Quanto vale um jogo?
2019 ainda não acabou mas já consigo dizer que foi um excelente ano. Muitos jogos bacanas foram lançados, o que é uma notícia boa, mas que sempre traz aquela ansiedade sobre o que jogar, o que inserir na coleção, etc... Alguns vieram tímidos sem muita hype e chegaram surpreendendo demais como o excelente Taverns of Thiefenthal e o meu top 2 do ano Pipeline (KS que ninguém entrou pois estavam focados no Barrage) outros já chegaram com muita Hype como Batman, Joan of Arc, Cooper Island, Maracaibo, Trismegistus, Black Angel, Barrage (apesar do hate junto), entre tantos que poderia citar aqui, mas nenhum conseguiu causar tanta euforia no cenário quanto Tapestry.
Até aqui nenhuma novidade. Sou muito fã da Stonemaier principalmente pela forma que trabalha seu portfólio de produtos. Num mercado tão amador e caótico como o de board games, eles para mim são a grande referência em termos de marketing, construção de produto e modelo de vendas. Independentemente da qualidade de seus jogos, sempre estão atraindo os holofotes e colhendo bons resultados, com uma receita de bolo que parece simples mas que precisa ser bem executada. Jogos com alta produção, acessíveis a maior parte do público em termos de peso, com fator diversão alto (agradáveis de jogar) e com um portfólio de expansões já programados. KUDOS Jamey Stegmaier.
O problema é que essa equação tem um preço e não é barata. E num ano onde temos tantos jogos bons, a discussão do custo benefício pode se tornar um pouco mais obejtiva do que costuma ser.
O valor de um jogo é algo que varia muito de comprador para comprador, Ele pode estar intrínseco à produção do jogo, a rejogabilidade dele, à raridade que agrega a coleção, entre tantos outros fatores. E não tem resposta ou equação correta, é algo individual e subjetivo. Ainda assim, pelo menos eu particularmente, consigo enxergar o motivo pelo qual estou pagando mais em um jogo. E o que Tapestry fez e me deixou intrigado, desde as primeiras vezes que joguei há meses atrás, foi criar uma grande dúvida na minha cabeça: Esse jogo vale o quanto se pede nele?
Tapestry - Um jogo de Civilização
Indo direto a resposta: Provavelmente sim, para muitos. Para mim? Absolutamente não. O porquê passa por vários aspectos, inclusive a concorrência de excelentes lançamentos, mas por enquanto, vamos focar sobre que experiência Tapestry traz.
De forma muito resumida,Tapestry é um engine building simples e seco, um jogo legal apesar de genérico com um gameplay bem dinâmico que traz pontuações e combos constantes . Muito distante do seu subtítulo, Tapestry não é o que eu poderia categorizar como um jogo de civilização. Apesar disso não ser um problema para mim, temos pouquíssimos desse gênero aliás, parte da nossa expectativa acaba passeando por esse terreno. Principalmente quando se resolve definir o gênero no título do próprio jogo de forma tão imperativa.
Até porque a construção de gênero em Euros é realmente um grande desafio. Ainda maior que a implementação de um tema. E em Tapestry isso para mim veio de forma quase atrapalhada. Os elementos de civilização estão ali. Desde a história através das tapeçarias até as tecnologias que se desenvolve, no entanto, nada, absolutamente nada faz sentido. Nada está interligado ou gera imersão, e talvez seja o único jogo de civilização que você consiga conquistar o espaço sem ao menos descobrir a astronomia e computadores, ou coisas nesse sentido. O tema não se cola nem na evolução do seu engine. Uma das melhores definições que vi sobre esse assunto com relação a Tapestry, foi a de que se Tapestry fosse um filme de WESTERN ele seria Aliens x Cowboys!!! Que basicamente, não é bem um filme de western rs...
Sobre o que se trata Tapestry então?
A completa ausência do tema no entanto, não estraga o fator de diversão do jogo. Isso, porque a maioria das mecânicas para construção do seu engine são extremamente fluidas e funcionais. Essas sim estão bem interligadas.
O Jogo é basicamente um gerenciamento de income de recursos (através da construção de estruturas em um excelente quebra cabeça no seu playerboard de capital) e otimização no avanço de quatro trilhas. A ordem e timing que você distribui esses avanços nessas trilhas, é o que lhe permite construir combos com suas cartas de tecnologia e outros elementos de jogo e jogadas grandiosas.
As quatro trilhas se dividem em: exploração que permite colocar mais tiles no mapa, militar que espalha sua civilização por esses tiles, a tecnologia que permite obter as cartas de invenção e a de ciência que ajuda a subir nas 3 trilhas anteriores. Novamente, apesar de simples, a interação desse quebra cabeça é muito fluida e satisfatória. E possíveis estratégias de como evoluir da melhor forma nessas quatro trilhas podem ser direcionadas pelo poder assimétrico de sua facção.
O Jogo tem 16 facções, e pude ver 11 delas funcionando (joguei com 6 diferentes). Não percebi nenhum desequilíbrio com relação a elas, nem mesmo a futuristas que muitos já apareceram reclamando. Mas também não percebi nenhuma diferença substancial que dê vontade de se especializar em algumas ou sair explorando todas. É um elemento bacana do jogo e que provavelmente aumentará com lançamentos futuras expansões, mas sem tanta profundidade ao ponto de gerar uma personalidade e estratégia para cada uma das tribos.
Tapeçarias - O título anuncia outro problema:
O que realmente me deixou com um gosto de guarda chuva na boca, foram as tais cartas de tapeçarias. Isso porque elas entre si são bem desbalanceadas e como não há sequer um draft inicial, toda suas estratégia pode ser prejudicada pela aleatoriedade que elas trazem em vez de ajudarem.
No início de cada round os jogadores baixam uma das cartas de tapeçaria de sua mão, que podem lhes fornecer bonus ou pontos imediatos ou poderes passivos durante o jogo ou aquela determinada rodada. No entanto, a maioria de seus poderes são situacionais, então, o problema não é nem o desequilíbrio entre as cartas, mas sim o timing, ou a falta dele, para que você possa mitigar essa aleatoriedade do saque de forma mais eficiente. Por exemplo, há cartas absurdamente fortes para um início de jogo que podem se tornar inúteis se forem compradas só no fim.
Percebi em algumas partidas, que o saque dessas tapeçarias foi absolutamente determinante para a vitória ou fracasso de algum jogador. E aí lá se vai pelo ralo qualquer tentativa de jogo mais estratégico.
Conclusão:
Após 6 partidas, fica a impressão de um engine building genérico e divertido, que entrega mais hype que jogo. A linda produção é o único suspiro de tema que se pode ter nesse "jogo de civilização" que fora isso, é praticamente um exercício abstrato de combinar a melhor sequência de progresso nas diferentes trilhas, aproveitando ao máximo os poderes que a sua civilização oferece.
Ainda assim, é uma opção bem divertida e com uma boa dose de rejogabilidade, prejudicada principalmente pelo fator sorte no draft das tapeçarias e na impoissibilidade de gerenciar melhor essa mão, que podem se tornar decisivas em algumas partidas, tornando o sucesso ou fracasso de qualquer estratégia algo extremamente situacional.
A grande questão de Tapestry que fica então, é se vale quanto pesa. Mas isso é muito pessoal. Para mim, num ano como 2019, onde competiu em preço e espaço com tantos outros jogos legais, acabou ficando bem distante da minha coleção.
************************************************************************************************************************************

Para acompanhar futuras resenhas é só se inscrever no
canal aqui da ludopedia, e se quiserem saber o que tem visto mesa com mini reviews, segue lá no instagram
@
area21_bg
Outras análises do Canal
Barrage - Interação Cruel é Genial
Pipeline - Difícil de jogar, fácil de gostar
Escape Plan - Clank para adultos?
Calimala - O Italiano com cara de alemão
Anachrony - O Worker Placement Gourmet
Everdell - Só mais uma árvore bonitinha na mesa?
Dinosaur Island - Um Euro que valoriza mais o tema que as mecânicas
Wendake - Programa de índio ou ilustre desconhecido?
Endeavor - A referência de elegância nos Board Games
Carpe Diem - Aproveite o dia e faça pontos
Arquitetos do Reino Ocidental - Inovar é suficiente?
Ceylon - Um jogo sobre Chá, Timing e Escolhas