henricosta::Mestre Jonas::henricosta::nieb::
PS: é reconfortante atacar as empresas e dizer que são mercenárias que só visam o lucro e ao mesmo tempo colocar no leilão aquele seu jogo de 20 dólares por 600 reais.
Na real uma grande parcela daqui faz malabarismos e acrobacias pra defender e justificar o preço final do jogo.
Daí a consciência muito mais tranquila pra anunciar joguinho importado por 20x o valor.
Eu acho bem zoado o joguinho importado sair por 20x o valor tb, mas se vc reparar os leilões geralmente começam em valores razoáveis. A galera que entra numa "guerra de lances" e paga o valor alto pq quer. Tem jogo que tão tentando vender por valor absurdo faz meses e não sai justamente pq o lance mínimo tá alto demais (olhando pra vc yamatai de 800 reais)... questão de demanda.
Mas quando isso acontece é problema das pessoas disputando o leilão como se o jogo fosse a última bolacha do pacote.
Ainda assim, vi outro dia leilão de Fort, jogo de 30USD vendido por 200 reais na loja quatro e o leilão a preço inicial de 400 reais.
Já vi leilão de Targi, jogo de 20USD sendo anunciado por 400 reais também.
Se esses jogos de relativamente fácil acesso começam em leilões dessa parada, fica justificando leilão de OOP Agricola e GWT começando em 600 conto e sendo vendidos por sei lá quanto.
Caros Mestre Jonas, henricosta e nieb.
Uma grande questão do boardgame nacional é que cada vez mais, as pessoas se comportam como “colecionadores”, e não como “jogadores”. O que se tem verificado, é que muitas pessoas compram um jogo, apenas para ter o jogo, porque ele é novo, ou porque a pessoa inda não o tem, sem se importar se vão realmente jogá-lo ou não.
Esse comportamento “de colecionador”, mais que “de jogador”, é um dos fatores, que justificam esses preços altíssimos de boardgame. Isso porque o “colecionador” pagará qualquer valor, para adicionar aquele exemplar de jogo, à sua coleção. E isso ocorre mesmo que o preço seja incompatível com o jogo, afinal o colecionador não tem como saber se surgirá outra oportunidade de comprar aquele jogo no futuro.
O problema é que esse comportamento de colecionador acaba fazendo com que os preços de lançamento dos jogos sejam fixados em um patamar irreal.
Eu entendo que produzir boardgame é complicado, que o Brasil tem uma taxa de impostos absurdas, que o produto tem que ser feito na China, que existe todo um valor intelectual inserido em um jogo, coisa e tal. Mas sinceramente, cobrar R$ 350,00, como está sendo feito no “It’s Wonderful World”, último lançamento da “editora de largatixa” (me recuso a dizer o nome dela, para não fazer “merchan”). Mas vamos combinar gente, o jogo não tem miniatura, não tem milhares de marcadores, nem é de algum designer “top de linha”. São R$ 350,00 por 150 cartas de papel, 170 pecinhas de plástico, 80 pedaçinhos de papelão, e um pedaço de papelão maior.
Claro que eu não quero desfazer do jogo, nem ofender o trabalho da equipe de produção, mas também não dá para achar normal, pagar o preço da caixa do jogo em ouro, a cada lançamento da editora. Isso sem falar dos inúmeros erros grosseiros, e falhas de produção, que exigem o uso de errata, em grande parte dos jogos lançados por essa editora especificamente.
É claro que a gente sempre pode culpar o dólar, mas só para efeito de comparação, em meados de junho de 2018, a cotação do dólar era mais ou menos R$ 4,00 (entre R$ 3,8 e R$ 3,9, para ser mais preciso). No entanto, a mesmíssima editora da “largatixa” lançou o jogo “Exterminador do Futuro - Gênesis”, um jogo de miniaturas, com diversa cartas, vários marcadores, que além dos custos normais ainda tinha que pagar o valor dos royalties de uma franquia famosa e cara, e tudo isso por R$ 150,00.
O dólar hoje custa R$ 5,16, e salvo engano, a diferença para o valor de junho de 2018 é de 29% (perdão se a matemática não estiver correta). Desse modo, considerando a cotação atual do dólar, se fosse lançado hoje, o “Exterminador do Futuro – Gênesis”, com todas as suas miniaturas sairia por R$ 193,50, ou seja, um pouco mais da metade, dos R$ 349,00, cobrados pelo “It’s a Wonderful World”. Claro que comparações são sempre complicadas. Porém, se a mesma editora conseguiu vender, com lucro, o “Exterminador do Futuro – Gênesis”, um jogo com miniaturas, e, por isso, muito mais complicado de produzir, por um preço muito mais barato, qual a justificativa possível, para colocar o preço de um jogo bem mais simples, o “It’s a Wondeful World”, por um preço que é quase o dobro.
Nada me tira da cabeça, que esse aumento excessivo nos preços dos novos lançamentos é um resultado do “Efeito Gloomhaven”. A editora lançou o Gloomhaven por quase R$ 1.000,00, e mesmo assim, o jogo se esgotou nas lojas, em questão de horas, chegando a se negociado posteriormente por R$ 1.500,00, aqui no Ludopedia. Isso fez com que, não só a “editora da largatixa”, mas também as demais editoras percebessem que poderiam lançar jogos muito mais caros, do que a média de preço praticada até então. E de certa forma as editoras estavam corretas, porque as pessoas continuam comprando jogos, apesar do preço altíssimo.
Por fim, se as pessoas acham normal pagar R$ 300,00, R$ 400,00, ou R$ 500,00, em qualquer jogo, independente da quantidade de componentes, só porque é um jogo novo, os preços vão continuar subindo.
Obviamente, cada um tem o direito de fazer o que quiser com aquilo que é seu, principalmente com seu salário. No entanto se o mercado consumidor não adotar uma nova postura em relação ao consumo de boardgames, as coisas continuarão exatamente como estão, e isso se não piorarem.
Eu sei é que, a menos que a qualidade dos lançamentos mude, e a menos que as editoras comecem a entender, que eu não ganho nem em dólar, nem em euro, tão cedo elas não vão ver a cor do meu dinheiro
Um abraço.
Iuri Buscácio