Recebi minha cópia de Camisa 12 no início dessa semana e, até então, joguei um total de 7 partidas. Desde já quero deixar claro que gostei do jogo e a união de tema com mecânica é algo executado de forma brilhante. David Coelho costumava dizer que os jogos tinham que gerar uma sensação prazerosa ao jogador e Camisa 12 faz isso com maestria com sua gameplay simples, porém muito tática. Meu único "porém" com o jogo foi relacionado à alta frequência de empates.
Desde antes do jogo ser lançado, tinha visto o Rodrigo Rego comentar sobre a alta frequência de empates do jogo, o que já me chamou atenção. Na prática, de 7 partidas que joguei somente 2 não terminaram empatadas, e essas 2 terminaram em resultados de 3 a 2 e 2 a 1, com a pontuação muito próxima de resultar em um empate (cerca de 1 a 3 pontos do próximo gol para quem estava atrás na pontuação). Vale ressaltar que todas as partidas que joguei foram controlando times distintos e contra times diferentes também.
Mas qual seria o problema disso? Bom, a sensação que fica um pouco é que não importa muito a estratégia que você quer seguir, a habilidade especial de seu time, a habilidade do time adversário e seu desempenho na execução, muito provavelmente o jogo vai convergir a um empate (como se fosse scriptado), normalmente 2 a 2 ou 3 a 3. Isso faz com que você sempre tenha que pensar seu jogo em uma vitória com base nos pênaltis, e isso também acarreta alguns problemas na minha visão.
Existem 4 cartas de pênaltis no jogo e todas funcionam da mesma forma, você marca 1 gol para cada peça do tipo listado na sua arquibancada e o mesmo vale para seu oponente. Com um conhecimento prévio básico sobre o jogo, você decora tranquilamente quais são as cartas de pênalti, isso faz com que a partida se resuma a uma tentativa de conseguir cerca de 3 ou 4 peças do tipo da sua carta de penalti e variar entre 2 e 3 peças dos outros tipos para se proteger da carta de pênalti do adversário. Ou seja, no final importa muito mais a quantidade das peças do que a forma como foram colocadas e a estratégia por tras da escolha das mesmas. Nas minhas experiências, sempre quem ganhou nos pênaltis foi pela diferença de 1 gol.
A forma como os gols estão dispostas na trilha de pontuação pode contribuir para resultados injustos no final do jogo. Alguns gols possuem um intervalo de até 10 pontos até o próximo gol, ou seja, um jogador pode estar 10 pontos a frente do outro e ainda assim o jogo estar empatado. Teoricamente, um empate deveria refletir uma partida que ambos adversários tiveram um desempenho muito próximo ou igual, porém 10 pontos de diferença no Camisa 12 é uma baita diferença. Nesse cenário, um jogador visivelmente jogou melhor que outro e ,ainda assim, foi colocado em condição de igualdade de pontuação em relação ao adversário.
Ao mesmo tempo, em outras ocasiões, 1 ponto a mais que o adversário pode ser o bastante para marcar o próximo gol e isso terminaria a partida com uma vitória sem pênalti. Logo, me parece um pouco inconsistente uma vantagem de 10 pontos poder significar um empate, mas um vantagem de 1 ponto poder significar uma vitória direta sem pênaltis, sendo que, neste último caso, o desempenho dos jogadores foi muito mais equivalente do que no primeiro.
Além disso, pode ser que o jogo seja decidido puramente com o jogar de uma moeda, ainda que um jogador esteja muito a frente do outro na pontuação, o que, de novo, na minha visão, representa uma injustiça. Da forma que vejo, ou os gols estão mais afastados um do outro do que deveriam ou deveria ganhar simplesmente quem fez mais pontos, sem utilizar do critério dos gols. Entendo que os gols fazem todo o sentido tematicamente, mas mecanicamente isso gera uma quantidade excessiva de pênaltis no jogo, por mais que você jogue com times diferentes e siga estratégias distintas.
A intenção desse post não foi em nenhum momento tentar diminuir o trabalho do Rodrigo Rego no design desse jogo. Faço questão de ressaltar que gostei do jogo e essa foi minha impressão das primeiras 7 partidas. Sem dúvidas o Rodrigo já deve ter jogado algumas centenas de partidas e eu adoraria que ele explicasse melhor essa questão, até pra tirar essa impressão inicial que tive do jogo. Parabéns ao Rodrigo e a Dijon pelo lançamento, espero que venham cada vez mais jogos nacionais de qualidade como o Camisa 12 e o Cosmos.