Douglas Heleno::Luis Parabéns pelo texto, compartilho também do seu pensamento, você abordou o tema de forma leve e madura, falo isso porque vejo por ai a fora pessoas crucificando o Puerto Rico, o Mombasa por causa do tema, eu acho que o caminho não é por ai, sendo que na verdade o que vale é a reflexão da história. A história humana é uma tragédia, nossa geração por mais que temos diversos problemas sociais mas ela vive muito melhor do que 90% da humanidade da historia passada, muito sangue, muita guerra, muita injustiça, muita exploração. Não tem como tapar o sol com a peneira como muitos preferem, temos que refletir e interpretar para combater esse racismo estrutural, você falou sobre a criança, e eu também concordo, é para elas que temos que ter uma educação interpretativa, não só de decorar para passar de ano. Ainda precisamos muito a melhorar.

Abraço.

Exatamente, Douglas.

A reflexão é o melhor caminho. Como você colocou muito bem, em comparativo com todas as atrocidades que protagonizaram os séculos passados, melhoramos muito, mas ainda estamos longe do ideal. Tapar o sol com a peneira não vai resolver, não podemos nos acomodar. Infelizmente ainda existem muitas pessoas por aí que mantém suas cabeças no século passado, ou ainda, retrasado.

Eu acho que a Jane Elliot resume essa questão de forma que eu jamais seria capaz de fazê-lo:

Mortohero::Excelente texto e uma reflexão muito importante.

Existem vários outros jogos que incluem o tema, inclusive em outros momentos históricos uma vez que a escravidão é algo que acompanha a nossa civilização por muito tempo mas a experiência do Puerto Rico pessoalmente foi marcante para mim pois ao ler o manual e jogar pela primeira vez teve aquele momento de "a ficha caiu" no sentido dos meeples dos colonos.

Agradeço ao colega eduardofelipe pelas informações compartilhadas, normalmente nós - todos aqueles leigos que simpatizam com história - lemos um livrinho aqui e outro ali e nos achamos entendedores quando não passamos apenas de curiosos.

Sim, Leandro, é bem isso que você falou. História definitivamente não é a minha área de atuação, apesar da ironia proposta com aquele trecho sobre o meu ensino fundamental. Estamos sempre aprendendo e isso é muito importante.

Independentemente da real natureza dos fatos ocorridos em Puerto Rico, o sentimento que eu quis transmitir ao escrever esse texto vai além desse capítulo da história somente. Independentemente também do nosso grau de conhecimento em história, uma coisa é certa: fizemos muita besteira lá atrás. Refletir sobre essas questões é o mínimo do mínimo.

Mortohero::Infelizmente é reconhecido que ainda hoje existem pessoas e povos (etnias, cartas, etc) que ainda podem ser considerados escravos e longe de mim querer estabelecer qualquer comparação entre tais situações, antigas e atuais, pois cada uma delas terá um conjunto específico de características situacionais que as tornarão únicas mas fica por fim a triste ideia da metalinguagem por trás dos meeples, não só esses do PR mas os tantos outros que são a base da nossa diversão através dos jogos de tabuleiro, representando sejam colonos, escravos ou qualquer outra coisa, que podem ter sido fabricados através de mão de obra escrava!

Bom ponto levantado aqui também. A escravidão moderna é outra realidade muitas vezes velada. Não cabe compará-las, qualquer tipo de escravidão é terrível e deve ser abolida. Ainda que haja muita coisa errada ocorrendo por baixo dos panos das grandes corporações, pouco a pouco vamos melhorando, essas práticas vão sendo descobertas, denunciadas e o valor de mercado dessas empresas desce, o que serve de aviso. O ideal seria que doesse na consciência das partes envolvidas e não no bolso simplesmente, mas já é alguma coisa.

Mortohero::Apesar da ideia original desse post no BGG LINK ter sido meio desvirtuada durante os comentários a questão inicial do tópico e relevante e também importante demais para todos nós.

Sim, há sempre aqueles soltam umas piadinhas, mesmo quando o assunto é sério, mas a discussão proposta também é muito relevante. Obrigado por compartilhar.

Mortohero::Afinal como disse Burke: "Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la". Em certo grau estamos repetindo?

Infelizmente, acredito que, em parte, sim. Velhas práticas, mas atualizadas para a contemporaneidade. Ainda temos muita opressão, intolerância, desigualdade, diversos tipos de injustiças cometidas nos mais variados segmentos da nossa sociedade. Eu ainda mantenho a esperança acesa, é a última que morre.

Mortohero::Veja bem, não quero estabelecer nenhuma comparação ou algo do tipo até porque não tenho a mínima capacidade técnica de fazê-lo, é apenas uma reflexão sobre a questão: se hoje nós compramos um monte de coisas (boardgames inclusos) que entendemos ser possível serem fabricadas em locais que podem estar utilizando escravos ou algo muito próximo disso o quão distante estamos dos povos europeus que na época compravam café e açúcar vindo da América?

Exatamente, é mais um ponto que todos devemos refletir sobre. Agradeço-lhe por trazer essa questão para a discussão.

Mortohero::Entendo estarmos distantes mas ao adicionar na equação a facilidade atual de se obter o informação sobre o tema, que dê certo nas épocas passadas era muito menor do que é hoje, talvez no futuro, em algum euro com temática de fabricação de boardgames, os meeples dos "colonos" continuem lá.

Pois é, infelizmente, eu não ficaria tão surpreso.

Mortohero::É incrível ver como o mundo evoluiu em diversos aspectos ao longo das últimas décadas ou séculos, me pergunto no futuro distante o que mais mudará? Espero que muita coisa.

Também espero.

Abração.

fernandohf84::Realmente um baita texto, que vem muito a calhar na conjuntura política mundial atual, em que a extrema-direita passou por grande expansão em todo o mundo e especialmente no Brasil. Momento triste em que parte considerável da população vê como virtude negar o racismo estrutural e, dessa forma, repetir aos quatro cantos coisas como "hoje é tudo vitimismo, no meu tempo não tinha isso".

Triste.

Porém, só pra finalizar, eu também não concordo com quem tenta vincular o jogo a algum tipo de apologia à escravidão.

O jogo remete a história, e a história não pode - e não deve - ser esquecida.

E EU AMO ESSE JOGO!!!

Valeu, Luis!

Sim, é praticamente impossível não levarmos essa reflexão para o tempo presente, não só no Brasil como no mundo inteiro. Estamos passando por um período que já estava tomado de trevas antes mesmo do atual estado de pandemia, que conseguiu piorar ainda mais as coisas. Nada que remeta a qualquer tipo de extremismo pode ser considerado natural ou saudável. A minha esperança é que a humanidade como um todo reavalie seus conceitos e quem sabe um dia poderemos sair desse buraco que, direta ou indiretamente, nós mesmos cavamos.

Valeu, Fernando!

Mais um excelente texto... Puerto Rico é jogão, pena que agora está difícil achar um em um preço acessível...

eduardofelipe::Terceira consideração, que deveria ter feito quando escrevi a resposta. Não tive aqui a intenção de corrigir o Luis, e sim adicionar uma informação relevante. Realmente não se sabe se a intenção foi expor ou não, mas o exercício que eu propus é um bom exemplo a se considerar.

Não, que isso, Eduardo. Em momento algum eu interpretei a sua mensagem dessa forma. De qualquer modo, obrigado por mencionar isso.

De fato, ao escrever o texto, eu não parei para me aprofundar mais na questão histórica de Puerto Rico especificamente. Como muitos aqui, eu vi as pecinhas marrons, cenário de colonização, a associação foi automática. A intenção real do texto foi falar sobre racismo, inspirado pela representatividade proposta nas pecinhas marrons dos colonos.

O racismo, o ódio, a intolerância, isso é o que deve ser corrigido nesse mundo antes de mais nada.

cleitonlfj::Excelente reflexão... eu não havia pensado nele ainda nesses termos que você colocou... e faz total sentido, selecionar uma ação em que todos podem fazer, mas você faz ela com privilégios adicionais... e isso é extremamente temático e contemporâneo... perfeito!!! 

Lembro sempre de George Orwell na revolução dos bichos e a frase: 
Somos todos iguais, mas alguns são mais iguais que outros !!!

Sim, Cleiton, você captou muito bem a mensagem. O título do texto é totalmente proposital, faz um jogo de significados entre a mecânica dos privilégios contida no jogo e a questão dos privilégios daqueles que hoje não passam por todos esses constrangimentos desnecessários provenientes do racismo estrutural calcificado ao longo de nossa história perversa.

Muito bacana você citar George Orwell. 1984 é o meu livro favorito. Releio essa obra de tempos em tempos e é assustadoramente atual.

sergiocs78::Eu olho para esses jogos de civilização e sempre penso que eles representam um genocídio proposto pelo homem branco. Mesmo aqueles menos óbvios, sem meeples pretos, como Catan. Acho até que o "Colonizadores de" foi tirado do nome não para simplificar, mas para torná-lo mais politicamente correto. Opinião minha.

Excelente texto nesse tenebroso ano. Cheguei aqui pq estou querendo um Puerto Rico e está difícil de achar (comprei um altiplano, que me parece menos opressor tb), mas ainda não desisti desse aqui. Espero poder jogá-lo sem culpa qdo o conseguir.

Sérgio, o mais importante é a reflexão e isso estamos fazendo aqui de modo exemplar.

Concordo, também já havia pensado em (Colonizadores de) Catan dessa maneira. Suaviza um pouco o impacto, mas a história não deve ser esquecida jamais e os jogos também desempenham esse papel muito importante na manutenção da consciência viva para aqueles que estão dispostos a parar por um momento e refletir.

Um jogo que eu acho muito interessante nesse aspecto é o Spirit Island, que por muitos é associado como o Catan às avessas. Nele nós somos espíritos da natureza defendendo a ilha virgem dos colonizadores nefastos.

Sobre a dificuldade para encontrar o Puerto Rico, talvez esses textos possam lhe ajudar a avaliar essa questão:

Precisamos falar de FOMO.

Guia consciente de compras de novos jogos.

Lembre-se, nenhum jogo é verdadeiramente essencial. Se um dia você conseguir jogar o Puerto Rico, espero que se divirta bastante e não precisa se sentir culpado em torno da temática. Como disse ali no começo, o mais importante, que é a reflexão, você já tem. Se você porventura jamais obtiver acesso a uma cópia, em virtude de questões como a indisponibilidade do jogo no mercado versus o preço abusivo praticado em função da lei da oferta e da demanda elevada ao extremo, saiba que o mundo (dos jogos de tabuleiro) vai continuar a girar do mesmo jeito. Os mais nostálgicos vão sempre defender que é uma obra prima, um dos melhores jogos do mundo, etc. e tal. É "apenas" um jogo muito bem feito e, diga-se de passagem, só aqui entre nós, muita gente não gosta dele por razões que vão além do tema. Muitos acham o jogo chato, seco, burocrático, marcado. Eu gosto desse tipo de coisa, muita gente também, muitos outros não. Não tem certo nem errado sobre essa questão. Apenas não faça dele uma espécie de santo Graal, é o melhor conselho que eu posso te dar.

intermiguel::Que bom ler esse texto

Fico feliz que tenha gostado, Miguel.

educez::Mais um excelente texto... Puerto Rico é jogão, pena que agora está difícil achar um em um preço acessível...

Obrigado pela presença como sempre, Eduardo.

HU3Brutus::Obras grandiosas como o Mosteiro dos Jerônimos em Portugual só foram possíveis devido ao ouro brasileiro, por exemplo.

Apenas a caráter informativo, o Mosteiro dos Jerônimos começou a ser construído em 1502. Nessa época não tinham tanta noção do tamanho da terra e nas primeiras décadas houve apenas extração de madeira do pau-brasil para a Europa, por valores muito exorbitantes. Essa madeira era extraída pelos indígenas e trocada com os europeus por produtos que eles não tinham. Há de se considerar também que havia muita pirataria, principalmente francesa, que chegaram a estabelecer uma vila na baía do Guanabara, de onde extraiam a madeira com mais facilidade, também com ajuda dos indígenas.
As primeiras vilas portuguesas começaram depois de décadas de exploração extrativista. Somente com a criação das vilas é que começou a colonização de fato, com a criação de fazendas e plantações de produtos para exportação. A cana foi trazida do arquipélago do Cabo Verde, onde havia uma grande produção e que gerava muito dinheiro à época. Viram que as terras do Nordeste permitiam essa planta e então começou a produção local.
Ouro brasileiro mesmo só foi descoberto no final do século 17, pelos bandeirantes que hoje são tão criticados. Se não fosse por eles, o Brasil não teria expandido e seria um monte de vilas litorâneas. A vila de São Paulo de Piratininga, atual São Paulo,  sempre foi muito criticada, porque para a coroa não fazia sentido uma vila no alto das montanhas. A função dela foi justamente permitir as bandeiras que descobriu o país de fato. Quem insistiu com essa vila foram os colonos, porque se dependesse da coroa seria abandonada.