metelo::iuribuscacio::Marllos Dias::De fato, a iniciativa da Estrela pode vir a baixar os preços dos jogos no geral, em algum momento no futuro, mas não creio que todas as editoras farão isso, e as que fizerem, provavelmente não farão com todos os jogos.
Com um mercado cada vez menor, a tendência é que as tiragens diminuam ainda mais e os jogos fiquem ainda mais caros. Quando só restarem apenas uma centena de muito ricos no hobby, quem vai sustentar as lojas especializadas? Quem será que vai justificar a realização de um evento como o Diversão Off-Line? Quantas editoras serão necessárias para atender apenas a essa centena de consumidores abastados?
Fala grande Yuri. Como sempre otimos pontos.
Eu especialmente quero tocar nesse. Porque nao e uma questao de quem vai sustentar, porque aqui em Niteroi, ja foi dezimado todo o ambiente de jogos em lojas.
So p voce ter uma idea, quando voltei para Niteroi/RJ, tinhamos o Meeple mensalmente, B&B, Dice and Roll (acho que esse e o nome), Clube do Tabuleiro, Legion.
Hoje, nenhuma dessas lojas continuam abertas. Todas fechadas. Ainda bem q deu p formar um grupo coeso que joga toda semana (paramos na pandemia, mas voltamos em Out do ano passado, com todos vacinados).
Eu inclusive essta com um espaco vazio, e em 2019 (quando o preco nao tinha chegado nessa situacao complicadissima de hoje) e a B&B anunciado o fim das operacoes, fiz uma pesquisa de mercado para ver a viabilidade, e em varias propostas (clube de jogos, locacao, pizza/hamburger), nenhum dos casos demonstrou-se viavel financeiramente, pois nao pagava nem o ar condicionado com base nos valores que o mercado desejava pagar pelos produtos.
So consigo imaginar que agora a coisa ta muito, mas muito pior.
E o mais assustador, e que se tiver a contracao, e so sobrar super rico, pode ter certeza que essa galera vai para o USA de ferias e compra tudo la. Entao duvido que eles serao capaz de sustentar as editoras. Honestamente, nao acho que tenha espaco p editoras sobreviverem vendendo para super-ricos. Precisam sim de fazer espaco na classe media, e media alta, porque para esses sim a conta de comprar la fora, mas necessidade de idioma e um fator significativo.
TLDR: 0 editoras para atender o mercado dos super ricos.
Caro Metelo
Salve, salve meu camarada. Como de costume você sempre engrandece o debate com um comentário muito pertinente, de quem sabe como as coisas funcionam na prática. Infelizmente isso que você narrou em relação a Niterói, é um dos prováveis futuros para o mercado nacional de board games. A impressão geral é de que o mercado está crescendo e mais gente está entrando para o hobby, mas não é isso que eu vejo com as pessoas ao meu redor.
Quando eu fui apresentado aos board games modernos, quase tudo era importado (produção nacional praticamente inexistente), quase tudo era em inglês, mas principalmente quase tudo era muito caro, e esse sempre foi o maior impeditivo para que as pessoas ingressassem no hobby. No meu caso, das diversas pessoas que foram apresentadas aos jogos modernos, apenas eu comecei a comprar jogos e realmente entrar no hobby. Os outros amigos do meu círculo, não passaram a comprar jogos, mas sim a jogar os jogos que eu compro. E isso é muito ruim para o mercado de board games.
Tirando pela minha realidade, meus amigos e familiares até compram um jogo ou outro, mas são sempre os party games, porque dar mais de R$ 350,00, em um board game é algo totalmente absurdo para a grande maioria das pessoas comuns. Isso quer dizer que o cenário de board games parece estar crescendo, mas isso se deve muito mais às pessoas que passaram a conhecer, do que comprar board games. E para qualquer setor econômico (salvo talvez, no caso das mídias virtuais), não é a quantidade de pessoas que conhecem o produto que conta, mas sim a quantidade de pessoas que compram o produto. Por isso não basta apenas que alguém apresente os jogos para seus amigos. Para que o hobby cresça, é preciso que esses amigos comecem a comprar board games também, o que eu não vejo acontecer, principalmente pela questão do alto preço. Eu não canso de repetir uma coisa que parece uma obviedade, mas que as editoras nacionais cismam em ignorar, e sequer a discutir que é o seguinte:
1) para que o mercado de board games cresça, é preciso acima de tudo que as tiragens aumentem, para que o lucro seja maior no maior volume de vendas;
2) para que as tiragens cresçam é preciso aumentar a demanda, ou seja, é preciso ter mais gente comprando board games;
3) para que mais gente compre board games é preciso que as editoras e a nossa mídia especializada, os canais de board game, foquem mais nos jogos mais baratos e comecem a enxergar com mais seriedade esse segmento que compra jogos entre R$ 50,00 e R$ 150,00.
O “Herdeiros do Khan” é um excelente exemplo de como o mercado está indo em uma direção equivocada, pelo menos na minha opinião. Quando o jogo foi lançado, todos nós deveríamos comemorar o fato de pela primeira vez termos um jogo custando em média R$ 100,00, mais ou menos, que é um jogo mais pesado e mais denso que os jogos familiares e party games de praxe, que é um excelenete jogo, que fica pareio com o “As Viagens de Marco Polo” I e II, que custam entre R$ 450,00 e R$ 600,00 (cópias lacradas), que é um jogo nacional, etc. Mas ao invés disso, o que dominou os debates a respeito do jogo, foi o fato da qualidade dos componentes ter vindo bem abaixo daquilo que a comunidade board game esperava, isso sem falar que para turbinar o jogo, o gasto era de apenas umas poucas dezenas de real. Por isso, para um recém chegado ao hobby, que queira um jogo um pouco mais complexo, pelo menos em relação ao custo e desconsiderando o gosto pessoal, compensa muito mais comprar o “Herdeiros do Khan”, que hoje já sai por menos de R$ 100,00, gastar um pouquinho mais na Ludeka, comprando componentes melhores, do que comprar o “As Viagens de Marco Polo” I ou II, que custam cinco ou até seis vezes mais.
Por fim, o que eu acho é que, se a mentalidade empresarial das editoras não se modificar, e se elas não começarem a se dedicar mais a produzir jogos mais baratos e também a encontrar meios de baratear o preço dos jogos em geral, o futuro parece cada vez mais sombrio. Muito provavelmente nós teremos party games sustentando as editoras, vendendo bastante, atraindo mais pessoas, mas que ficarão só nos party games mesmo. Enquanto isso, os demais jogos ficarão cada vez mais caros, com tiragens ainda menores, cada vez mais restritivos, quase como uma curiosidade caríssima, ao invés de produtos com poder de venda suficientes para alavancar o mercado, e tornar o cenário brasileiro de board game de alguma forma relevante internacionalmente.
Um forte abraço e boas jogatinas
Iuri Buscácio
P.S. Quando só meia dúzia de pessoas continuarem a comprar jogos caros, não adianta reclamar que os lançamentos internacionais não enviam para o Brasil. Para compensar, para a editora gringa, o frete caro, a alta taxação, e a grande possibilidade de extravio, é preciso que ela veja um mercado em que muita gente compre jogo, o que cada vez estamos mais longe de atingir, com esse preços nacionais cada vez mais altos.