Caros Boardgamers.
Em primeiro lugar, eu queria esclarecer que usei o exemplo do carro, apenas para ilustrar o que ocorreu com o jogo.
Em segundo lugar, é evidente que todo o produto comercializado por uma empresa tem de estar minimamente correto. Outra coisa, é calro que independente do quanto o jogo custou, sejam R$ 10,00, R$ 100,00 ou R$ 1.000,00, erro é sempre erro, mas nem sempre os erros têm o mesmo peso. Fazer boca de urna na eleição, é um erro, furtar um produto em uma loja também é um erro, e assassinar uma pessoa também é um erro, mas obviamente o peso e a gravidade de cada um é diferente. Assim, o que eu quis destacar, é que quanto maior o preço, maior a expectativa em cima do produto. Por tal motivo eu acredito que é de se esperar, que um produto de R$ 1.000,00 tenha um controle de qualidade, muito superior a um produto de R$ 10,00. Esse é o raciocínio que justifica comprar um jogo usado, ou com um pequeno defeito, mais barato do que o preço do jogo lacrado. Se não fosse assim, os jogos usados, mas bem conservados teria de ter o mesmo preço dos jogos lacrados, afinal, o jogo usado e bem conservado está exatamente igual ao jogo lacrado. Qualquer um que já tenha vendido, ou comprado jogos aqui no Ludopedia, sabe que basta tirar o plástico que o jogo já diminui o valor de revenda do jogo. Mas tudo bem, para aqueles que acham que encontrar um defeito em um jogo de R$ 10,00 é tão grave quanto verificar isso em um jogo de R$ 100,00 ou de R$ 1.000,00, OK. Eu apenas não acho que seja a mesma coisa, afinal, nada é absoluto, e tudo é relativo.
Em terceiro lugar, é igualmente óbvio que qualquer atividade humana, inclusive a produção de boardgames está sujeito a erros. Eu só acho um absurdo encontrar um erro de tradução, um erro de impressão, ou um manual mal escrito, em um jogo com um preço tão alto. É justamente para evitar esse tipo de problema que se contrata um bom revisor, e já que é para cobrar tão caro, seria melhor ter até um revisor do revisor.
Agora mais absurdo ainda é uma empresa lançar um jogo, cobrar caríssimo, e depois quando surgem os problemas, simplesmente fazer o seguinte: olha tai uma errata, e nessas cartas onde saiu escrito “guereira”, faz de conta, que vocês estão vendo o “R” que está faltando. O correto seria a empresa trocar as cartas de todos os compradores, mas isso é algo que só vai acontecer quando os consumidores, começarem a se valorizar, quando começarem a reclamar, quando começarem a devolver jogo e por aí vai.
A Redbox fez uma cagada enorme com o “Ancient Terrible Things”, que é um jogo ótimo, mas acabou ficando com o prestígio arranhado devido a falta de transparência, e de informações por parte da empresa, durante o financiamento coletivo. Não contente com isso, a RedBox fez outra cagada ainda maior, pisou em cima e esfregou, no caso do Tsukiji, que foi vendido em Essen e na Argentina, antes dos apoiadores, que pagaram anos antes receberem suas cópias. A situação ficou tão ruim que as pessoas começaram a dizer que não comprariam mais jogos da editora, e se ela lançasse um jogo, prefiririam comprar importado só para não dar dinheiro para a RedBox. Resultado: a editora teve que abrir mão de uma marca de anos, e mudou de nome para Buró Editora.
No final, talvez tudo se resuma ao recado que o mercado consumidor dá para a empresa. Se a empresa lança um jogo de R$ 1.000,00 como o Gloomhaven (nada contra o jogo, viu!!!) e a tiragem se esgota em algumas horas, após o lançamento, o recado que o mercado deu foi, podem lançar jogos a qualquer preço que nós compramos. E aí a editora vai continuar a lançar jogos super-caros, em tiragens reduzidas, e vai cagar para aumento de escala, fortalecimento do mercado consumidor e ampliação do números de pessoas que jogam boardgames. Talvez seja a hora do mercado, dar um outro tipo de recado e para de comprar jogos com preço de salário mínimo.
Quem sabe assim as coisas mudem.
Atenciosamente.
Iuri Buscácio