Encontrei esse artigo recentemente por acaso, que fala sobre o jogo:

Política: Um jogo de poder
Como acontece com qualquer criança, algum dia um adulto parou para me explicar o que era política.
Não me lembro quem foi, e não deve ter sido uma única pessoa, nem uma única vez. Mas sua explicação foi certamente algo como:
"O presidente é quem cuida do país! Ele procura saber o que é que a população precisa, e trata de encontrar soluções para os seus problemas. Tem também o governador, que tenta resolver os problemas do estado. E o prefeito que toma conta do município. Todos eles são escolhidos por nós, pela população, para que esses trabalhos de tanta importância sejam ocupados pelas pessoas mais competentes e bem intencionadas."
Há variações no discurso, como incluir o poder legislativo, entrar em mais detalhes do papel de cada ente da federação, explicar melhor como são as eleições, etc. Mas a linha básica é essa. E o estrago na criança é enorme.
Por muitos anos, mantive essa ingênua crença de achar que os políticos tinham como objetivo cuidar dos interesses da população; que a estrutura política foi desenhada para que o seu produto fosse aumentar (ou mesmo tornar possível) o bem-estar da população.
Depois de ler a opinião de muita gente que pensava diferente — inicialmente negando suas ideias; depois concedendo um ponto ou outro, mas ainda rejeitando suas conclusões gerais; mais tarde concordando, com algumas poucas ressalvas inegociáveis; até ser finalmente convencido e agora estar aqui tentando repassar seus ensinamentos adiante –, hoje entendo que a natureza política “é qualquer coisa, menos idílica” como eu imaginava.
Mas para a maioria das pessoas, aquele conceito original não é suficientemente contestado e segue vivo para sempre. Afinal, é muito difícil se desfazer de um conjunto de ideias a partir do momento em que a pessoa considera que elas já estão maduras. Quando inevitavelmente deparados com os noticiários escandalosos de corrupção na política, ou mesmo de seus péssimos resultados em realizar aquilo que se propõe a realizar, nós inacreditavelmente escolhemos nos manter agarrados a nossas crenças juvenis e desprezar os fatos que gritam diante de nossos olhos.
Nos enganamos acreditando que o problema são os políticos que estão aí. Que basta trocar as peças, fazer um ou outro ajuste, colocar ordem no circo, e as coisas voltarão à normalidade dos nossos sonhos.
É muito mais fácil uma pessoa entender que política não é o conto de fadas que somos levados a acreditar que é se desde criança ela também ouvir alguma explicação alternativa. Algo que gere uma disputa interna, um assunto não resolvido em sua cabeça, e que mais tarde ela tente usar os fatos que percebe da realidade para decidir qual das duas versões é mais verdadeira. E uma maneira de conseguir chamar a atenção das crianças é com um divertido jogo.
Aqui entra Vossa excelência: O jogo político, onde a política é tratada como um jogo de poder. Cada jogador é um deputado, e “vence a partida o jogador que possuir o maior ‘capital político’ ao final do jogo.” Para isso, ele precisa comprar eleitorados (segmentos da população, como os jovens, os religiosos, etc), influencers, a mídia e outras pessoas poderosas. O dinheiro que o jogador usa para essas compras vem de manobras políticas, obras superfaturadas, retorno por indicações políticas, e assim por diante. As regras do jogo são bastante intuitivas para quem acompanha o noticiário:


Exatamente aquilo que acontece na política de verdade, os criadores colocaram em um jogo de cartas para as crianças brincarem.
Se você teria vergonha que o seu filho se tornasse mais um fantoche de políticos, você precisa encontrar uma maneira de explicar para ele que os governantes não são os anjinhos fraternos e desprovidos de auto-interesse que eles mais tarde ouvirão de outras pessoas que são.
Pelo contrário, são pessoas de carne e osso que também têm os seus desejos, seus sonhos, sua vaidade e sua vontade de subir na vida. E que se eles receberem poder de mandar na população, esse poder será previsivelmente empregado na perseguição dos seus próprios objetivos, e não na perseguição dos objetivos daqueles que lhes entregaram tal poder.