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Nusfjord solo - joguinho do Uwe nunca é demais

  • “Sou um obsessivo e houve alguém que me chamou de ‘flor de obsessão’. Exato, exato, e graças a Deus.

    O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões.”

    Nelson Rodrigues

     
    Um homem não é nada sem suas obsessões. No meu caso, me sinto como o cara do 50 Shades of Grey: tenho gostos particulares. Não é BDSM, não estou falando disso. Esse é um portal sério! Falo da jogografia (não sei se existe isso, mas agora existe) do Uwe Rosenberg. Tamanha minha insanidade, que já fiz um review do Agricola (link) e reviews rápidos da maioria dos jogos dele que possuem modos solo (parte 1, parte 2). Não cheguei a ir atrás do Bohnanza e dos joguinhos pequenos, mas os de caixa grande, à exceção do recém lançado Nova Luna, estão todos em minhas prateleiras.
     
    Hoje trago um review do modo solo de Nusfjord, lançado em 2017, pela Lookout Games e Mayfair. Trata-se de um jogo no qual representamos os proprietários de companhias de pescadores em Nusfjord, no arquipélago de Lofoten, no norte da Noruega. Através de mecânicas que são muito familiares aos demais jogos do Uwe, como alocação de trabalhadores, gestão/conversão de recursos e cartas que modificam ações, você desenvolve sua companhia aumentando a capacidade de pesca, ergue construções e, finalmente, faz dinheiro.
     
    Durante toda a partida, cada jogador possui somente 3 trabalhadores, que são alocados em poucos espaços em um tabuleiro de ações central. Assim como os espaços, os principais recursos (madeira, peixes e ouro) também são bastante escassos, de modo que cada ação deve ser milimetricamente calculada para que você possa maximizar seu efeito. Durante a partida, você consegue construir navios que aumentam a quantidade de peixes que você é capaz de pescar turno a turno, além de construir prédios que lhe dão bônus variados, sejam eles imediatos, sejam eles desencadeados por ações específicas ou pontos de fim de partida. 

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/9caa3_6ao0e8.jpg

    Setup do jogo solo, utilizando a mini-expansão Plaice Deck.

     
    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/976e7_6ao0e8.jpg

    Player board com as peças do jogador.



    Considerando-se que o jogo possui uma baixa interação entre os jogadores, seu modo solo como um beat your own score, é bastante semelhante ao jogo multiplayer. Esse jogo usa um artifício que foi adotado no Um Banquete a Odin, de 2016, no qual você usa duas cores de trabalhadores, sendo que uma delas sempre permanecerá no tabuleiro bloqueando as ações a rodada anterior. Isso dá uma dimensão bastante interessante ao espaço de decisão, pois você precisa planejar bem a sequência em que irá realizar cada ação. 

    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/f43ac_6ao0e8.jpg

    Tabuleiro de ações ao final do segundo round, com as peças azuis e vermelhas.


    https://ludopedia-posts.nyc3.cdn.digitaloceanspaces.com/ae17b_6ao0e8.jpg

    Esse pequeno tile, utilizado na versão básica do modo solo, nos lembra qual a cor das peças a ser usada naquele round e o momento de serem reveladas as cartas do deck C.

     
    É um jogo que possui bastante variabilidade, esta determinada no setup a partir das cartas disponíveis na oferta, o que faz com que as partidas sejam bastante diferentes entre si. O jogo base possui 3 decks, sendo que há mais um disponível por meio de uma pequena expansão, que é essa que eu utilizei para as fotos. Durante a partida não há variabilidade alguma que interfira com suas decisões, tudo é bem determinístico. Essa variabilidade toda é um ponto muito positivo e faz, a meu ver, com que o fato de ele ser um beat your own score não me pareça ser problema – a variedade faz dele um puzzle sempre fresco, sem resposta fechada.
     
    Um problema frequentemente suscitado a respeito de Nusfjord é que as cartas C de cada deck, que são justamente as que trazem as maiores possibilidades de pontuação ao fim da partida, são reveladas nos turnos 4 e 6, o que faz com que a estratégia adotada até estes pontos não resulte em grande benefício em termos de pontuação de fim de jogo. Pessoalmente, isso não chegou a me incomodar em momento nenhum. Segundo o manual, pontuações entre 30 e 40 são consideradas adequadas, e eu tenho ficado nessa faixa na maioria de minhas partidas, o que me faz crer que é muito mais importante criar, entre os turnos 1 e 3, uma máquina que funcione bem e seja flexível o suficiente para que você consiga se adaptar às cartas que de fato irão lhe dar muitos pontos no fim da partida.
     
    Há algumas opções a mais para o jogo solo, como a variante avançada, na qual você joga com 3 cores, ao invés de duas, e um modo campanha de 3 partidas com um mesmo deck.
     
    Nusfjord é um euro médio clássico, com mecânicas simples, mas muito estratégico e com boas opções táticas. É daqueles jogos angustiantes, mas recompensadores. No caso da jogografia do Uwe, esse é um jogo que refina e adapta muitos dos mecanismos que a gente vê nos demais jogos dele. Foi muito confortável jogar e é um jogo que, como é relativamente rápido e com setup simples, sempre vê mesa aqui em casa. É daqueles que relaxa muito mais do que cansa.
     
    Como ele não possui tantas ações e a árvore de decisões não é tão complicada, acredito que ele possa servir como opção a jogos como Viticulture Essential Edition, Euphoria e Arquitetos do Reino Ocidental como aquele jogo um pouco acima do peso pena para quem está começando a jogar e está interessado em algo mais encorpado.
     
    Fiz os reviews rápidos dos jogos do Uwe, mas confesso que estou sentindo falta de textos mais detalhados a respeito deles. Devo revê-los um a um ao longo do ano, se tudo der certo!
     
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    Comentários:

  • Ótima resenha. Esse é um jogo que a Ludofy prometeu trazer e caiu no limbo.
    No BGG aparece inclusive uma não existente versão lançada da Ludofy em 2018...

    2

  • Joguei a primeira vez e achei bem interessante. Um euro leve, de entrada.


    Joguei a segunda vez e achei mais do mesmo. Joguei a terceira vez e desisti.


    Achei o jogo muito sem graça, uma versão Agrícola para iniciantes com temática de pesca. Vendi sem dó.


    Não cheguei ao solo.


    Abraços!

    2

  • EdgarWZ::Ótima resenha. Esse é um jogo que a Ludofy prometeu trazer e caiu no limbo.
    No BGG aparece inclusive uma não existente versão lançada da Ludofy em 2018...

    Tive a oportunidade de comprá-lo ano passado e não comprei justamente por isso.
    Foda.

    A propósito, curte o At the Gates of Loyang?

    1

  • Ótimo texto!
    Diz aí, você não acha que o Uwe se cópia e se repete muito? Às vezes, tenho a sensação de que ele tem vários jogos extremamente próximos entre si.
    Mera sensação mesmo, porque não joguei tanta coisa assim dele. Mas Reykholt, por exemplo, também é descrito por muita gente como "um Agricola leve".
    Abcs!

    1

  • EdgarWZ::Ótima resenha. Esse é um jogo que a Ludofy prometeu trazer e caiu no limbo.
    No BGG aparece inclusive uma não existente versão lançada da Ludofy em 2018...


    Sem querer ser pessimista, não acredito que venha. É um título que não fez lá tanto sucesso e, para o estado atual do mercado no Brasil, não acho que acrescente muito. Venderia algumas cópias, mas não seria um bom investimento, imagino.

    Não estou dizendo que seja um jogo ruim, de modo algum, mas acho um produto inadequado para esse momento.

    0

  • edeodato::
    Joguei a primeira vez e achei bem interessante. Um euro leve, de entrada.


    Joguei a segunda vez e achei mais do mesmo. Joguei a terceira vez e desisti.


    Achei o jogo muito sem graça, uma versão Agrícola para iniciantes com temática de pesca. Vendi sem dó.


    Não cheguei ao solo.


    Abraços!



    De fato é um jogo bem leve do catálogo do Uwe, com peso inferior à maioria dos grandes sucessos dele. Fica mais ou menos ali no nível de peso do Reykholt. O solo dele é, sem dúvida, um dos mais interessantes dos jogos de alocação do Uwe, mas fica no espectro mais leve deles.

    Não acho que seja um jogo sem graça, tem muitas opções, mas pode frustrar quem espera um jogo mais encorpado.

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  • mabsousa::
    EdgarWZ::Ótima resenha. Esse é um jogo que a Ludofy prometeu trazer e caiu no limbo.
    No BGG aparece inclusive uma não existente versão lançada da Ludofy em 2018...

    Tive a oportunidade de comprá-lo ano passado e não comprei justamente por isso.
    Foda.

    A propósito, curte o At the Gates of Loyang?


    Obrigado pela leitura! Adoro o Loyang, farei um review completo dele em breve. Foi um jogo que me deu muito trabalho para conseguir porque comprei naquela época entre os reprints.

    0

  • Guilherme.felga::
    edeodato::
    Joguei a primeira vez e achei bem interessante. Um euro leve, de entrada.


    Joguei a segunda vez e achei mais do mesmo. Joguei a terceira vez e desisti.


    Achei o jogo muito sem graça, uma versão Agrícola para iniciantes com temática de pesca. Vendi sem dó.


    Não cheguei ao solo.


    Abraços!



    De fato é um jogo bem leve do catálogo do Uwe, com peso inferior à maioria dos grandes sucessos dele. Fica mais ou menos ali no nível de peso do Reykholt. O solo dele é, sem dúvida, um dos mais interessantes dos jogos de alocação do Uwe, mas fica no espectro mais leve deles.

    Não acho que seja um jogo sem graça, tem muitas opções, mas pode frustrar quem espera um jogo mais encorpado.

    Boa Guilherme, justamente isso que queria falar e não fui claro.

    O jogo é legalzinho, mas não é encorpado como outros do Uwe. Com certeza quem gosta de gateways ou euros leves vai gostar bastante.

    Abraços!

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  • RFreitas::Ótimo texto!
    Diz aí, você não acha que o Uwe se cópia e se repete muito? Às vezes, tenho a sensação de que ele tem vários jogos extremamente próximos entre si.
    Mera sensação mesmo, porque não joguei tanta coisa assim dele. Mas Reykholt, por exemplo, também é descrito por muita gente como "um Agricola leve".
    Abcs!


    Valeu pelo comentário!

    Uwe é um cara de evolução, não de revolução. Seus jogos tem mecanismos parecidos, mas tenho a sensação de que ele vai acrescentado e modificando pequenas partes ao longo do tempo. Nos dois textos que fiz com reviews curtos do catálogo dele frisei bastante essa questão. Recomendo a leitura dos dois, que estão linkados no texto aqui.

    O Reykholt, por exemplo, está bem mais para Loyang do que Agricola, mas trás algumas coisas diferentes, principalmente o modo história e os decks diferentes.

    Acho que isso é uma tendência de alguns autores. Se você olhar jogos do Pfister, Luciani, eles também tem bastante coisas em comum. O Feld é um dos que mais perverte a regra, mas não está entre os que eu mais gosto.

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