Catiuscia::Concordo que os jogos não podem mudar a história, obviamente, mas não me parecem neutros como você disse. Os que conheço num geral me parecem naturalizar as questões. Normalmente estamos disputando na posição do colonizador/escravizador/explorador, entre outros exemplos. Além do mais, em se tratando de certos temas, ser neutro ainda seria muito pouco.
Olá, Catiuscia.
Fico feliz que você tenha gostado da leitura e levantado esse questionamento. Você está coberta de razão.
Ao longo de praticamente toda a minha trajetória em meio ao
hobby, eu desenvolvi o hábito de abstrair o tema nos jogos. Inclusive acabei naturalizando isso na forma de conteúdo humorístico no canal. Tema e a minha pessoa passaram a ser polos diametralmente opostos. Não um tema histórico em particular, simplesmente qualquer tema, do espaço sideral a um jogo sobre fogos de artifício.
Durante muito tempo, eu não vi contexto, eu não vi personagens, eu não vi nenhuma forma de ambientação. Jogar Puerto Rico, Mombasa ou qualquer outro jogo que possua qualquer expressão histórica era o mesmo que jogar algo tão abstrato quanto o jogo da velha, digamos. Sabe aquela pessoa que não enxerga um "peão" ou um "cavaleiro", mas, ao invés disso "e4" ou "Kf3"? Era eu jogando
qualquer jogo, independentemente do tema. Eu só queria saber do caminho mais eficiente para terminar a partida com mais pontos de vitória do que meus oponentes.
Eu nunca me senti um "Mago do Caos", uma "Bruxa" ou um "Yeti" jogando Terra Mystica, eu era só uma cor, vermelho, verde ou branco. Jogando Kemet, novamente, eu não me sentia uma divindade egípcia controlando exércitos, era só o Luis jogando de vermelho controlando unidades em um mapa. Se trocasse as minis por cubinhos, o efeito seria o mesmo para mim na prática. Só que com o Puerto Rico,
ao pensar nesse jogo no intuito de fazer um review, meio que finalmente caiu a ficha.
Contudo, ao escrever o texto, acho que parte da minha inclinação para a abstração de elementos do jogo acabou passando um pouco em função da inércia de muitas partidas fazendo isso. Fato que explica o tal "aspecto neutro, típico dos jogos europeus". O que eu quis dizer na prática naquele momento é que por serem componentes mais genéricos na superfície, mais abstratos, isto é, não se trata de uma miniatura de trabalhador do campo, mas um "simples" disco de madeira, ele é mais "neutro" nesse aspecto.
A princípio eu não tive a sensibilidade de perceber que o próprio posicionamento assumido pelos jogadores em meio ao universo do jogo é relevante. Após ler muitos comentários esclarecedores ao longo do debate aqui proposto, passei a perceber, de forma ainda mais profunda do que pensava ao escrever o texto inicial, que a forma como a perspectiva dos jogadores é projetada naquele contexto já diz muita coisa e provoca muita reflexão.