A Beleza dos econômicos
Se tem um tipo de jogo que me faz abrir mão de uma interação direta, competitiva e com a dose certa de agressividade, esse tipo é justamente os econômicos pesados. Isso porque eles permitem que você faça tudo isso consigo mesmo, o famoso “a natureza marca”. Além disso, quanto mais a economia do jogo é apertada, mais a competição pelo mercado se torna agressiva e consequentemente força sua capacidade de leitura das estratégias dos adversários substituindo a interação por uma forte marcação através das táticas competitivas que o mercado lhe oferece e da sua capacidade de maximizar as oportunidades em detrimento dos seus concorrentes.
Para quem não está familiarizado com a terminologia, jogos econômicos são aqueles onde os jogadores precisam desenvolver e gerenciar um sistema de produção, distribuição e comercialização de alguma coisa. Funcionam basicamente como uma simulação de algum tipo de mercado. E geralmente rendem ótimos títulos como Food Chain Magnate e Brass por exemplo.
Pipeline não é tão brilhante quanto esses dois, mas entra em um lugar de MUITO destaque nesse segmento de jogos. Como todo bom econômico, Pipeline é apertado, cruel, punitivo e não se incomoda em agradar ou ser equilibrado nas suas primeiras partidas. Joguei 4 vezes e uma unanimidade foi ver os novos jogadores fazerem um pontuação que era basicamente metade da vencedora.
Longo caminho em um espaço curto de tempo
O jogo nos coloca numa posição de novos empresários do ramo de petróleo, e para alcançarmos nossas fortunas, precisamos construir nossas refinarias, torná-las eficiente no processamento de óleo e sermos capazes de cumprir ordens e contratos, bem como maximizarmos nossas trocas comerciais nos mercados de compra e venda.
Tudo isso soa simples, mas o desafio começa quando entendemos a aridez do terreno que estamos entrando.
Para começar o jogo é dividido em 3 anos, sendo o primeiro com 8 turnos, o segundo com 6 e o terceiro com ridículos 4 e para agravar você tem basicamente UMA única ação por turno. Internalizem informação sobre a escassez de tempo e acompanhem comigo a matemática inicial do jogo (não esqueçam nunca, uma ação por turno).
Para construir sua empresa de Petróleo você precisará de matéria prima, ou seja, óleo cru. CADA Barril desse no início do jogo custará de $5 a $10 (isso se for o primeiro a comprar). Você também precisará de canos (tiles que formam o quebra cabeça da sua refinaria) e poderá copra-los num mercado privado gastando $15 para comprar 2 ou $40 para comprar 4, ou comprar canos usados de uma rede pública (caso esteja aberta e disponível) com um singelo desconto. Tanques para armazenar seus cubos variam de $5 a $15, sem contar com o investimento em tecnologia ($20) , e caso queira ter uma segunda ação no seu turno, pagar as horas extras para poder executar-la ($10)
Ou seja, para ter uma rede inicialmente funcional e minimamente produtiva você precisará de uns $70 a $100.
Acontece que para tirar a sua empresa do chão, você terá a módica quantia de $40. E lembrem-se, apenas uma ação por turno, que gera crises de ansiedade pois cada Barril que compram na sua frente, torna o valor maior, cada cano que pegam, tornam suas possibilidades de construção mais escassas, e com cada vez menos tempo.
Obviamente sempre haverá a opção do empréstimo, mas aqui as coisas não são tão simples também. O empréstimo rende apenas $15 e te dá uma penalidade sendo cobrado somente no final do jogo, sem chance de pagá-lo antes para reduzir os juros. Juros esses compostos, já que no primeiro empréstimo você está pagando aproximadamente 30% de juros e no quinto por exemplo (caso chegue a tanto) 400%.
Ação x Tempo x Recurso
Ou seja, o primeiro grande desafio de Pipeline, é conseguir gerenciar todo esses tipos de escassez: de ação, de tempo e de recurso para conseguir fazer o quanto antes, na frente de seus concorrentes, uma refinaria que possa produzir ao menos uns óleos vagabundos e te tirar de uma espiral negativa de gastar ação para fazer quase nada e sem ganhar dinheiro. E a primeira corrida é contra o
tempo, até porque todos os concorrentes estão com o mesmo foco
Uma única ação por turno é um grande gargalo, muitas vezes ela não será suficiente. O jogo permite que você execute uma ação secundária, adjacente a que você alocou seu trabalhado, para isso no entanto, terá que pagar hora extra ($10) diminuindo ainda mais seus recursos.
Conforme falei anteriormente, você compra canos para construir através de um quebra cabeça de tiles sua refinaria. São possíveis de se formar canos de 3 cores diferentes, e o comprimento deles vai definir a capacidade de refinamento de cada um, obviamente quanto mais refinado o óleo, maior o valor dele de mercado e maior a recompensa ao cumprir contratos. Porém, para fazer sua rede funcionar, você precisa alocar seu trabalhador em um tile que ativará os canos que passam por ele, custando assim uma ação. Ou seja, mais um gargalo.
E o que fazer para não precisar mais perder uma ação para refinar óleo? Automatizar sua refinaria, comprar máquinas ($20 no mínimo para a compra). Ao conectar canos na sua maquina, você passa a ativa-los no final do seu turno mas para isso, precisa pagar o custo dessa energia por $15, você ganha ação, mas perde recurso. Ainda assim, a automação da refinaria me parece um ponto de inflexão no jogo. Ou seja, dificilmente um jogador que não automatizou sua refinaria, vai conseguir ganhar a partida e isso pode dar a sensação que o jogo possui poucas estratégias, mas a variação de caminhos para ser bem sucedido nessa construção ideal de fábrica é bem grande. Automatizar sua refinaria é apenas o jeito necessário para otimizar sua produção. Até porque o jogo ainda tem 4 valuations (scores finais) que variam de partida pra partida.
O Investimento em tecnologia também é fundamental pra guiar a estratégia, e um fator importante de observação e bloqueio dos demais concorrentes.
Pipeline é um jogo difícil de dominar com um desafio que te faz querer jogar mais vezes para tentar táticas e planejamentos diferentes. O desafio de visão espacial do quebra-cabeça de montar seus canos mais a lógica matemática em otimizar tempo x ação x dinheiro em um mercado que oscila através do comportamento dos jogadores gera uma altíssima revogabilidade ao título. Apesar de não ser tão genial ou com a quantia cavalar de variações estratégicas de um Food Chain (para mim o melhor jogo que existe) Pipeline entra facilmente na briga de melhor jogo de 2019.
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