Agosto terminou com uma perda de valor inestimável para a comunidade preta. No dia 29/8, faleceu o ator americano Chadwick Boseman, intérprete do personagem Pantera Negra, da Marvel, nos filmes Black Panther (2018), Capitão América: Guerra Civil (2016), Avengers: Infinity War (2018) e Avengers: Endgame (2019). Além de ser um dos pioneiros como herói negro em grandes produções cinematográficas, Chadwick era ativista e constantemente falava sobre os desafios enfrentados por negros no país.
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Você foi nosso primeiro herói nas telonas. Nosso espelho. Nossa luta. Nosso respiro de esperança. Você foi e sempre será nosso rei e nossa inspiração. A comunidade preta está com o coração chorando, enquanto celebramos seu legado e a força que deixou em nós. Nossos ancestrais te abraçam por nós! – 29/8
Se agosto terminamos com a morte de um Rei, setembro começamos com o nascimento de uma rainha – ou várias rainhas devidamente representadas no jogo Black Power, da @newplayerstudios Embora ainda não tenha sido lançado, foi sucesso nas mesas de playtest virtuais da JogaMana. Tanto que tivemos que abrir jogas extras durante o mês para darmos a oportunidade de mais pessoas jogarem. Foi uma grande satisfação conhecer um jogo em que a perspectiva preta se mostra presente, na temática, na autoria e nas mecânicas.
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O fato de Black Power ser um jogo com temática preta desenvolvido por um autor preto levanta uma questão acerca da intersecção entre raça e temáticas que podem ou não serem abordadas nas obras. Afinal de contas: é incoerente que designers pretos façam jogos com temática européia e não afro-centrada?
Trouxemos um trecho (na imagem abaixo) de um comentário que vi para que tenhamos um exemplo real de frases que leio/escuto por aí sobre esta pergunta:
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Não coloquei o nome do autor porque não importa. Ele traz uma visão compartilhada por muitos. E está tudo bem, aproveitamos para refletir sobre. Será que é mesmo incoerente designers pretos fazendo jogos com temas europeus? Dentro da luta antirracista, não. E explico com dois pontos-chave do que lutamos:
1. Ter pessoas pretas em condições de equidade com as demais;
2. Ter descentralização de temas e mais representatividade.
No que diz respeito ao mundo dos jogos (e de forma bem resumida), seria equivalente a: ter mais designers pretos/as produzindo jogos & ter mais temas afro-centrados nos jogos.
Perceba: uma coisa não exclui nem depende da outra.
Que tenhamos mais temas afro-centrados para sairmos dessa centralização de padrão nos temas clássicos europeus ou americanos, sendo feitos por quem for e respeitando sempre, sempre a origem para que seja uma verdadeira homenagem. E que tenhamos também mais designers pretos e pretas brilhando DEMAIS por aí e com a liberdade de produzirem o que quiserem produzir.
Outro ponto frequentemente levantado nas discussões sobre racismo nos board games é sobre a validade de incluirmos a questão no hobbie. Afinal, algo aparentemente tão trivial quanto um jogo pode influenciar questões tão profundas e estruturais quanto racismo e desigualdade social? Às vezes ficamos céticas quanto ao poder dos jogos,mas histórias como as de Phiona Mutesi podem mudar nossa visão. Nascida em Katwe, a maior favela de Kampala (Uganda), Phiona conheceu o xadrez antes mesmo de aprender a ler e escrever. Isso porque, aos 10 anos, ela conheceu Robert Katende, um missionário que alimentava crianças em troca de aprenderem a jogar xadrez
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Quatro anos depois, em 2010, ela competia em sua primeira Olimpíada de Xadrez. Em 2012, tornou-se a primeira mulher de Uganda a ser Woman Candidate Master (WCM) de xadrez, primeira certificação atribuída a jogadoras após uma sequência de bons resultados em competições internacionais. Sua história é tão bela e inspiradora que virou filme da Disney: Rainha de Katwe foi lançado em 2016 e pode ser encontrado na plataforma do YouTube. Um simples ato como apresentar um jogo a uma criança foi o gatilho para mudar uma realidade e inserir uma mulher negra num esporte predominantemente branco e masculino.
Para finalizarmos a tile antirracista do mês, cabe ressaltar sempre que o racismo não é apenas quando alguém pratica uma violência física ou um insulto racial de forma declarada, muitas vezes o racismo estrutural se esconde através do humor… mas esse tipo de “brincadeira”, pode estar escondendo condescendência, falta de respeito, ofensa e claro, tudo isso é racismo, ainda que quem fez a piada não esteja ciente disso, ainda que essa pessoa não tenha sentimentos racistas, infelizmente, essa pessoa está sim reproduzindo o racismo e apesar da intenção de quem pronuncia, de quem ri ou de quem se cala, a ofensa pode ter existido sim e o racismo se instaurou ali.
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Se você não quer ser racista, não permita esse tipo de piada em sua mesa de jogos e entre os seus, afinal, queremos todos juntos na mesa, juntos e se respeitando, então, trabalhemos para isso. Não compactue com racismo, não permita que o racismo se perpetue ainda mais.