Esse episódio me fez lembrar que um tempo atrás fiz um rascunho de reflexões que serviriam de base para um texto maior que nunca veio. Vou colocar uma parte aqui por achar que reflete minha experiência (numa certa época):
- No começo do hobby é importante jogar muitos tipos diferentes de jogos, não apenas para saber o que existe, mas para tentar identificar o que mais te agrada e a seu possível grupo em formação.
- Não conhecer a proposta do jogo (que diz para qual tipo de público e situação se destina) pode criar injustiças quanto a avaliação deste.
- É bom saber conter expectativas altas (sejam nascidas por tema, autor, mecânicas, recomendações, etc). Isso inclui o nível de beleza da produção e arte.
- Suas impressões iniciais sobre um jogo podem ser radicalmente modificadas com mais partidas devido a diversos fatores. Principalmente se o jogo for dependente de mesa (pessoas jogando), de imersão (ambiente propício e envolvimento de jogadores) e/ou tiver um nível de complexidade médio ou maior (visto que aumenta as chances de erros de regras e/ou requer uma curva de aprendizagem maior).
- A ordem em que se conhece alguns jogos e/ou a quantidade de vezes que se joga alguns tipos podem influenciar bastante na percepção sobre futuros jogos.
- Jogos permitem experiências. Algumas são únicas também devido a combinação das pessoas envolvidas e circunstâncias (internas e externas ao jogo). Mesmo um jogo com design considerado falho ou ruim pode fornecer experiências excelentes. E vice-versa. Muitas avaliações valem mais para uma partida que para um jogo em si.
- Ranking não é garantia de que você vá gostar ou desgostar de um jogo, melhor encontrar e consultar um conjunto de jogadores com perfil (gosto, experiência e percepções) semelhantes ao seu. Embora também não seja garantia, pode ter melhores resultados.
- Algumas vezes, ler críticas e impressões de terceiros podem nos ajudar a detectar erros nossos (em regras ou percepções). Ao mesmo tempo, por mais que alguém seja muito inteligente e tenha bom gosto, há diversos fatores que podem fazê-lo discordar de você quanto a um jogo. Seja de maneira "justa" ou "injusta".
Achei interessante o que o Danilo falou sobre gostar bastante da conversa posterior a uma partida. Lembrou-me a ideia de um historiador (Thompson) que basicamente falava que toda experiência tem duas partes, a experiência vivida (jogar) e a experiência percebida. Essa última seria de reflexões e significados a cerca da primeira. Ao meu ver, ambas seriam passíveis de influências e ruídos diversos, além de criarem uma fricção entre si. Com mais pessoas envolvidas temos uma espécie de consciência compartilhada, ainda que as pessoas não concordem há uma influência mútua. Suspeito que seja nesse exercício de jogar e refletir (sozinho ou em conjunto) que abrimos chance de conhecermos mais sobre nós mesmos e os outros.