Em tempos de quarentena, me peguei pensando que uma das minhas partes favoritas do hobby de Board Games é pesquisar sobre os novos jogos sendo lançados. Cada dia é uma nova descoberta, uma nova expectativa criada, mas como o dinheiro e o acesso aos jogos são limitados, muitas vezes acaba não passando disso.
Com isso em mente, achei que valeria a pena eventualmente compartilhar o resultado das minhas pesquisas. O esforço pode acabar não rendendo frutos pra mim, mas vai que você estava procurando um jogo assim?
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Atlantis Rising - Second Edition
Em Atlantis Rising, vocês são um grupo de Conselheiros de Atlantis durante os eventos que levaram ao trágico fim da lendária cidade. Para vencer o jogo, vocês e seus seguidores devem conseguir montar 9 dispositivos para abrir um Portão Cósmico e assim, salvar toda a população de Atlantis. Tudo isso, claro, antes que a cidade inteira afunde!
O jogo é um cooperativo de 1 a 7 jogadores, que utiliza mecânicas de alocação de trabalhadores e boas doses de
push your luck. O mapa é dividido em 6 seções ou penínsulas, cada uma dedicada a um tipo de recurso, sendo que as ações realizadas nas pontas são mais fortes que as centrais. O turno é dividido em 4 fases:
1. Alocação simultânea dos trabalhadores
Cada Conselheiro envia seu líder (que confere uma habilidade especial) e seus seguidores em busca dos recursos
para salvar o povo de Atlantis. Mas eles só conseguem o que procuram se sobreviverem aos Infortúnios.
2. Sofrer Infortúnios
A ilha começa a afundar! Cada carta (1 por jogador) indica uma seção do mapa a sofrer com a inundação ou outra catástrofe.
3. Resolver as ações dos trabalhadores
Os seguidores que sobreviveram tentam trazer de volta os valiosos recursos. Lance o dado para tentar coletar materiais como ouro e cristais ou recrutar mais seguidores que irão te ajudar a cumprir seus objetivos.
4. Suportar a Ira dos Deuses
Os deuses não estão satisfeitos com Atlantis, e turno a turno aceleram a destruição da cidade com mais inundações!
Tabuleiro de Atlantis Rising: Cada península fornece um recurso diferente, mas cuidado: As ações das pontas são mais suscetíveis à inundação!
Pouco a pouco a ilha vai sofrendo inundações. As ações mais fortes estão localizadas nas pontas das penínsulas, que são as áreas que serão inundadas primeiro. E como os Infortúnios acontecem
antes da resolução das ações, se seus seguidores forem afogados, eles voltam pra casa de mãos abanando. É aí que está a sacada do jogo! Você vai apostar em uma ação melhor, correndo o risco de perder tudo? Mas se jogar muito conservador, será que você consegue salvar a população de Atlantis antes da destruição total?
Use sua habilidade única de Conselheiro com sabedoria, planeje em conjunto e tome riscos calculados. Com um pouco de sorte, ou a piedade dos deuses, você conseguirá levar a população à segurança antes que a ilha de Atlantis se torne nada mais do que uma lenda.
Portão Cósmico e os dispositivos para ativá-lo.
Por quê eu me interessei pelo jogo?
- Tema: é uma resposta bastante simples, e muito pessoal. Eu acho que cativa, a mitologia de Atlantis existe há séculos e é familiar pra muita gente. Além disso, não tem zumbis, nem Cthulhu, e não é em Marte (ou será que é?).
- Coop de alocação simultânea de trabalhadores: worker placement é minha mecânica favorita, e ver isso em jogos cooperativos não é tão comum. Alocação
simultânea de trabalhadores então, é uma proposta que até o Jamey Stegmaier,
neste vídeo, achou genial e muito bem encaixada na proposta do jogo: reduz o downtime a praticamente zero, e cria interação entre os jogadores na briga pelos espaços e pela ajudas de cada líder. Além disso, diminui a interferência de um Alpha Player, porque é muito meeple sendo alocado ao mesmo tempo pra tomar conta de todo mundo.
Pra quem pensou em
Robinson Crusoé, pensou certo: eu também adoro esse jogo cruel. Mas eles tem lá suas diferenças...
- Tensão rodada a rodada: ver a ilha afundando sob seus pés, te deixando cada vez mais próximo da devastação total e extinção do seu povo... isso te dá muito senso de urgência! Você pode até se apoiar em probabilidades, mas é obrigado a assumir riscos. Todo turno é um desespero, uma torcida, e um alívio quando consegue sobreviver a mais uma rodada de Infortúnios.
- Dificuldade pode ser bastante alta: pra mim, jogo cooperativo tem que ser desafiador, ou perde rápido a graça. Atlantis Rising tem diversos recursos pra alterar o grau de dificuldade. Seja pela escolha dos Infortúnios, dos dispositivos a serem construídos, ou dos próprios Conselheiros, o jogo varia entre um passeio no parque até algo digno de Ethan Hunt (
Missão: Impossível, alguém? Não? Tá bom). Pra ter ideia,
nessa live o designer do jogo, junto com os jogadores do
The Dice Tower, conseguiu ativar o Portão Cósmico 1 rodada antes de Atlantis ser devorada pelo mar. Tudo isso em um nível médio.
NÍVEL MÉDIO! Vencer o nível Hard vai valer uma comemoração padrão Festa do Neymar.
Por quê eu poderia não gostar do jogo?
- Fator sorte: "ah, coop tem que ter alguma aleatoriedade, senão vira um mero puzzle." Concordo. Mas quando você sobrevive a uma rodada de Infortúnios, vai pros dados e rola um
blank... na primeira vez você dá risada do seu azar; na segunda, sai um sorriso amarelo e o pensamento que o jogo tá começando a ficar difícil; na terceira, é só frustração e a certeza que o jogo já está perdido. O jogo tem maneiras de mitigar o fator sorte, mas como ele é muito apertado, poucas vezes você terá esses recursos em abundância.
Eu adorei a proposta de aleatoriedade dos Infortúnios. O risco está lá, você sabe. Vai tentar? A decisão é sua. Já nos dados, não tem muito o que fazer: é 16,6% pra cada face e pronto. Entendo que na maioria das partidas isso não será um problema, mas sempre haverá aquela ocasião que vai deixar todo mundo miserável com o excesso de azar.
- Rejogabilidade: dá pra alterar o deck de Infortúnios? Dá. Cada conselheiro tem uma habilidade diferente e vai dar variabilidade ao jogo? Sim. Tem uma combinação imensa de dispositivos que podem ser construídos? Também.
"Então não tô te entendendo, Bruno..." Explico: em toda partida você tem o mesmo objetivo, e o mesmo processo - coletar recursos, montar dispositivos, ativar o portão.
Eu acredito que pra alguns grupos, se desafiar em uma dificuldade maior, ou pilotar um Conselheiro com outra habilidade vão ser motivações suficientes pra botar o jogo na mesa de novo, e de novo. Já pra outros, vão sentir falta de um novo cenário, uma missão diferente, algum outro objetivo a atingir, como muitos jogos coop fazem.
Sabendo que você vai sentar na mesa pra salvar o povo de Atlantis mais uma vez, ter toda essa variabilidade é suficiente? Fica aí a pergunta. Eu ainda não joguei pra responder...
- Quantidade de jogadores: o jogo parece funcionar muito bem de 3 a 5. Em 6, começa a me parecer caótico. Pra 2 jogadores é sugerido usar, a cada turno, um dos Conselheiros de fora do jogo para auxiliar com sua habilidade especial. Alternativamente, cada jogador pode jogar com 2 Conselheiros, tomando o cuidado de não misturar as ações e recursos.
Em geral, acho esse tipo de artifício o reconhecimento de uma falha de design. Não que seja fácil escalonar um jogo pra todas as quantidades de jogadores, longe disso. Se você busca um jogo pra jogar com um grupo de amigos, é válido ter a opção que funcione pra 2 jogadores. Mas se sua realidade é de sempre jogar em 2, o mundo tem muitas opções boas pra você se contentar com uma variante remendada.
Consideração final
Atlantis Rising me parece bastante empolgante, e levar a uma montanha-russa de emoções. Da frustração de ter seus seguidores engolidos pelo mar, à euforia de conseguir o recurso que faltava pra construir o dispositivo em um turno crítico. Tudo isso com a tensão presente a todo momento.
Eu acredito que as vantagens superam as desvantagens, a depender da sua expectativa com o jogo. Se você tem um grupo que gosta de desafios que envolvem planejamento e tolerância a riscos, Atlantis Rising pode ser um prato cheio.
Quanto a mim? Tenho muito interesse em um coop leve pra coleção, e esse preencheu vários requisitos que eu busco. Não o suficiente pra gastar com uma importação, mas fica
No Radar caso pinte uma oportunidade aqui no Brasil.
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E assim eu encerro a minha avaliação do Atlantis Rising 2nd Edition.
Reforço que não joguei e essa é meramente minha opinião, baseada em revisões, videos e comentários de quem já jogou e fez sua avaliação. Apenas interpretei as informações de acordo com meus gostos pessoais.
Gostou do artigo? Alguma sugestão pra melhorar minha análise?
Fico a disposição pra comentários e críticas construtivas.