Os asseclas de Samael atacavam em hordas sanguinárias, devastando tudo. O mundo de Vigil caía dolorosa e silenciosamente. Os aprendizes e as milícias não conseguiam enfrentar o avatar do Caído, cuja palavra retumbante rasgava a terra e revolvia os mares.
O fim do mundo estava acontecendo bem diante de meus olhos e eu nada podia fazer. Os Místicos caíam um a um e toda a tropa de infantaria pesada em que eu estava havia sido abatida. Eu era o último a resistir.
Já não tinha mais força para erguer minha espada. Meu braço direito estava inerte, esfacelado pelos golpes brutais das bestas do Caído. E agora seria devorado como meus companheiros de batalhão. Fui cercado por elas.
Contudo, um repentino clarão me cegou e eu pude ouvir o som de incontáveis golpes de espada dilacerando carne e pulverizando ossos. Abri meus olhos e pude ver, com assombro, o famoso Templário Arha diante de mim. A Tecelã das Estrelas havia ouvido minhas preces e mandado auxílio na hora mais precisa.
Todo o séqüito de bestas que me cercou havia sido dizimado. Entretanto, não houve tempo para agradecimentos. Diante de nós estava o próprio avatar do Caído. Mesmo para o poderoso Templário Arha, seria impossível derrubá-lo. Esmoreci novamente.
“Não temam”, disse um cavaleiro de alvas vestes e armadura reluzente como o brilho das estrelas, aproximando-se de nós bem naquele instante.
“Afaste-se e observe”, disse o Templário Arha. “Você verá com os próprios olhos porque esse homem é chamado de Oziah, o Inigualável”.
Tema:
Em Ascension, Chronicle of the Godslayer, cada jogador convocará poderosos heróis e construtos para lutar ao seu favor e derrotar as tropas de Samael, o Caído, que estão invadindo o indefeso mundo de Vigil. O jogador que obtiver mais pontos de honra receberá o título de Godslayer e vencerá o jogo.
Informações Técnicas:
Game Design: Justin Gary.
Edição: Stone Blade Entertainment– distribuição nacional: Funbox Jogos.
N° de jogadores: 2 a 4.
Tempo médio de partida: 30-40 min.
Componentes:
50 marcadores de honra: 25 marcadores pequenos (1 honra) e 25 marcadores grandes (5 pontos de honra);
200 cartas: 4 decks inicias contendo 8 Aprendizes e 2 Milícias cada; 60 cartas de oferta fixa (sempre disponíveis): 1 Cultista, 30 Místicos e 29 Infantarias Pesadas; 100 cartas do deck central. Observação: a versão distribuída pela Funbox apresenta 209 cartas, com 9 cartas promo.
Caixa do jogo
Preparação:
Separam-se 8 Aprendizes e 2 Milícias para cada jogador. Colocam-se o Cultista e todas as cartas de Místico e Infantaria Pesada no tabuleiro. Embaralham-se as demais cartas, abrindo-se 6 delas na mesa. Elas formarão a linha central e o baralho será o deck central, de onde se retirarão mais cartas para repor as que saírem da linha central.
Separa-se determinado número de marcadores de honra que varia de acordo com a quantidade de jogadores: 2 jogadores = 60 honra; 3 jogadores = 90 honra; 4 jogadores = 120 marcadores de honra.
Setup
O Jogo:
Ascension é um jogo de deckbuilding. Isso significa que os jogadores começam com baralhos iguais e vão melhorando-os ao longo da partida, ao adquirir mais cartas de um “pool” de ofertas coletivo. O deck de cada jogador se tornará único, devido as suas escolhas e o resultado final refletirá as decisões de cada um. O fator sorte existe, mas é bem pequeno; o que contará para a vitória realmente será a estratégia.
As cartas apresentam dois tipos de recurso:
Runas
ou Poder 
Runas que funcionam como o “dinheiro” do jogo. Ao jogar cartas que geram runas é possível comprar cartas disponíveis na linha central (oferta variável) ou cartas da oferta fixa (Místico ou Infantaria Pesada). Exemplo: Jogando 4 aprendizes da sua mão, gerará 4 runas, o que possibilita comprar qual(is)quer carta(s) que atinjam o custo máximo de até 4 runas. O jogador poderia, por exemplo, adquirir duas cartas de Infantaria Pesada com 4 runas.
Poder que funciona como “força militar”. Serve para derrotar o Cultista (monstro que fica sempre disponível, nunca sai do jogo) ou qualquer monstro presente na linha central. Ao derrotar monstros, ganham-se recompensas (basta ler e aplicar o efeito e um valor em tokens de honra. O monstro derrotado vai para o descarte, chamado de “Vazio”. Exemplo: Jogando duas milícias será possível derrotar o Cultista uma vez, pois o Cultista exige um valor de 2 de poder para ser derrotado.
O deck inicial de cada jogador é formado por 8 Aprendizes (cada aprendiz gera 1 Runa) e 2 Milícias (cada Milícia gera 1 Poder).
O Turno:
O deck inicial é embaralhado e o primeiro jogador comprará 5 cartas. Ele deverá utilizar todo o recurso presente nas cartas da melhor maneira possível. Tanto as cartas adquiridas durante o turno como as cartas utilizadas e as não utilizadas irão para o descarte ao final do turno. O jogador deve então jogar as cartas e aproveitar os benefícios concedidos por elas. Vale lembrar que as cartas do tipo “Construto” permanecem em jogo até que algum efeito os remova do jogo, isto é, construtos não vão para o descarte ao final do turno, ao contrário de todas as outras cartas.
No início do seu próximo turno, o jogador deverá comprar novamente 5 cartas do seu deck. Se ele tiver menos do que 5 cartas, deverá embaralhar o descarte, formando um novo deck (é nesse momento que as cartas adquiridas em turnos anteriores começarão a aparecer em seu jogo. Isso é o famoso “Deckbuilding”, pois a cada embaralhamento, novas possibilidades são adicionadas ao seu deck).
Fim de Jogo:
O jogo prossegue em sentido horário até que um dos jogadores compre o último token de honra disponível. Isso ativará o último turno do jogo. Se o jogador a comprar o último marcador de honra for o jogador que começou o jogo, todos os demais terão mais uma jogada; caso tenha sido o último jogador da rodada, o jogo terminará imediatamente. Isso é para assegurar que todos os jogadores tenham o mesmo número de turnos no jogo.
Contam-se o total de marcadores de honra e o valor em honra presente em cada carta do deck, indicados por um valor expresso no símbolo de “estrela”, presente no canto inferior esquerdo das cartas. O jogador que possuir mais honra, vencerá o jogo.
Jogo em andamento
Considerações:
Primeiramente, é preciso salientar que essa resenha dedica-se apenas a apresentar o jogo e discutir seus aspectos mais importantes, sem a menor pretensão de esgotar o assunto. Como todos os que jogam sabem e os que ainda não conhecem vão perceber, Ascension é um jogo fácil de jogar, mas não é simples de dominar.
Cada partida se desenrola de forma única e nenhum jogo é igual a outro. A oferta da pilha central está em constante mudança e os jogadores devem adequar seus decks para essas mudanças. Há muitos monstros na linha central e seu deck tem poucos pontos de poder? Talvez seja interessante investir um pouco em Infantaria Pesada e outras cartas que geram poder; as cartas da fila central estão com custo alto em runas? Talvez seja melhor investir em Místicos para substituir os aprendizes do seu deck, ou comprar cartas que possam gerar mais runas e com isso, adquirir mais cartas do pool coletivo. Saber gerenciar o crescimento do seu deck é fundamental para que você não fique sem opções no jogo. Impedir que o adversário compre determinada carta, seja banindo-a do jogo ou comprando-a antes dele muitas vezes será importante.
O jogo apresenta 4 facções distintas, cujas cartas combinam entre si: Mechana, Vazio, Virente e Iluminados. Descobrir as combinações entre as cartas e aplicá-las trará grandes vantagens para o jogo. Em geral, cartas da mesma facção costumam combinar entre si. Vale lembrar que os construtos permanecem em jogo, gerando seus benefícios uma vez por turno. No final da partida é muito comum surgirem combos com efeitos devastadores. Mas, para isso, é preciso estar atento aos efeitos na descrição das cartas, a fim de tirar o máximo potencial que as cartas oferecem.
As partidas não são longas, levando uma média de 30 minutos se todos sabem jogar, mais tempo se for a primeira vez de alguém, em geral não ultrapassando uma hora, o que é um bom tempo levando-se em conta que é preciso estar sempre lendo as cartas.
O jogo apresenta um modo solo bastante desafiador em termos de dificuldade e que serve como um bom treino ou mesmo uma forma de aprender a jogar antes de ensinar a outras pessoas.
Em relação aos componentes, todos são de excelente qualidade. O tabuleiro da 3ªedição apresenta todos os espaços já delimitados para as cartas e para os marcadores de honra e sua arte está belíssima. Falando em arte, as ilustrações das cartas dessa edição estão muito bonitas, melhorando muito em relação às edições anteriores. Os marcadores de honra simulam cristais ou gemas, sendo muito bonitos.
As comparações entre Ascension, Dominion e Star Realms são inevitáveis. Não vou entrar no mérito de qual dos três é melhor, pois a meu ver, essa é uma questão de gosto pessoal. Os três são excelentes jogos.
Apenas destacarei que em Ascension a disputa fica focada nos pontos de vitória e não há embate direto entre os jogadores como em Star Realms (claro que de vez em quando vão destruir aquele construto que você pôs em jogo ou banir aquela carta que você queria tanto comprar. Mas, isso não acontecerá a todo instante); portanto, em Ascension a interação entre os jogadores é indireta. Em Dominion, o pool de oferta de cartas é fixo, em Ascension a oferta é variável, exigindo mais adaptação do jogador em relação ao que está disponível na mesa.
A disputa por pontos em Ascension é muito acirrada e empolgante, muitas vezes ganhando-se ou perdendo-se por uma única carta (vale lembrar que cada carta comprada também gera honra, não se ganha honra apenas matando monstros).
Ascension é um grande jogo e um excelente deckbuilding, sendo uma boa relação custo-benefício para quem adquiri-lo. Aconselho a quem não o conhece a pelo menos experimentá-lo. Para quem já tem Dominion, Star Realms ou outros deckbuildings, Ascension não é mais do mesmo. Traz bastante variedade em sua caixa básica e tem um enfoque diferente de outros deckbuilding games, sem falar na ótima temática, muito bem aplicada no jogo.
As expansões, quando chegarem ao Brasil, aumentarão exponencialmente a rejogabilidade. Se você não agüenta esperar, já há várias expansões, como Ascension: Realms Unraveled; Ascension: Return of the Fallen; Ascension: Storm of Souls e muitas outras, infelizmente todas em inglês ainda. Contudo, apenas o jogo base já é suficiente para horas de diversão. Grande abraço e até a próxima!