Periodicamente, em nosso Instagram (@joga_mana), a tile antirracista entra em jogo, trazendo uma dose quinzenal de reflexões e discussões sobre questões raciais e de negritude dentro do mundo dos boardgames para que possamos juntas e juntos criar ambientes mais acolhedores e fazermos com que a comunidade preta esteja verdadeiramente representada também dentro do hobby!
Hoje, vamos alocar tiles muito importantes na partida, para formar o tabuleiro compilado que propomos no início do ano e continuarmos expondo e discutindo assuntos importantes. Trataremos especificamente sobre personagens que podem marcar presença em uma mesa de board game e do caso Daniele Tascini, game designer conceituado que teve parcerias rompidas devido à recorrência de comentários racistas. E há ainda quem diga que boardgames nada tem a ver com questões mais sérias, não é mesmo?
Apresentamos três personagens que infelizmente continuam marcando presença nas mesas de jogatina por aí. Vale dizer que a identificação desses papéis não é uma proposta punitiva ou de lógica de “bullying” sobre os indivíduos, que nada adiantaria para o problema coletivo, mas de transformação real nas relações e dinâmicas como um todo. Ninguém tá preso somente a um personagem, mas precisamos falar sobre isso, porque se informar, identificar ou se identificar são passos fundamentais pra mudar.
Conheça as figuras:
Negacionista
Já falamos sobre este por aqui. Aquela pessoa que insiste que o racismo não existe, mesmo diante das evidências. Uma proposta para lidar com essas pessoas é perguntar como elas demonstram a veracidade de um problema, por exemplo. E mostrar como essas ferramentas, se efetivas, como situações observáveis, notícias, pesquisas, dados etc., também podem ser usadas para evidenciar que o racismo, infelizmente, é real. Se forem ferramentas arbitrárias, como “é minha opinião”, dogmas pautados em crenças ou moral específica, pode não haver disposição para a reflexão, e então talvez não valha a pena insistir.

Narcisista
“Mas EU não sofro/cometo racismo”. Esse, por vários motivos, parece ter dificuldade em compreender que nem tudo gira em torno dele. Muitas vezes, Negacionista e Narcisista são a mesma pessoa, que usa a própria condição individual como totalidade para explicar o mundo, então, acredita que aquilo que não a atinge de forma consciente simplesmente não existe. Para Narcisistas, experimente contar curiosidades sobre formas de vida que eles desconhecem. Às vezes, cai a ficha.
Fiscal de assunto
O personagem mais chato do rolê. Não dá pra falar um A que ele abre uma caixa cheia de slogans: “mas jogo é pra se divertir”; “mas jogo é questão de gosto”; “mas isso não tem a ver com jogo (porque eu não quero que tenha)” etc.. O irônico é que ele costuma dizer que o mundo ficou chato e demonstrar uma intensa preocupação com a “diversão”. Essa pessoa está desconfortável e com medo de lidar com aquilo que não conhece ou não domina. Também pode ser Negacionista e/ou Narcisista. Vale lembrá-la de que ela não está em um Tribunal, nem corre perigo só porque alguém criticou seu jogo.
E aí, identificou algum? Comenta aqui nesse post ou em nosso instagram, aqui.
O caso Daniele Tascini
Esse caso teve bastante repercussão nas redes e acho que todos ficaram sabendo do ocorrido. Como já houve inúmeras discussões e análises sobre as falas do italiano Daniele, criador de alguns títulos de muito sucesso, como a série As Viagens de Marco Polo e Trismegistus: The Ultimate Formula e também da sua postura ao negar a possibilidade de se desculpar e aprender em momento oportuno, nós decidimos focar nas posturas das editoras.
Uma curadoria antirracista precisa estar atenta, questionando e cobrando assunção de responsabilidade de seus/suas parceiros/as. Nenhuma área da sociedade está livre do racismo, por isso, atitudes antirracistas são fundamentais inclusive na comunidade e no mercado de jogos de tabuleiro. Assim, a JogaMana se posiciona a favor das editoras Board&Dice e Hans Im Glück que se manifestaram recentemente rompendo as parcerias com o game designer, deixando claro que não compactuam com as ideias e declarações do premiado game designer, devido ao seu conteúdo racista.
As frases das imagens foram retiradas das declarações das editoras, com tradução livre. Disponibilizamos as declarações completas em inglês, para verificar, basta clicar nos nomes das editoras e acessar os conteúdos: Hans Im Glück e Board & Dice.
E seus jogos já publicados?
Muitos jogos já foram vendidos para lojas antes dos fatos ocorridos e como sabemos, os lojistas, muitos deles pequenos empresários, vêm enfrentando momentos difíceis, por isso, a Hans Im Glück ainda pede que a comunidade não puna os varejistas pelas atitudes do game designer, ressaltando que os jogos não possuem conteúdo racista, mas se mostrando receptivos e convidando as pessoas a entrarem em contato, caso percebam algum traço de racismo.
A Hans Im Glück ainda acrescentou mais uma ação: se comprometeram a doar toda receita que venham a receber com a série para uma ou mais organizações que tenham como tema o racismo.