iuribuscacio::
Caro Storum
Inicialmente, muito obrigado pelo elogio, e mesmo não concordando integralmente com os seus pontos de vista, acho que você escreve, e defende seus argumentos muito bem. No meu caso, meu camarada, realmente eu tenho que confessar que meus textos são bem longos. Mas em minha defesa eu alego que o tema é muito complexo, e os argumentos acabam exigindo, muito papel e tinta, ou, melhor dizendo, muitos caracteres. É claro que seria possível escrever apenas:
“O mercado de board games é assim, porque é, acostume-se a isso!”
Um argumento desses ocupa só uma frase, e quem quiser fazer assim tem todo o direito, afinal cada um se expressa como achar melhor, e ninguém tem nada com isso. No entanto, eu acho que isso contribui muito pouco para o debate.
Em se tratando do mercado nacional de board games, a pergunta de um milhão de dólares é: “Por que os jogos de tabuleiro são tão caros no Brasil?”. Imediatamente, as pessoas dão uma série de respostas, como por exemplo: “Ah, esse jogo custa muito caro porque tem uma miríade de componentes!”. Só que quando você retruca: “Tudo bem, mas quanto custou produzir essa miríade de componentes?”. Aí a respostas é: ”Ah, isso não dá para saber, porque é uma informação sigilosa, resguardada por cláusulas contratuais”.
A conclusão é evidente: se uma pessoa não sabe quanto custou para produzir os componentes do jogo, como ela pode atribuir o alto preço do jogo, ao alto custo de produção de seus componentes, sem saber se esse custou foi alto ou não?
Tudo que se pode fazer, e é o que as pessoas normalmente fazem, é especular a respeito, e uma especulação pode tanto estar muito certa, quanto muito errada. Talvez a única exceção, a essa ausência de informação, seja o peso da carga tributária, porque como ela é percentual, e é um percentual muito alto, esse custo será sempre muito elevado, independente de quanto custa o jogo. Agora, componente, licença, frete, e assemelhados, nada disso dá para saber, com certeza, a menos que você esteja envolvido diretamente na produção do jogo, e às vezes nem assim.
Conforme eu disse no texto, quando você vê o Stone Age ser vendido pelo mesmo valor que as cópias usadas estavam sendo negociadas, fica claro que a Devir não fez nenhuma engenharia de precificação. O que ela fez foi esquecer o quanto o jogo custou realmente, e pensar “dane-se o preço real, se as pessoas estão pagando R$ 500,00, é isso que nós vamos cobrar”. Além disso, fica claro também, que certamente o custo total do jogo foi abaixo de R$ 500,00, porque se esse custo total tivesse sido, por exemplo, R$ 600,00, a editora não ia vender o jogo com prejuízo. O que ela faria seria vender pelos R$ 600,00, e justificar que esse valor superior corresponde a um jogo novo e não usado. A empresa está errada? De forma alguma, ela está cumprindo o papel dela que é maximizar os lucros. Só que da mesma forma, eu também tenho todo o direito de reclamar, sendo consumidor e cliente da empresa, pelo fato dela vender o jogo, por um preço muito mais alto, para aumentar a margem de lucro praticada normalmente, só porque a escassez do jogo, fez com que as cópias usadas fossem vendidas por um valor muito acima, do seu real valor de mercado. Pelo menos é como eu penso.
Em relação à prática lamentável de ficar vilipendiando as empresas pelas redes sociais, e algures, eu acho melhor nem comentar, porque a ofensa é a arma de quem não tem argumento.
Um forte abraço e boas jogatinas.
Iuri Buscácio.
P.S. Só para não dizer que eu não comentei, mas quando você diz que não faz sentido achar o maior “luxo e elegância”, pagar R$ 200,00 ou R$ 250,00, em um jogo de 300g, e criticar o jogo de R$ 800,00 com 10 kg de componentes, eu infelizmente sou forçado a discordar. Com todo o respeito, eu acho que, talvez, o jogo de 300g custe R$ 200,00 ou R$ 250,00, justamente porque existe um jogo que custa R$ 800,00, que é muito dinheiro mesmo para um jogo de 10 kg, e boa parte das pessoas pagam sem pestanejar. Possivelmente, se não fosse a facilidade com que as pessoas estão dispostas a pagar R$ 800,00, em um jogo de tabuleiro (por melhor que sejam as suas qualidades e todo o estupendo trabalho intelectual envolvido), talvez fosse bem mais difícil para as editoras venderem um jogo de 300g por R$ 200,00 ou R$ 250,00, e possivelmente tais jogos custassem bem menos.
Somemos ao seu raciocínio a primeira pré-venda e segunda pré-venda do Red Cathedral.
Talvez tenha surgido um gasto adicional imprevisto relacionado aos mesmos fatos que causaram o atraso da entrega.
Talvez tenha sido mera readequação à nova disposição do mercado para pagar mais.
Tem como saber? Não - não enquanto as editoras não forem transparentes.
Quem defende os preços como algo além das editoras adotará uma explicação como mais provável. Quem acha que elas não buscam necessariamente uma margem de lucros estável e coesa nos diversos produtos, mas que capitalizam em "marca, grife e pedigree", achará outra.
E todos estaremos especulando.
Eu, pessoalmente, creio na influência do estado geral do mercado (e suas dinâmicas naturais), e acredito merecer atenção a hipótese desse efeito de escalada de preços a partir de certos marcos.
Com efeito, houve recentemente um aumento generalizado de preços - como muito bem exposto ao citarem Everdell, Arnak (e agora Hallertau), Tainted Grail, Witcher.
E o dólar subiu muito recentemente - mas será que veremos alguma mudança com o leve recuo dele?
E como essa história toda casa com Brass: Birmigham e Stone Age se encaixa?
Enfim, tenho minhas opiniões e gosto das discussões aqui por achar que o pessoal sempre enriquece meu ponto de vista.
Parabéns àqueles que querem dialogar e, àqueles que se chateiam com a prática, lembrem-se que a participação é opcional.