Primeiramente, bem-vindo, Edu!
Antes que o Viriato ache que eu estava jogando os protótipos do Kramer e do Kiesling ou dizendo pro Knizia: "Ah, não! Mais um leilão?!", vou tentar passar pelos estágios:
1. Blissfully Oblivious
Eu tive uma infância e adolescência com irmãos e amigos e jogos eram muito bem presentes: Damas, Damas Chinesas, Trilha, Xadrez, Ludo, Gamão, Serpentes & Escadas, Resta Um (olha aí, um jogo solo!), Cilada (mais outro jogo solo), Quina, Jogo da Vida, Ponto de Equilíbrio, Cara a Cara, Combate, Desafino, Guia dos Curiosos, Uno, Can-Can, Super Trunfo Carros Supermodernos, Super Trunfo: Aviões de Caça (Isso foi uma febre no colégio! Cada amigo tinha um diferente!), Banco Imobiliário, Imagem & Ação 2 (tenho até o Imagem & Ação - No Limite), Senha, Master, Perfil 2, Focus, Top Letras, Scotland Yard, War II (que eu detestava porque demorava demais), Queops (Pylos) e por incrível que pareça, não joguei Detetive e Interpol.
É engraçado como a gente só fala de Banco Imobiliário e War. Mas se fizemos um exercício de memória, dá para lembrar de mais de 30 jogos que tinham nos anos 80 e 90 nos supermercados e lojas de departamentos.
2. Discovery
O primeiro jogo moderno que joguei foi Shogun nem lembro quando. Nem terminei a partida. Saí com 2h de jogo e nem tinha ideia que não se deve sair no meio de uma partida. Depois veio Through the Desert. Esse sim eu gostei. Mas dessa partida para dizer que havia um novo mundo se abrindo... são outros quinhentos. Para perceber que existia uma nova geração de jogos que estava além da Estrela e Grow, foi necessário entrar numa Luderia ou numa Loja (não sei o que aconteceu primeiro).
3. Newbie
Quando alguém me disse: entra no "Bê-Gê-Gê". Acho que foi nesse ponto que eu me percebi como newbie. Enfrentar aquele fórum foi desbravar uma floresta.
4. Crazed - 5. Too Far Gone - 6. Realisation - 7. Embracing - 4. Crazed - 5. Too Far Gone - 6. Realisation...
Qualquer um que entrou no hobby e começou a andar com as próprias pernas deve estar nesse ciclo.
Há épocas que consumo muito material de board games, leio muito, assisto muito, ouço muito sobre jogos, normalmente associado a períodos de muito estresse no trabalho. É um escapismo, sem dúvida. Daí a perceber que estou gastando mais tempo que o saudável para minha rotina de vida não é um passo imediato, mas a ficha cai. Meu alerta de "longe de mais" acende muito antes de alcançar um risco ao meu bolso. Quando minhas obrigações estão acumulando, já é o sinal que eu tenho que pisar no freio.
Prateleira da vergonha é uma coisa que me incomoda muito e sou muito mais insano no consumo de material do que no gasto financeiro (e tempo perdido não se recupera, diferente de dinheiro). Tem itens da minha lista de desejos que estão lá que já fizeram aniversários. Isso não incomoda. O que me incomoda é ver o dia acabar e a produção não ser a mesma porque faltou foco, porque gastei mais tempo do que devia em algo.
Um outro aspecto é a percepção de que não temos o compromisso de nos mantermos inalteráveis. E se não temos esse compromisso conosco, muito menos temos com a nossa coleção. Gostei muito de Quartz, joguei muito, comprei a Quartz: Promo 01, joguei mais e cansei. Depois comecei a me incomodar quando alguém queria tirar da estante quando tinham outros jogos que eu estava achando melhores. Demorou para perceber que o jogo estava merecendo estar na mesa de outra pessoa. Diferentemente foi quando percebi que, mesmo gostando muito de Galaxy Trucker, todas as minhas tentativas de jogá-lo foram frustradas e demorou para cair a ficha de que ele não tinha espaço para os meus grupos de jogatina.
Esse estado de paz não é eterno e vira e mexe bate a ansiedade, o hype desperta algo em você, o trabalho está insuportável, você não pode visitar seus amigos e o equilíbrio de outrora é uma saudosa lembrança.
8. Guru
Em Lucas 6:39 está escrito: "Jesus fez também a seguinte comparação: Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco?".
Essa coisa transcendental de ter jogado milhares de jogos, fazer um julgamento a ferro e fogo pra ver se um jogo entra ou não na coleção, mecânicas que são boas ou não para você, etc é a parte de "puro entretenimento" do texto. Duvido que alguém se veja assim. A realidade do mundo é muito mais próxima do que o Viriato estava defendendo. A realidade não é a de um cego guiando outro, nem de um ser iluminado trazendo a luz para os demais na escuridão.
Algumas pessoas simplesmente se sentem mais motivadas do que outros a compartilhar do que sabem, seja pelo prazer de ajudar, ou pelo prazer de manter viva a conversa, ou por outro motivo qualquer. Outros ainda se sentem até motivados a procurar a resposta daquela pergunta que foi feita e que ele ainda não sabe responder. Ao lado de todo newbie, você vai encontrar um guru ajudando-o no próximo passo. E esse mesmo guru vai ver, em outrem, alguém que considere ser um guru para ele também.
PS: magana, precisamos jogar o BRAZIL: Imperial de novo! 