OBS: O texto foi quase totalmente escrito no início do ano, porém apenas agora tive tempo de finalizá-lo e postar aqui na Ludopedia.
Esse texto já começa com crise de identidade. Em essência, ele é um review comparativo entre o jogo Detetive atualmente vendido nas lojas, da Estrela, e o mesmo jogo da década de 90, tb da Estrela. Ele basicamente confronta os componentes (e alguns aspectos "extras") das duas versões. Por isso, ele está associado ao jogo Detetive na Ludopedia, oq por si só deve afugentar mais de 50% dos possíveis leitores (ler algo sobre esse jogo??? Não carece...).
Porém o objetivo principal é verificar o quanto a Estrela, provavelmente, ainda está "crua" para entrar nesse ramo dos boardgames modernos. Para ganhar leitores, eu poderia ter associado ao novo jogo Herdeiros do Klan? Poderia, mas não o fiz. Mas em compensação coloquei um título um tanto mais chamativo. Quem nunca?
E quando me refiro à Estrela estar "crua", nem é meu objetivo apontar minhas "armas" diretamente ao que já devemos esperar dela: caixas de papelão fracas e componentes de menor qualidade. Isso já é aguardado e (espero) que pelo menos sirva, com a concorrência feroz dela, para diminuir o valor dos preços atuais dos boardgames a um patamar menos exorbitante. Não espere aqui críticas à espessura das cartas ou qualidade dos componentes, não é o foco. Posso criticar sim alguns componentes, mas no contexto do jogo, e comparado ao mesmo jogo da Estrela de ano atrás. E tb vou criticar outros aspectos e erros, até mesmo infantis da empresa. E isso considerando um produto que já é dela há pelo menos 40 anos e, portanto, já deveria ter um certo know-how de como tratá-lo.
Tudo começou no Natal do ano passado. Meu filho, de 7 anos, ao ver propagandas e mais propagandas do jogo Detetive na TV, pediu um à avó de presente, sem saber que eu já tinha guardado um exemplar "velhinho de guerra". Ao ganhar o jogo, pediu para colocá-lo na mesa, e após algumas partidas, aqui vai a minha análise comparativa (nas fotos, comparativos entre as versões, normalmente em cima ou à esquerda, a versão antiga).
Primeiro, vamos começar com as evoluções, as coisas boas (ou, pelo menos, q "não fedem nem cheiram"):
Caixa
De fato, acho q a caixa deu um "upgrade". Senão em qualidade, pelo menos visualmente falando. A caixa antiga dava até um sentimento de vazio ao abrir, sempre havia impressão que faltava algo. Todos os componentes ficavam agrupados em 10% da caixa e o resto era um imenso espaço vazio. Além da caixa ter diminuído, por consequência da dobra do tabuleiro em 4 partes (antes era apenas em 2), os espaços em branco foram preenchidos com imagens e textos, tornando o jogo um produto mais vendável (apesar de eu ainda achar a arte da capa antiga melhor, mais elegante e "noir", mas é uma questão de gosto puramente estético).
Armas
Apesar das antigas de plástico metalizado não serem ruins, devo admitir que as "armas" novas, feitas realmente de metal, dão um charme extra para o jogo, além do peso, q dá uma sensação semelhante à quando jogamos boards com moedas de metal. Além disso, do jogo antigo sempre me incomodava a corda ser o único componente não metálico. Fazia sentido mas me incomodava. TOC, fazer oq...
Posição inicial dos jogadores
No jogo antigo, os jogadores começavam na "borda" do tabuleiro, precisando gastar umas 2 ou 3 rolagens de dados para chegar no primeiro cômodo. Agora cada um já começa em um cômodo específico, o quê economiza movimentos desnecessários, acelerando um pouco a partida.
E as coisas boas terminam aí... De resto, só
retrocessos, muitas vezes erros infantis, a começar por algo que me chamou a atenção logo de cara, no setup:
Verso da carta sobressalente
Em vários jogos da Estrela é comum vir uma ou duas cartas extras sobressalentes para que, caso alguma carta original do jogo seja perdida, ela possa ser usada no lugar. Até aí OK, nada demais, a preocupação é até legal e válida.
Atrás de todas as cartas existe um QR-code para que o jogo possa usar uma novidade: 2 apps para incrementar o jogo (mais sobre eles adiante). Os QR-codes são diferentes entre si, mas a diferença é tão sutil q é humanamente impossível diferenciar as cartas. De boa.
Porém o bicho começa a pegar quando nos damos conta q todas as cartas têm o QR-code menos UMA, a tal carta sobressalente... Eu entendo q não teria como colocar um QR-code em uma "carta estepe", sem saber qual carta ela vai representar, mas poderia ser um código "fake". Do jeito q fizeram, além de não poder mais jogar com o app (q, vale lembrar, é opcional), oq já não aconteceria mesmo, com a perda de uma carta, eles tb estragaram o jogo físico caso isso aconteça, pois a carta estepe está diferente das outras e, portanto, inútil, estragando a brincadeira.
Cores confusas
O jogo antigo tinha algumas cores de personagens um tanto confusas, a Dona Violeta era azul e o Sr. Marinho era azul escuro, porém ao menos a Srta Rosa era rosa mesmo. O novo jogo conseguiu tornar tudo ainda mais complicado, Definindo a Dona Violeta como token rosa, a Srta Rosa com o token vermelho e o Sr. Marinho, pasmem, no verde...
Passagens secretas
O novo jogo introduziu a ideia de limitar em 3 a quantidade de vezes que cada jogador pode usar passagens secretas. Até aí nada demais, se não fosse o fato de não haver qualquer novo componente de gameplay para contabilizar isso. Uma simples marcação no papel de deduções já resolveria, mas nem isso o manual se deu ao trabalho de citar.
Regras
Regras simples, quase óbvias, não foram explicadas. Por exemplo: entrando em um local, pode-se usar a passagem secreta diretamente e já fazer o palpite nesse outro local, ou apenas no turno seguinte? Outra: o manual diz que dois peões não podem ocupar o mesmo espaço, e caso outro esteja no caminho deve ser contornado, sem considerar as diagonais. Mas existem locais com apenas uma porta, se houver alguém na saída, o peão do jogador dentro do local ficará preso? E uma das piores: o quê fazer qdo o jogador erra o palpite da solução do jogo? Ele sai fora e não joga mais, ou fica "de castigo" só para mostrar suas cartas (como é explicado no manual antigo)? O manual novo não fala nada sobre essa situação...
Tempo de partida
O jogo antigo tinha 6 suspeitos, 6 armas e 9 locais possíveis. No jogo novo, esses números aumentaram para 8 suspeitos, 8 armas e 11 locais. Como é um jogo de dedução com base na eliminação de pistas, o aumento acarretou na necessidade de um aumento no tempo de partida (que já não era pouco), na minha opinião, sem qualquer vantagem para o gameplay, a não ser aumentar o número de jogadores, claramente uma estratégia de puro marketing.
Visual das cartas
As cartas antigas tinha um visual bem distinto para cada "categoria": suspeitos com fotos, armas com um fundo bege e locais com imagens temáticas e diferenciadas. As novas cartas atê mantém os suspeitos com uma padronagem diferente, mas as armas e locais ficaram muito parecidas, desenhos genéricos com o nome envolvido por uma "faixa da polícia" estilizada, dificultando sua separação, principalmente no setup, de uma forma mais rápida. Um detalhe bobo, mas que só demonstra como a "praticidade" do jogo não pareceu ter sido testada.
Tokens "bambas"
Os novos tokens dos jogadores são até bonitinhos comparados aos tokens padrão antigos. Agora são "detetives" estilizados. Porém em termos práticos eles são uma bela porcaria, pois a base é muito estreita para um corpo alto e com centro de massa muito acima devido à cabeça, tornando quase impossível não haver partidas em que eles tombem, atrapalhando o jogo pois o tempo todo fica-se na dúvida "onde meu token estava mesmo?".
Portas de entrada
O tabuleiro antigo deixava bem claro onde eram as portas dos cômodos, inclusive quando era uma "porta dupla". No jogo novo entender as portas é quase impossível... Vejam nas fotos acima. As setas apontam quase para o meio entre dois quadrados, dando a entender que são duas portas, mas não é exatamente no meio... Ao mesmo tempo tem algumas imagens de locais com contornos "entrecortados" (hospital, na imagem), deixando dúvida se devemos ou não contar determinados quadrados. Pior q são dúvidas tão óbvias (há inclusive um
tópico de dúvida aqui na Ludopedia) que mais uma vez só demonstra que o jogo não foi testado em sua versão final.
Esse pra mim é talvez o maior problema do jogo em si, sem contar os famigerados apps.
Apps
E pra finalizar, devo falar do que, teoricamente, era o grande diferencial do novo jogo, ocupando grande parte da capa: os aplicativos para celular. São dois os aplicativos disponíveis:
Detetive
Esse até funciona direitinho, tem uma interface legal, lê os QR-codes de boa. Porém ao receber "ligações" por ele, no meu celular simplesmente não ouvi nada. E pior, é enorme a quantidade de reclamações dizendo que ele dá dicas erradas. Eu pessoalmente nunca vi (de fato testei bem pouco), mas se isso é verdade, é um tiro no pé sem tamanho.
Detetive AR
Esse então, é totalmente inútil. A ideia é até boa, de usar a realidade aumentada para jogar, mas não possui qualquer explicação de como usar. Pra começar, a autorização para o uso da câmera estranhamente não é automático, é necessário ir antes nas configurações do celular. Mas até aí OK, os comentários do pessoal no GooglePlay ajudaram a resolver, porém não existe qualquer tutorial, manual ou um texto simples que seja de como jogar com ele, você deve apenas deduzir, por tentativa erro, o quê fazer com o app, até chegar um momento q vc simplesmente desiste de usá-lo, pois nada funciona e/ou faz qualquer sentido.
Enfim, essa foi minha "análise" do "novo" Detetive. Sei que nem faz muito sentido escrever tanto sobre um jogo nem tão moderno assim, mas meu intuito, como falei no início, também foi demonstrar que, se a Estrela consegue piorar até mesmo em um jogo que ela teoricamente domina, o quê esperar dela entrando no ramo dos jogos modernos, sem qualquer experiência?