Brunochenko::Texto longo, mas muito bem escrito e extremamente pertinente.
Tenho meus 20 e poucos jogos, vários nem estreados (em parte culpa da pandemia), e já penso assim. Entretanto, difícil me controlar quando sai um jogo novo, com o tema ou mecânicas que eu adoro.
Comprei Maracaibo por impulso, e me orgulho de ter cancelado a compra - antes mesmo do linchamento público pela qualidade. Por outro lado, já vejo lançamentos - nacionais e até importados - que sei que vou pegar, mesmo sem saber se vão ver mesa. E justificativas pra isso, a minha cabeça inventa aos montes.
Enfim, muito bom um tópico falando disso, de maneira sóbria e sem julgamentos, trazendo a reflexão. Cada um deve saber qual seu limite, seu equilíbrio. O ponto aqui é que cada um deve saber seu limite.
Agradeço muitíssimo a leitura e o elogio.
Sim, o fato é que esses impulsos consumistas que nós muitas vezes apresentamos são um reflexo de alguma outra questão emocional pendente que precisa ser trabalhada, mas que, ao invés disso, procuramos compensá-la pelo "caminho mais fácil", digamos.
Jogos de tabuleiro, assim como qualquer outro bem de consumo que nos proporcione certo grau de prazer, mexem com nossos instintos mais básicos e nos recompensam brevemente com um senso efêmero de satisfação. É como se tivéssemos aquele brinquedo de criança onde ela tem que colocar as formas nos seus respectivos buracos. Estamos tentando colocar um quadrado no buraco de um triângulo. O quadrado não entra naquele espaço, mas tampa o buraco por completo, então "serve".
Aí está a armadilha. Achamos que estamos resolvendo uma questão muito mais profunda, geralmente emocional, com uma solução aparentemente simples, "comprei um jogo novo", mas que, na prática, naturalmente não é eficiente. Tapamos o sol com a peneira.
Sobre inventar justificativas, já fabriquei as mais descaradas que você pode imaginar.
- Já quis ter pelo menos 2 jogos de cada designer que eu tinha na coleção.
- Já quis ter uma versão hard e outra family de cada mecânica entre os jogos da minha coleção.
- Já quis um certo jogo porque eu sentia que faltavam caixas daquela cor na minha estante. Isso é sério. Muito sério. Eu realmente usei essa desculpa comigo mesmo. Aquele foi um dos indícios de que algo errado não estava certo. Ali eu comecei a ter um estalo e perceber que meu jogo não era os jogos em si, mas o colecionismo. Meu jogo favorito ali era Tetris de caixas caras de papelão colorido dentro de uma prateleira.
Não tem nada de errado com o jogo Maracaibo em si (salvo os problemas de produção, mas não é o tópico aqui), parece ser um jogão, independentemente dos problemas pontuais de qualidade no produto. Tenho certeza que muita gente vai curtir, bacana e tal, mas e quanto aos meus outros 40 jogos na minha prateleira? Meu tempo para jogos, que não é muito, terá agora mais uma fatia a ser dividida na briga para ver quem vai pra mesa essa semana. Você ter cancelado a compra foi um ato de resistência a um potencial impulso levado por fatores não necessariamente racionais.
Novamente e reitero sempre, não tem certo nem errado nessa equação, em termos de comportamento somente, o "certo" é você pensar/sentir de uma forma e agir de forma condizente. Se você faz A e pensa que isso não está muito correto, que B seria melhor, mas ao mesmo tempo, você não consegue deixar de fazer A e ainda não consegue explicar o porquê, pare, respire e pense a respeito.