Fonte: Boardgamegeek.com (Awaken Realms)
Estou jogando Tainted Grail com minha esposa e também uma campanha Solo. Saliento aqui que não sou designer de jogos, as opiniões são pessoais e com influência do meu histórico profissional. Quero tentar fazer uma análise que vai ajudar não somente jogadores que queiram comprar o jogo futuramente, mas também designers ou editoras que tenham intenção de ler.
Tainted Grail (TG) foi um jogo publicado pela Awaken Realms (AR) utilizando campanha de crowdfunding (Kickstarter) em 2018. Agora em 2019 eles fizeram a entrega da primeira parte do jogo e planejam realizar a entrega do restante (expansões) em julho ou agosto de 2020. Acompanhei o jogo durante desenvolvimento e é um dos projetos que tenho esperado chegar faz um bom tempo, tanto pelo tema, como pela mecânica e a empresa que estava publicando. Mas vamos lá ao que importa.
CAMPANHA E PRODUÇÃO:
Tainted Grail foi um dos projetos que melhor acompanhei os detalhes, tanto na questão do pré-engajamento e evolução de produto como também engajamento durante/pós campanha. Não porque eu fiz pledge do jogo, mas sim por que considero a AR uma empresa ambiciosa em termos de produção. O nível de engajamento e relacionamento que eles criam com seu público lhe permite não somente adquirir informação fina para aprimoramento de seus produtos, mas também lhe permite evoluir o desenvolvimento ao ponto que o consumidor realmente se engaja na campanha e se sente inserido no produto final. Bato palmas para a AR durante o Tainted Grail, mas também em campanhas posteriores que vieram e virão.
O maior exemplo desse engajamento que influenciou na produção foi como o público ajudou a empresa a evoluir o sistema de conflito (Seja combate ou diplomacia), tornando mais fluido, curto e objetivo. Comparando o antes e o agora eu vejo como essas opiniões ouvidas tornaram um conflito que duraria 20-30 min, em algo de 10 min no máximo.
A caixa e os componentes do jogos são todos de ótima qualidade, não tem do que reclamar. Tudo muito bem produzido e entregue alinhado com o insert personalizado para o jogo, já com espaços definidos para cada personagem e seus respectivos materiais guardados durante o SAVEGAME. Sim, o jogo vem com possibilidade de SALVAR.
O visual do jogo é espetacular. Fiquei impressionado com o nível de detalhes das ilustrações no mapa, como também de cada criatura ou item incluso no jogo. A forma como mapa se conecta e se modifica de acordo com suas decisões. Sim, existem momentos que uma parte do mapa está em perfeitas condições e de repente, baseado em algo que você fez (ou não fez), algo aconteceu e aquela parte do mapa se altera.
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Fonte: Boardgamegeek.com (Chrino)
Se eu fosse colocar 1 ou 2 pontos negativos na produção, mas que não são tão negativos, é o tamanho da miniatura dos Menhirs e o disco que age como timer do jogo. Achei grande demais a miniatura do Menhir, poderia ser metade do tamanho e não atrapalha tanto a visualização do mapa, e o disco eles deviam ter utilizado uma fonte de melhor visualização para os números que estão inscritos. Como eu disse, é um negativo, mas não é tanto. (duh)
REGRAS
Em termos de regras e como ela são absorvidas. Achei tudo muito simples e objetivo. Não existem tantas exceções e pouquíssimas vezes o jogo é interrompido para fazer conferências. Tudo ficou muito fácil de absorver e lógico de concluir em caso de dúvida. Logo, memorizar se torna natural. Uma das decisões mais sábias que a AR tem feito em seus jogos é incluir missão introdutória para aprendizado. Isso é espetacular e gera o “Aprender jogando”, óbvio que não é tudo, mas sim, você já pode começar a jogar e devagar vai absorvendo os detalhes naturalmente. De quebra, a aventura introdutória realmente lhe insere nos eventos de forma muito sutil.
Meu ponto negativo na questão das regras. Durante nossas sessões notamos que o jogo não estava fluido suficiente e que determinadas situações, pré-requisitos ou regras foram criadas para basicamente controlar a velocidade do jogo, tornando CANSATIVO. O que era para ser um jogo de 45 horas, me parece que eles inseriram esses pontos para esticar para um jogo de 60 horas. As regras específicas são como adquirir COMIDA e ATIVAR os Menhirs. Achei limitada a lógica de como adquirir comida e como eles criaram o sistema que progride o custo de ativação dos Menhirs. Metade do tempo em um capítulo era concentrado apenas nestas 2 ações, senão nada andava. O jogo parecia tão cansativo que quase desistimos no 2o capítulo (estávamos bem, ganhando etc, mas o jogo estava lento demais). Foi daí que sentamos e fizemos algumas alterações que não influenciam no storyline, mas tornou o jogo mais realista dentro da nossa necessidade. Paz novamente.
GAMEPLAY
Apesar dos comentários acima, TG entrega um jogo com uma história extremamente envolvente e rica. Preenchida com tantos detalhes, que se envolver é simplesmente natural. Talvez esse nível de envolvimento seja diferente dependendo de como você tem apreço pelo tema ou não, mas a forma como a AR linkou o desenvolvimento do seu personagem, as decisões tomadas e em como elas lhe dão status, e em como esse status tem poder no desenrolar. Eu achei fabuloso.
A forma como os decks de combate e diplomacia são utilizados, e em como eles são interligados com a evolução do personagem, tornou o deckbuilding dentro do TG algo crucial, e ao mesmo tempo secundário. Em vários momentos quando você vai utilizar seus pontos de experiência você se vê pensando se prefere tornar seu deck “melhor” para os futuros conflitos ou se prefere desenvolver seu personagem para melhor interagir na história (Sim, o que você adquire para seu personagem vai alterar como o mundo interage com você na história).
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Fonte: Boardgamegeek.com (Awaken Realms)
Outro ponto interessante é o conceito de GRUPO (Party) no jogo. A decisão de estar junto não é tão simples, afinal, na maioria das vezes maior o grupo, mais efetivas as ações. Os momentos decisórios em se separar para conquistar mais ou se manter juntos, é bem difícil. Não é só uma questão de combate ou diplomacia, o que cada personagem faz e como ele influencia a história no livro de aventuras pode mudar completamente o curso das coisas. Determinados personagens podem ter mais empatia e gerar certos resultados, outros sem tanta empatia, podem simplesmente não gerar resultado algum e aquele momento já passou.
A Awaken Realms foi extremamente sábia quando decidiu contratar um escritor para desenvolver a história. Tendo um profissional com experiência em fantasia e escrita deu a eles a possibilidade e desenvolver um produto extremamente eficiente quando falando de mitologia, cultura e desenvolvimento de personagens. Krzysztof Piskorski temperou Tainted Grail com detalhes que permitem o jogador naturalmente se prender a história, mas principalmente, se inserir no mundo e desejar evoluir seu personagem não para “ganhar” o jogo ou ser o melhor, mas sim para fazer parte de forma que influencie e deixe sua marca. Um exemplo foi a preocupação da empresa em enviar junto com cada personagem uma carta introdutória onde ele é apresentado ao jogador, lhe dando um apresentação e norte de como “interpretar” e se direcionar na história. Iniciando a partir dali sua jornada.
Fonte: Boardgamegeek.com (Asia_onTable)
Os eventos paralelos dentro da ilha de Avalon, tudo que você vai encontrando em sua jornada, em outros jogos parecem como “Objetivos paralelos” de pouca importância para ganhar itens ou experiência, em Tainted Grail, Krzysztof Piskorski e Awaken Realms semearam a história com detalhes que tornam alguma caminhos únicos exatamente por que seu personagem está lá.
OPINIÃO FINAL
Bem, rapidamente Tainted Grail ganhou espaço em nossos horários disponíveis. Inicialmente estava criando um certo problema, mas como tudo na vida temos que lapidar para adequar a nossa realidade e tornar ela o mais saudável possível. O importante é satisfação durante o jogo.
Em termos de produto, Tainted Grail é de extrema qualidade. Diria que produção de ponta, tudo que você quer em um jogo de aventura, ele vai ter. Vai ter qualidade ao tato, qualidade visual, de componentes, de desenvolvimento técnico e em termos de ficção. É um jogo de fácil aprendizado, mas cheio de decisões difíceis. Sim, durante o jogo não será fácil vencer, mas o puzzle está lá e caso você consiga se programar e entender as demandas e deficiências do seu personagem, o jogo vai fluir.
Creio que hoje Tainted Grail é a melhor experiência que tive com board games que utilizam LIVROS DE AVENTURA, e ainda nem estou na metade do jogo. Não diria que é um jogo LEGACY, ele tem histórias, mas como disse anteriormente, elas se alteram dependendo de qual for seu personagem e em como você o evolui.
Algum tempo atrás eu estava conversando com o LPP (Red Meeple), que está esperando a cópia dele chegar. Ele me perguntou se valia a pena já começar a jogar TG em paralelo com outro jogos de mesmo estilo que ele tem. Eu acho que SIM, mas acho que o jogador tem que saber EMERGIR e não tratar o jogo como um número ou uma corrida para dizer que acabou. É um jogo bem rico e envolvente, se você não estiver imerso, vai se tornar apenas uma experiência linear e mecânica, o que não recomendo, já que TG ainda tem muita história por vir com as várias expansões.
Abraço grande. Se gostou, segue o canal no Youtube, deixa aquele like nos vídeos. Tem video mostrando componentes, regras e gameplay.
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