Logo Ludopedia

Acesse sua conta

Crie sua conta

Ou utilize suas redes sociais
  2. Fórum
  3. Análises
  4. Fallout
  5. Resenha: Fallout, uma oportunidade desperdiçada

Resenha: Fallout, uma oportunidade desperdiçada

  • Baseado nos jogos eletrônicos da Bethesda, Fallout: The Boardgame, trazido à vida pela Fantasy Flight Games, coloca na mesa o mundo pós-apocalíptico dos ermos e situações cômicas que podem trazer alguma diversão aos jogadores.

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/a315f_zw9u79.jpg

    Fallout (Imagem:BGG)

    No jogo, cada jogador controla um personagem e deve se aventurar nessa terra sem lei em 4 cenários diferentes. Cada cenário possui uma história a ser contada e conforme o jogo avança, os personagens ganham experiência e evoluem, novas missões principais e secundárias são liberadas e os jogadores tentam balancear os litígios entre as facções que estão em jogo no cenário, pois se uma facção chegar ao total de X pontos, a facção ganha e todos os jogadores perdem. Desse modo, cada jogador tenta atingir Y pontos de vitória, de acordo com o número de jogadores, antes das facções e dos outros jogadores para então se tornar o vencedor da partida.
     
    A premissa do jogo é extremamente interessante: mover, explorar novos tiles, lutar contra inimigos, fazer missões, quase que num mundo semi-aberto. Tudo isso parece muito animador e quando peguei minha cópia do jogo, corri pra colocar na mesa.
     
    E aí a decepção veio. Não logo de cara, mas ao longo de umas três ou quatro partidas, com diversos pontos sendo questionados por mim e por outros jogadores, acabei chegando à conclusão de que Fallout não cumpre o que promete, por vezes completamente e por vezes parcialmente.
     
    O primeiro grande problema pra nós – e pra muitos da comunidade do BGG – é o sistema de pontos do jogo. A pontuação é feita através da recepção de cartas de estratégia que concedem um ponto de vitória e podem conceder mais, dependendo da situação do jogo. Aqui, a aleatoriedade já entra chutando a porta pra ajudar a determinar quem vai ser o vencedor. Geralmente você ganha essas cartas de pontuação através de missões, que, por sua vez, também concedem pontos de influência a uma das facções em jogo. Ou seja, em geral, quando você avança no jogo, você também fica mais próximo de perdê-lo, pois uma facção irá ganhar seus próprios pontos de vitória. Pera, o quê? Bem, é mais ou menos assim: Seguindo a linha da história que queremos ajudar o povo a não ser mais escravizado pelo outro povo, fazemos a missão de libertar escravos e ganhamos pontos de vitória, ao passo que a facção escravizada também ganha influência, chegando mais próximo de vencer o jogo. Como a carta de pontos de vitória que vem pra sua mão ao completar uma quest garante 1 ponto e pontos extras de acordo com o que está acontecendo no jogo, isso deixa seu sistema de pontuação bastante aleatório.
     
    O combate é extremamente simples, rolagem de dados para checar se você acerta ou não o monstro. Mitigar seus resultados? Apenas com rerrolagem de dados. Nada que realmente ajude com eficácia. Quer comprar itens? Vá a um local X, faça um encontro e torça para que nesse encontro, aleatório do baralho, você tenha a possibilidade de comprar algo. O encontro ainda irá dizer quantas transações você pode fazer.

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/f870d_zw9u79.jpg

    Dados e mais dados sem real mitigagem detraem a experiência do jogo. (Imagem: BGG)

    Fallout tem algumas coisas interessantes, mas até aí elas se perdem dentro das mecânicas do jogo. O jogo possui uma narrativa a ser seguida, com a adição de novas cartas determinadas pelo jogo – sistema também implementado em Arkham Horror 3ª Edição -, mas a narrativa é pro jogo, não pros jogadores. Por exemplo, se um jogador for lá e em uma side-quest ajudar uma velha a fazer algo, ele ganha o ponto de vitória ou algum benefício e uma nova quest se abre, com a mesma velha, em outro local, em que a velha está fazendo algo diferente, porém ligado ao que ocorreu antes. Mas qualquer jogador pode ir lá e continuar essa side-quest. Tematicamente a velha nem saberia quem é essa pessoa, pois quem a ajudou foi outro jogador! Então a narrativa, especialmente das missões secundárias, detrai a imersão que a narrativa principal tenta colocar em prática. Num jogo cooperativo isso seria aceitável, pois todos estão jogando juntos, porém em um competitivo não vejo como funciona.
     
    O sistema de evolução de personagens é fraco, com você ganhando tokens que te ajudarão a, adivinha? Rerrolar dados! De novo, sério? E mais, caso você morra, seu personagem pode chegar a involuir, pois você é jogado pro espaço inicial do mapa – geralmente bem grande – e pode perder itens adquiridos de forma muito suada. Ou seja, pode ser que depois de 1:30h jogando, com seu personagem já melhorado, num azar da vida você morra e regrida no jogo. Regressão de personagens é algo que eu não consigo engolir. Poderiam ser diversas outras penalidades, mas regredir o meu personagem que tanto me custou a evoluir transforma o jogo em algo arrastado e, muitas vezes, injusto.
     
    Existem algumas house rules que transformam pra melhor o jogo, aliás, tornam o jogo minimamente jogável. Eu não sou contra house rules que facilitem ou deixem o jogo mais divertido, mas no caso de Fallout são tantas a seguir para deixar o jogo num estado divertido que me deixou refletindo: “Se são necessárias tantas house rules assim, tem algo muito errado com o jogo”.
     
    No fim, Fallout tinha um grande potencial em suas mãos, mas dá a impressão de ter sido um jogo que foi apressadamente colocado no mercado, com poucos playtests, poucos feedbacks e aquela coisa do “vamos usar essa marca já bem estabelecida no mercado que vai vender minimamente, mesmo que não seja bom”. Obviamente, como disse, é a impressão que eu tenho do jogo.
     
    Fallout é o jogo que tem uma premissa incrível, tema interessante, arte e componentes ótimos, mas falta o principal: jogo, diversão. Uma decepção, especialmente pelo potencial que o jogo aparenta ter, e a impressão de que, em mãos mais cuidadosas, poderia ter sido um jogo incrível.
     
    Mas não é, nem de longe.
     
    Curtiu? Veja outros textos do canal:
    Resenha: Abomination, um euro mórbido cheio de vida 
    Resenha: Kick-Ass, chutando bundas em Nova York 
    A hora e a vez dos jogos narrativos

    6
    0
    16

    • Canal

    Resenha Dungeonology: Quando o hype dá uma rasteira
    Resenha: Tainted Grail, uma pérola no mar de boardgames
    Resenha: Abomination: The Heir of Frankenstein
    "Preconceito" e boardgames
    Resenha: Tzolk'in
    LUDOSTORE
    R$ 400,00 (no boleto)

    Comentários:

  • Sou tão viciado na série de jogos que não tive coragem de testar esse jogo.


    Saber ainda de tantos detalhes negativos só desmotivam mais.


    Fallout 4 é um ícone dos jogos para mim e, pensar em como transportar qualquer sentimento do jogo para o tabuleiro me parece tarefa difícil.


    Bom texto meu caro!


    Abraços!

    4

  • Sinceramente, me pareceu mais que vc estava com espectativas erradas do que com o jogo ser propriamente decepcionante. 

    A impressão do meu grupo Aqui sobre o jogo foi outra.

    6

  • Que decepção! Estava disposto a comprar esse jogo mesmo com as falas negativas pois sempre havia alguém dizendo que gostou. Sua análise foi determinística para tirá-lo da minha wishlist.

    1

  • Talvez eu esteja mais acostumado com Eldritch em que a sorte é mais presente ainda, mas no caso de Fallout, é possível encontrar tanta forma de ganhar rerrolagem e tempo para programar as ações, que morrer parece ser mais despreparo que azar. Você pode perder mais tempo evitando radiação e fugindo de inimigos poderosos ou tentar cortar caminho e arriscar. Se morrer, bom, os inimigos são difíceis pra matar mesmo. Meu incômodo com esse jogo é mais pelo conteúdo das cartas de agendas e, inicialmente, com essa parte da narrativa ser a mesma para todos, mas essa é mais uma incoerência narrativa do que problema mecânico. O combate é bom, simples e rápido, deixando mais tempos para aproveitar os encontros dos ermos. Fallout tem seus problemas, mas tem seu público certo. Eu não jogo certos tipos para vencer, ainda mais quando a diversão é descobrir as histórias e possibilidades que o mundo oferece. É isso que precisa ser sentido nele. 

    Sobre essa parte das house rules, é verdade, ajudam sim. Traduzi o mod de um usuário do BGG chamado Nerdook, é um conjunto de cartas alternativas para as cartas de estratégias e novas cartas de exploração. Não subi os arquivos ainda porque não tive tempo de fazer as correções mais pesadas e por estar criando cartas de estratégia diferentes com objetivos mais interessantes do que fazer determinada facção subir. Aproveitei para criar umas missões secundárias, só falta passar um pouco o abuso pra revisar, porque estão prontas também. Inclusive, vou aproveitar e subir logo a tradução para a variante do Hitotsumami. 

    6

  • concordo com quase tudo que você disse. mas ainda acho o jogo simpático. porém, ele é um jogo pra ser jogado solo.

    4

  • Muito estranha sua postagem. Havia tido uma partida que deixou alguns amigos doidos com o jogo até me convidarem. Joguei com eles, achei tão legal que já marcamos a segunda temporada . Todos gostaram .

    3

  • Animoita::Sinceramente, me pareceu mais que vc estava com espectativas erradas do que com o jogo ser propriamente decepcionante. 

    A impressão do meu grupo Aqui sobre o jogo foi outra.

    Sua opinião está equivocada, meu caro. Tinhas expectativas até baixas para esse jogo devido a quantidade de reviews negativos em relação a ele.
    Que bom que a impressão do jogo pro seu grupo foi outra, mas aqui foi isso o que eu coloquei. Para mim o jogo é decepcionante sim pelos motivos que escrevi no review. Honestamente achei o jogo bem pouco divertido - com exceções de algumas histórias genuinamente engraçadas - e mecanicamente falando bem fraco. Talismã é um jogo nessa vibe que, pra mim, entrega muito mais diversão e com mecânicas muito mais ultrapassadas, por exemplo. Abs

    1

  • Beto::Muito estranha sua postagem. Havia tido uma partida que deixou alguns amigos doidos com o jogo até me convidarem. Joguei com eles, achei tão legal que já marcamos a segunda temporada . Todos gostaram .

    Estranha por qual motivo exatamente? Não é porque agradou o seu grupo que irá agradar a todos. Repare que na minha postagem eu argumento os porquês do jogo não ter sido bem recebido aqui, não saí simplesmente cuspindo marimbondos e dizendo que o jogo é ruim. Não vejo o pq da postagem ser estranha, honestamente

    1

  • edeodato::
    Sou tão viciado na série de jogos que não tive coragem de testar esse jogo.


    Saber ainda de tantos detalhes negativos só desmotivam mais.


    Fallout 4 é um ícone dos jogos para mim e, pensar em como transportar qualquer sentimento do jogo para o tabuleiro me parece tarefa difícil.


    Bom texto meu caro!


    Abraços!


    Obrigado, @edeodato! Eu sequer sou fã da série. Acredito que pra quem seja, seja uma experiência ainda menos divertida.
    Todo jogo tem seu público, obviamente, mas eu claramente não sou o público desse jogo e arrisco dizer pelas nossas interações aqui e pelo que vejo você postar que você também não é - ainda mais sendo fã da série.
    Abraço!

    1
Responder
Fallout - Resenha: Fallout, uma oportunidade desperdiçada

Este site utiliza cookies, conforme explicado em nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concorda com as condições.