Mesmo não sendo especialista (nem de longe) no tema, conheço um pouco de boardgames e gostaria de contribuir com meus 2 centavos.
matheusfj::Se o autor opta por criar um jogo ambientado num dado tempo e lugar históricos, ele precisa representar minimamente aquilo que ocorreu.
Não necessariamente... Tomemos o exemplo do
Twilight Struggle, um dos jogos mais aclamados de todos os tempos, ficou anos como
o melhor jogo do mundo, no ranking do BGG, e tido por muitos como uma primazia histórica em relação ao período da Guerra Fria.
Mas no jogo o mais comum é q os eventos históricos não aconteçam na ordem normal... Existe um "guia" alí para início, meio e fim da guerra, mas os acontecimentos naturalmente não vão seguir aquilo que ocorreu. E tanto os EUA podem ganhar, como aconteceu na vida real, mas tb pode haver a vitória comunista, ou... O mundo pode acabar numa explosão nuclear ainda por volta de 1950... Isso eu acho q não ocorreu
matheusfj::A grande questão, me parece, é o recorte.
Qualquer abordagem histórica precisa ter um recorte, já que é impossível contar 100% do que ocorreu.
Nos jogos de guerra que comentei, esse recorte deixa de lado os personagens e dá enfoque apenas ao conflito em si.
Sim, a questão do recorte, e mais uma vez cito o Twilight Struggle. Vários personagens estão lá, aparecendo nas cartas, citados nos textos dos eventos e detalhados no guia histórico q vem no manual. Tem todos os personagens? Claro q não, mas ainda assim é tido como um dos melhores jogos históricos, inclusive como referência a ser usado em salas de aula.
O Brazil quis dar esse enfoque, da expansão do império no país, mas sem adicionar temas "polêmicos", e por isso está sendo criticado. Talvez se tivesse colocado indígenas e negros passando pelo que eles sofreram na realidade, o jogo estaria sendo criticado pela exploração dos mesmos, como já aconteceu anteriormente com outros jogos, como Puerto Rico e Five Tribes. É complicado agradar a todos...
E mesmo nessa linha, além dos indígenas, q são mais evidentes, é possível ver sim no jogo referências a negros, inclusive menções a eles no Livreto Histórico e nas cartas. É pouco? Com certeza. É uma visão elitizada dessa luta? Provavelmente. Mas foi o recorte que o autor quis dar para funcionar nas mecânicas que ele queria para o jogo. O fato do autor ser monarquista provavelmente influenciou nessas escolhas, mas não vi desrespeito. Eu vi loja dizendo q não iria vender o jogo e completando com #burguesiafede... WTF?? "Somos ateus graças a Deus"???
Uma situação simples: quando comprei o jogo, comecei a destacar os componentes. Meu filho, de 8 anos, me viu fazendo aquilo e ficou do lado, olhou os componentes, achou as cartas bonitas... E, simplesmente por conta disso, comecei a conversar com ele sobre o quê aquele jogo estava contando. Começamos a conversar como era o país naquele tempo, expliquei sobre o Império, pq hj temos presidente, qual é a diferença entre eles, mostrei alguns personagens no guia histórico, contei como isso tudo fez chegar no país que temos hj... Isso tudo sem jogar, tive a oportunidade de ter um momento de conversa sobre política de forma lúdica com meu filho de 8 anos, que ainda nem tem aulas de história do Brasil, apenas por estarmos com o jogo na nossa frente. E hj estamos aqui discutindo essas questões tb, de novo, simplesmente pelo fato do jogo existir.