VitorICM::Olá pessoal, um ou dois acréscimos com o olhar de um professor de história que sou.
1- A comparação da escravidão que ocorreu no Brasil com os gladiadores ou qualquer outra escravidão da história é ainda mais equivocada se lembrarem que: enquanto na antiguidade uma pessoa se tornava escrava por dívida ou por ser derrotada em uma guerra, na escravidão atlântica o que te tornava escravo era a sua cor de pele. Daí o preconceito Racial.
Indo além se vc fosse negro foro no Brasil império e alguém duvidasse vc teria de provar ser livre, e não a pessoa que duvidou prova que vc era escravo. Qualquer semelhança com a maneira como a polícia aborda os jovens da periferia hoje (já os tendo por bandidos) não é mera coincidência.
2- Outro fato, agora sobre cotas. Em minha época na Universidade Federal de Sergipe, um grupo da própria universidade levantou dados das avaliações feitas por cotistas e não cotistas e em média a nota dos cotistas era maior que a dos não cotistas. Só pra derrubar essa ideia de que cotistas, sociais ou negros entram mais despreparados nas faculdades.
3- Na história, como já foi falado no caso da Alemanha, é importante conhecer o passado, mas conhecer o passado sem maquiagem. Por exemplo apesar de tornar ainda mais pesado o tema, o uso do termo escravo no Puerto Rico seria mais historicamente preciso. Na minha opinião não traria demérito para o jogo. (Dois ou três parágrafos no manual para trazer o contexto histórico e justificar a honestidade de dar nomes aos bois seria mais mérito que demérito pra mim).
PS: Sempre boas essas discussões, que o hobby nós divirta, desafie, mas também nos faça pensar o mundo a sociedade e a história.
Como sociólogo concordo com meu amigo de ciências humanas.
Só gostaria de acrescentar alguns comentários para reforçar o que já foi dito.
1- A escravidão de caráter racial tem um parto gêmeo com o surgimento da sociedade liberal, capitalista. E mesmo após seu fim, lembremos que as teorias conhecidas como racismo científico surgem na Europa no século XVIII e vão durar até o século XX com consequências nefastas como o imperialismo e o colonialismo. Essas teorias influenciavam a elite econômica, política e intelectual brasileira. Nomes como João Batista de Lacerda apresentavam teorias racistas (como a tese do branqueamento) ainda no início do século XX. Além de explicações racistas para o subdesenvolvimento do país (muitos acreditavam e defendiam que deveríamos seguir o modelo estadunidense de Estado racial para o país se tornar desenvolvido).
2- A escravidão não é um passado remoto que nos assombra. A integração da população negra brasileira no capitalismo periférico em nosso país foi estruturada com continuidades de corte racial. Jogados nas franjas marginais ( para citar Clóvis Moura) ou integrados na sociedade capitalista brasileira de forma periférica e precária ( Florestan Fernandes).
3- Discutir a questão racial é fundamental pois ela marca a história dos séculos recentes. O nazismo e o fascismo não são uma excrescência que nasce do nada. São a radicalização de uma ideia comum em toda Europa imperialista e nos EUA. No livro Minha Luta, Hitler deixa claro sua admiração pelas leis racistas nos EUA e até alguns termos utilizados no nazismo tem origem estadunidense.
Para quem quer ler e estudar recomendo alguns livros.
- Sociologia do negro brasileiro - Clóvis Moura
- Contra- história do liberalismo - Domenico Losurdo
- O espetáculo das raças - Lilia Schwarcz
- Racismo estrutural - Silvio Almeida.
Parabéns pelo tópico.
Paz entre nós e guerra aos senhores.