Por Jacob Russell
Earth Reborn é um jogo que não quer que você goste dele, a cada passo ele toma medidas que quase garantem isso.
Primeiro você vê a capa, é gritante, agressiva e tosca. Zumbis, monstros de Frankenstein, soldados futuristas, uma mulher gostosa... é ridículo, é ultra masculino, é clichê!
Então você abre a caixa e... nenhum tabuleiro? Pilhas de tiles, pilhas de marcadores, pilhas de dados, algumas miniaturas bonitas, dois livros de regras gigantes... um é tutorial com 10 cenários só pra aprender o maldigo jogo! O quê? Você não comprou um jogo de tabuleiro, você comprou um sistema detalhado de jogo tático de miniaturas.
Você dá uma olhada nas regras, os ícones são espalhafatosos, as regra são densas, você percebe que é um jogo longo... muitos jogadores gostam de jogos curtos, só alguns gostam dos longos. A cada passo ele tenta te impedir de gostar dele. A cada passo ele tenta te alienar, provar que ele é inacessível. Não só o livro de regras parece ruim, e em alguns casos as regras em si são mal explicadas ou até explicadas demais.
Mais obstáculos no caminho, mais uma tentativa do
Earth Reborn de te manter longe, bem longe. Você desiste, começa a pensar em porque não é bom, racionaliza que não está interessado e o jogo se apaga da sua consciência.
Seria uma vergonha, seria triste, mas faria sentido. Eu entendo.
Earth Reborn não está nem aí pra você e não se importa se você gosta dele. Ele nem tenta. As primeiras impressões geralmente são uma bobagem, mas ficamos com elas do mesmo jeito.
Assim que você passa por isso, lentamente começa a perceber que é tudo um truque.
Earth Reborn é um sistema até simples, só mal explicado. Sim – os ícones são feios, as cores estão todas erradas mas tudo faz sentido e de um jeito que quase nenhum outro jogo de miniaturas faz. Provavelmente é o sistema de miniaturas mais singular que eu já joguei.
Eu levei por volta de 15 horas para aprender totalmente a jogar esse jogo (isso inclui jogar todas as missões de tutorial), e eu aposto que posso ensiná-lo em 15 minutos. Isso mostra quanta porcaria desnecessária há no livro de regras. Dito isso, o tutorial não é qualquer lixo, é uma campanha completa com uma história divertida, que mostram que aquelas 15 horas aprendendo o jogo não foram uma perda de tempo. Foi um tempo divertido de jogo, mas poderia ter sido apresentado de maneira diferente.
Pessoalmente, eu acho que valeu a pena o esforço.

Esqueça os cenários de tutorial por um momento, se você gosta muito desse jogo você tem que usar o SAGS (Scenario Auto Generating System), um sistema de geração automática de cenários, e ele faz justamente o que ele diz. A base do jogo é tentar pegar pontos de missão. Você pode pegá-los invadindo os sistemas de computadores, torturando oponentes, usando sistemas de comunicação, com espionagem, com sabotagem, matando os oponentes, controlando certas salas e por preencher os requisitos das cartas de missão (você terá quatro durante a partida). Há dúzias de ações diferentes que você pode fazer, todas gerenciadas pelo mesmo sistema simples e todas fazem algo um pouco diferente e todas tem lugar no jogo. Não só isso, mas também cada elemento do tabuleiro pode ser destruído, então o tabuleiro pode estar sempre mudando enquanto você joga. Pode acontecer de um personagem com uma serra no lugar da mão estar atrás de alguém dentro de uma sala, e simplesmente cortar as paredes para atacá-lo.
Apesar do sistema usado para cortar uma parede, operar um jetpack, hackear um computador ou usar um link com um satélite seja o mesmo, ele não parece ser assim. As ações parecem ser únicas e diferentes em cada caso. É excitante experimentar uma nova peça de equipamento.

Esses equipamentos vem de diferentes lugares. Eles podem ser elementos do tabuleiro como os sistemas de comunicação ou o laboratório químico ou podem ser peças de equipamento que você acha como o computador ou o kit médico. Na verdade, procurar por equipamentos é uma das melhores partes do jogo. Há um grande deck de duas faces de itens que você pode encontrar (todos com o peso descrito, então tenha certeza que você vai conseguir carregá-los) e você tem que procurar pelo deck dependendo da rolagem de um dado especial de busca. O dado permite que você vá virando as cartas ou embaralhe o monte. Há pontos de espionagem para ser rolados, que também dão opções. Então, o item que você quer tem que ser algo que você pode encontrar nessa sala. Apenas combine o ícone na carta com o da sala onde você está. Isso não deixa você encontrar, por exemplo, a constituição americana em um arsenal ou uma bazuca no banheiro. É um sistema ótimo, transmite realidade e a ação de ir virando as cartas representa muito bem a ideia de freneticamente estar procurando em uma sala. Cada item tem um uso de acordo com as circunstâncias e nada é uma perda total. Quase toda sala tem itens que podem ser encontrados. Se eu estivesse escrevendo uma daquelas “
Resenhas usando Uma Mecânica”, eu certamente faria sobre essa em particular.
Vocês também lutarão entre si. Tanto combate corpo a corpo e a distância, e em ambos os casos, com uma boa variedade de armas. Mas você já sabia dessa parte, só não imaginava que poderia ser um cara usando um jetpack para se aproximar e te atacar com garras do
Freddy Krueger enquanto você tenta fugir.

As ações básicas são Movimento, Ataque, Procura e Fazer Ação... esse “fazer ação” é meio complexo, o resto todo é bem definido. O que é melhor é que você pode mover, atacar e mover novamente... ou mover um cara, atacar com outro, e voltar a mover o primeiro... a não ser que o oponente decida tentar parar isso roubando um turno no meio de tudo. Você pode desafiar alguém quando enxergar a pessoa, e uma faze de apostas ocorrerá. Quem vencer, é o próximo a mover... desse jeito seu inimigo pode agir durante o seu turno mesmo se aquele personagem já agiu. Prepare-se para apostar algo... isso não é só por tiro de oportunidade, pode ser para fugir ou para usar um equipamento e a aposta pode ser crucial algumas vezes, mas não define a partida. Mas pode se tornar um jogo por si só depois de um tempo. A coisa para manter em mente é que a “moeda” que você está apostando é a mesma usada como pontos de comando, que você usa para executar ações. Eu frequentemente deixo meu oponente vencer... às vezes eu prefiro até jogar depois e ter mais ações. A aposta parece ser o componente principal do jogo quando você começa a jogar... as sutilezas do sistema vão se mostrando depois de um tempo.
Outro dia eu estava jogando uma partida e eu coloquei tiles nos meus personagens por quatro turnos antes de fazer qualquer coisa. Esses tiles têm ações neles que eu poderia fazer – mas eu escolhi não fazer por enquanto. Eu só coloquei eles lá e não agi. Quando chegou o quinto turno eu joguei mais um tile e comecei minhas ações. Eu tinha colocado antes uma série de ações no personagem que não estava ativo no turno, o que significa que eu posso usá-lo para interromper meu próprio turno. Ele poderia mover e atirar com essas ações. Agora, ambos os personagens podem se mover quase simultaneamente. Então depois de atirar, o personagem se move para trás do outro que foi originalmente ativado, e meu oponente tenta interromper... ele vence e foge, mas o meu outro personagem ainda tem muito movimento a fazer, e no fim da perseguição enche o outro de tiros. Meu outro personagem se move para uma posição melhor... tudo em um turno. Esse tipo de coisa acontece em
Earth Reborn todo o tempo. Além disso, tudo pode ser destruído, então o tabuleiro pode parecer totalmente diferente no final do jogo, e se esconder em uma casa não necessariamente vai te salvar nem impedir de ser atacado por trás.
Infelizmente, há problemas... alguns personagens tem habilidades impressionantes... outros nem tanto. As de
Frank Einstein e
Cherokee Bill são muito ruins. Frank é loucamente apaixonado por mulheres e Cherokee Bill é um traidor sujo. Então Frank pode mudar pro outro time se a mulher fizer um simples teste. Isso é um saco, e faz você evitar a mulher (o que é difícil, ela é muito rápida) ou simplesmente não escolhe-lo para o cenário. Uma limitação desnecessária. Cherokee Bill pode ser usado pelo inimigo em qualquer turno se você não ativá-lo de uma vez. Então duas coisas já tem roteiro para essa facção. Cherokee jogará primeiro e Frank ficará de olho na raiva feminista. É apenas como acontece, e é legal em alguns cenários... é até legal no SAGS no começo, mas rapidamente fica chato. Mais facções são uma necessidade, mesmo achando que você pode jogar dúzias de vezes e cada partida ser muito boa. Vale muito a pena. Com todas as pequenas falhas é provavelmente o melhor jogo que eu já joguei que é cheio de problemas. É um lindo Franskenstein, uma obra prima feia e você precisa ter um pra ver por si mesmo como ele funciona.
Eu nunca me separarei de
Earth Reborn. Eu vejo um monte de erros mas eu vejo mais inspiração e genialidade. Eu diria que o jogo dificulta que ele mesmo seja mais prazeroso, porque com mais facções ele seria incrível, e o sistema é tão bonito que você quase deseja que ele tivesse sido mais influente. É um trabalho de design incrível e uma pena que tanta coisa foi deixada de lado no caminho entre o cérebro de
Christophe Boelinger e a nossa mesa, mas se você é o tipo de jogador certo, você navegará na direção da mente dele e experimentará um dos mais perfeitos sistemas de miniaturas já feito. Um que permite criatividade e imaginação mais que qualquer outro sistema que eu já vi. As coisas funcionam de um jeito possibilitando que tudo faça sentido, seja divertido e contribua para a história.
Earth Reborn nunca ganhará uma expansão (eu acho) e ele se beneficiaria muito de uma. É um jogo de dois jogadores, mas ele tenta te convencer que é para quatro... tudo bem, tem um cenário ou outro assim, mas ele é um jogo para dois. E há muito o que jogar mesmo sem nenhuma expansão ou algo assim, e eu ainda sonho às vezes que uma expansão entrará em uma campanha de financiamento coletivo a qualquer momento. Provavelmente não, mas o jogo é tão bom que faz você fantasiar com isso. Além de que com somente duas facções, há uma chance real de que você realmente venha a pintar todas as miniaturas um dia.
Então mesmo que o
Earth Reborn tenha tentado me fazer odiá-lo, mesmo tendo cuspido na minha cara mais de uma vez... eu acabei me apaixonando por ele. É o jogo mais imperfeito que eu já gostei... e honestamente, não são assim nossos melhores amantes?
Traduzido por CassioLemos