A votação para o Top 100 de Jogos Solo da 1 Player Guild Brasil já está valendo! Por favor confira a postagem e não deixe de submeter seus votos conforme as regras ali explicadas.
A minha intenção hoje não é falar de
Great Western Trail (GWT) em si. Ele está no décimo primeiro lugar no ranking do BGG e em terceiro lugar no ranking da Ludopedia. O que pode ser dito que já não foi dito por alguém e de forma melhor do que sou capaz de fazê-lo? É um baita jogo, não há a mínima dúvida. Um monte de coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas elas todas fazem sentido e parecem se encaixar com perfeição. É uma das grandes obras primas do nosso tempo. Depois de bons lançamentos, como
Mombasa,
Oh My Goods!, GWT alçou Alexander Pfister ao status de grande designer. Enfim, estou chovendo no molhado e fazendo algo que disse há pouco que não iria fazer.
Não havia me interessado por ele de cara. Embora tenha acompanhado de longe as críticas positivas a seu respeito, o fato de não ter modo solo e, mais do que isso, nenhum de meus amigos tê-lo comprado, fez com que eu mal tivesse visto esse jogo.
Todavia, há algum tempo atrás, meu interesse foi despertado por uma postagem do
red_djow, pelo canal Spiel des Djows. Sim, haviam duas variantes solo disponíveis e muito bem avaliadas pela comunidade! Embora eu não seja um grande entusiasta de modos solo não oficiais, alguns deles são de fato muito bons, como o do
7 Wonders Duel, o do
Trajan e um ótimo automa para
Terra Mystica, inspirado pelo do
Projeto Gaia. Eu não mantenho em minha coleção jogos sem modos solo oficiais, mas esses foram três que ficaram.
A primeira, Brisco, criado por Wil Gerken, baseava-se nos preceitos da Automa Approach, do Morten Monrad Pedersen, criador da Automa Factory. É um automa simples, que visa dar jogabilidade solo ao GWT com diferentes níveis de dificuldade. O segundo, Garth, foi criado por Steve Schlepphorst como uma proposta de ser uma versão aprimorada de Brisco, que dava algum grau de especialização ao adversário automatizado. Esse automa ficou tão bem feito que o próprio Steve depois foi convidado para criar o modo solo de
Gùgōng. Li as regras do jogo e dos automas, assisti a dois vídeos (
link 1,
link 2) e fiquei ainda mais intrigado. Após muito tempo de espreita nos anúncios da Ludopedia, enfim consegui pegar uma cópia a um preço razoável. Antes mesmo de pegar o jogo diretamente das mãos do antigo proprietário, as cartas dos automas e seus manuais já haviam sido impressos.
Posto isso, farei uma série de postagens a respeito dos automas não oficiais para o GWT. Essa será a primeira, falando justamente do primeiro deles: Brisco.
Em termos de componentes não temos nada demais. O deck é composto por 14 cartas e sugiro que você imprima as duas páginas de regras para consulta nas primeiras partidas. Há um arquivo disponível na própria Ludopedia, mas, se o idioma não for o problema, há uma versão das cartas com a arte do jogo disponível no BGG (
link). Se você não quiser ter trabalho de imprimir nada, há também uma
versão digital do Brisco.
Cartas do automa Brisco impressas com a arte, conforme link do BGG.
O setup do jogo solo contra Brisco é idêntico ao setup de uma partida para dois jogadores. Brisco utilizará um playmat da cor que você selecionar para ele, mas não é tão importante que você posicione os discos de forma muito precisa. Só serão de fato importantes os dois discos que marcam a velocidade com que ele é capaz de se deslocar ao longo da trilha rumo a Kansas City. Fora isso, será necessário embaralhar o deck de cartas e dar a Brisco um dos objetivos iniciais. O deck de Brisco muda um pouco conforme o grau de dificuldade do jogo, você mantem ou remove uma ou duas cartas que fazem a movimentação dele ao longo da trilha.
Setup de Brisco para o jogo solo! Acima a carta de objetivo inicial, o deck do automa e, no saco preto, as construções dele para sorteio.
Visão ampliada com o setup para 2 jogadores. Eu fui de azul e Brisco de vermelho. Os tiles de construção foram posteriormente armazenados no saco preto que vocês viram acima.
De modo análogo ao que ocorre com o automa de Scythe, por exemplo, as regras do jogo são um pouco diferentes para Brisco. Entre outras pequenas coisas, ele não ganha e não usa dinheiro, a movimentação de sua locomotiva ocorre conforme determinado por suas cartas a despeito da quantidade de engenheiros que ele possua. Em geral, as regras desse modo solo são muito simples e fáceis de se compreender. Se você domina bem as regras do jogo normal, com uma leitura rápida será possível jogar sem nenhuma dificuldade.
No geral, minha experiência com Brisco foi boa! Confesso que gostei bastante! GWT é um jogo com moderada interação e, em geral, os pontos nos quais ela acontece são bem contemplados por esse simples deck de cartas. A dificuldade variará, sobretudo, em função da velocidade com que Brisco pressionará para o fim do jogo. Ademais, o automa não tem uma manutenção importante, não dá trabalho manejá-lo e isso não interfere muito com a experiência. Entre setup, jogar e guardar o jogo, acho que é possível jogar uma partida completa em pouco mais de uma hora.
Esse, todavia, é um trabalho amador, que se fosse melhor desenvolvido por uma editora e pessoas com experiência, certamente seria ainda melhor. Há alguns problemas com a redação e alguns pontos que visivelmente precisariam ser melhor trabalhados. No caso da movimentação do automa ao longo da trilha quando há um entroncamento, por exemplo, ainda que parametrizado, quem decide por ele é o jogador. Isso é um problema menor, fato, porque na maioria das vezes ele optará pelo caminho com as fichas de desastres, uma vez que não precisa pagar para se movimentar por ali. Quando Brisco chega a Kansas City e deve selecionar tiles para colocar no tabuleiro e no mercado, quem decide, novamente, é o jogador. O escalonamento de dificuldade também pode ser um problema. Se você tiver muita familiaridade com o jogo, pode ir direto para o modo difícil. O modo fácil é muito fácil e o normal é fácil. Embora isso se trate de uma impressão, não posso afirmar de forma categórica, creio ser possível “jogar” o automa, ou seja, é possível você mudar um pouco seu jogo e suas decisões para poder espremê-lo e conseguir uma vitória mais tranquila. Não identifiquei nenhuma estratégia invencível, nem nada disso, mas fiquei com essa sensação. Pode ser que eu esteja enganado.
Reitero que, para um trabalho amador, fiquei muito satisfeito com o que encontrei. É um belo feito de design para um jogo com decisões razoavelmente complexas. O criador foi capaz de remover tudo aquilo que não seria interessante e manteve a mais pura essência do que é necessário para a interação entre o jogador e o automa. Nitidamente há espaço para melhoria, mas isso fica para quando o próprio Pfister quiser desenvolver um modo solo próprio ou mesmo aprimorar um desses já existentes. Em suma, é um automa simples, funcional e que dá mais uma possibilidade a um ótimo jogo. Está recomendadissímo!
Em breve faço outra postagem falando sobre Garth. A última da série será uma comparação entre Brisco e Garth.
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E lembre-se: TOGETHER, WE GAME ALONE!