Senhores, sou fã do trabalho de vocês desde que descobri o programa, graças a entrevista do Danilo pro Zabuzeta.
Esse primeiro ep de 2021 está entre os melhores, a conversa foi incrível. Me identifiquei muito com várias partes. Faço muitas reflexões sobre o tema da experiência no hobby, não tenho tanta bagagem quanto alguns, mas são quase 10 anos... mudanças certamente aconteceram nesse tempo.
Pela primeira vez na vida, ouvi um podcast e fui anotando para poder comentar depois. Alguns pontos que anotei durante o ep:
1) Em relação as listas de top (insira aqui qualquer coisa), eu sei que muita gente não gosta. Particularmente, eu comecei a gostar quando entendi como uma ferramenta para conhecer novos títulos, com a curadoria de pessoas que eu respeito e me identifico com o gosto por jogos. O ideal era ter algo como a ferramenta de geek buddies do BGG, mas sem isso as listas quebram um galho. Eu passei a fazer uma minha anualmente, que além de ser um ótimo exercício para entender melhor meu gosto, acabo recebendo muitas sugestões interessantes de outros usuários.
2) Passei pelo mesmo processo do Danilo em relação ao papel da socialização. Acredito que ainda tenha um papel fundamental na minha relação com o hobby, mas moldar minha expectativa a isso e dar mais valor ao jogo em si, tirou um peso e ainda abriu as portas para jogar solo por exemplo. Pegando o gancho da cadência citada pelo PH como exemplo... jogar solo permite uma cadência única de pensar o tempo que quiser em uma jogada, o que muda completamente a experiência.
3) O fator novidade nos lançamentos foi saturando também com o tempo. Cada vez mais via tudo bem parecido, principalmente nos euros e jogos com miniaturas, salvo algumas exceções. Isso me levou a explorar alguns nichos dentro do nicho, como os 18xx e wargames. É incrível como é praticamente começar do zero de novo: descobertas a todo momento, aprender terminologias, mecânicas, escolas e divisões. Está sendo um processo que só soma a experiência anterior, e tem me dado uma nova perspectiva em relação aos jogos de tabuleiro de forma geral (para melhor, para ficar claro).
4) Me identifiquei muito com isso de aprender jogando, faço muito ultimamente com as plataformas online. São tantos jogos diferentes, mas ao mesmo tempo é difícil pegar uma mecânica estranha ao ponto de você não deduzir. Se o jogo me interessa minimamente depois eu vou ler o manual. Sim, posso incomodar outros se soubessem que to jogando dessa forma, mas no geral eu tento ser competitivo e tem dado certo. Isso se mostrou muito prático por exemplo nos 18xx, que apresentam um conjunto de regras compartilhadas na maioria, e basta aprender as diferenças (tanto que alguns manuais apresentam um tópico apenas com essas diferenças). Por outro lado, em wargames se mostrou impossível. E fui tentar o Indonesia da Splotter e também não deu. Isso talvez mostre como tanto wargames como jogos da Splotter conseguem se diferenciar muito do resto, até mesmo dos jogos da mesma família.
5) Eu não concordei muito sobre o ponto da "arte feia" de alguns jogos ser de propósito pra ser algo raíz ou pra mostrar algum ponto. Entendo que existe um favorecimento a funcionalidade. Tanto aos 18xx quanto aos wargames, existe essa crítica de quem vem dos boardgames mais tradicionais. Temos extremos obviamente, como os wargames que vinham em revistas, ou alguns 18xx que parecem feitos no paint. Mas a "estética" deles tem um propósito: gastar energia no que importa, e fazer o jogo fluir. Nos 18xx o foco é enxergar com clareza as rotas e os tipos de tiles. Coloco como contra-exemplo o Feudum, que é lindo, mas nada funcional. O mapa é horrível de identificar rotas simples de tanta coisa desenhada. Nos wargames, poderiam ter miniaturas? Sim, mas alguns títulos cada unidade ou grupo de unidades tem características próprias. Você precisaria de uma tabela gigante pra saber o que cada miniatura faz. No final das contas, o chit com números e stats ajuda a bater o olho no mapa, ver o front de batalha, e tomar as decisões ali, com o conjunto todo na tua frente. Os designers da Splotter por ex são jogadores de 18xx e bebem muito dessa fonte. O tabuleiro do Food Chain Magnate é por essa lógica, favorecer a funcionalidade de calcular as distâncias. Em geral, esses exemplos que dei são jogos pesados por natureza, poupar energia para o que importa faz diferença na experiência como um todo.
6) Se desapeguem e vendam jogos. Eu depois que comecei não parei mais, é ótimo rotacionar a coleção. Se vocês se arrependerem, ou o gosto ou o contexto mudar de novo... é só recomprar. Eu já adquiri de novo pelo menos uns 3-5 títulos depois de alguns anos. A não ser raridades ou OOP, se o jogo é bom, ele vai ter um print ou edição nova em algum momento. Basta esperar, e jogar os outros enquanto isso.
Desculpem a mensagem longa, continuem com o podcast que é disparado um dos melhores conteúdos que temos na podosfera brasileira, e isso falo de maneira geral não apenas restringindo aos programas sobre boardgames.
Abraços!