) pois ele é punitivo. Tem muitas maneiras de perder pontuação, possibilidade infinita de que, mesmo estando tupo bem planejando, tudo sairá errado para você junto no turno anterior a um Imposto ou Evento. Mas se você quer um jogo simples, recomendo Boca Rica ou Cai-não-Cai.

No geral, Dungeon Lords é um ótimo jogo e prepare-se para passar horas e mais horas em uma emocionante partida. Claro que não é para qualquer gosto, principalmente se você gosta de jogos leves e casuais (Nota da Sra. Slovic: Nada contra. Na realidade até prefiro esses, como Five Tribes, Tokaido, Gloom, Stone Age). Agora se você é do estilo mais pesado (Nota do Sr. Slovic: Tamos juntos!) e adora Terraforming Mars, Bora Bora, Pangea e Smartphone Inc, você já deve conhecer Dungeon Lords ou está perdendo um jogão. Como falamos, o manual é muito bem redigido e com várias piadas (Nota do Casal Slovic: Não negamos o texto do Vlaada influenciou nosso estilo de escrever. Quem conheceu os primórdios do Tá na Mesa! deve se lembrar que nossa escrita era mais padrão, com poucas tiradas ácidas. Nosso amigo nem existia!) que vale a pena jogar só para poder ler as regras. E depois de jogar Dungeon Lords, tente com a expansão ou vá conhecer seu irmão mais novo: Dungeon Petz. Tão bom quanto.
E é isso!